Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Revista Imprensa



COMUNICAÇÃO CORPORATIVA

Paulo Nassar

Nariz de Pinóquio: verdade ou mentira?

‘Os comunicadores falam tanto de ética em comunicação, que os ferreiros de todo o mundo têm procurado, cada vez mais fazer os seus espetos de ferro. Mesmo assim e paradoxalmente, em toda parte, a imagem dos comunicadores não anda muito bem. Às vezes, de tão ruim vira chacota. A Folha de S. Paulo, em 10 de dezembro, trouxe na sua importante página 2, uma charge na qual os fazedores da imagem dos outros foram representados pelo imortal Pinóquio, com um monumental nariz de mentiroso.

Por exemplo, vê-se no inquisitorial ambiente atual das CPIs, os publicitários em cena no fedorento teatro de negócios com outros mestres da mentira: os políticos. Mas não só eles. Entre os focalizados por denúncias, aqui e lá fora, estão também os relações-públicas. No Iraque, uma das principais agências de relações públicas do mundo, contratada pelo Pentágono, plantou notícias positivas a favor dos Estados Unidos. A manipulação de notícias não é novidade. No início do século XX, o pai das Relações Públicas, o jornalista Ivy Lee, com o objetivo de melhorar a imagem de seus clientes – como de John Rockefeller, por exemplo – fez a cabeça e também, segundo seus inimigos, os bolsos de mais de uma centena de jornais ianques. Cândido Teobaldo de Souza Andrade, em seu imperdível e atual livro Para Entender Relações Públicas, de 1962, lembra que na época de Lee surgiu a ‘orientação tapa-buraco ou fecha-boca’, ‘quando eram oferecidos magníficos empregos aos jornalistas, para que não atacassem as empresas e, ao mesmo tempo, as defendessem’.

Para não ficar apenas no plano dos acontecimentos dos bastidores dessas profissões, passo rapidamente para o ensaio e para a ficção, que parecem inspirar a realidade, e que consolidam na sociedade, a imagem ruim de jornalistas, relações-públicas e publicitários. Honoré de Balzac traça em Os Jornalistas (1843) um retrato definitivo de seres encontrados nas redações de sua época, e que ainda florescem nos dias de hoje, nas versões impressa e on-line. Entre os mísseis de Balzac, destaca-se uma reflexão que lembra inúmeras injustiças jornalísticas: ‘Para o jornalista, tudo o que é provável é verdadeiro’. Tom Wolfe mostra em seu A Fogueira das Vaidades (1987), como opera o jornalista decadente Peter Fallow, do hipotético The City Light, que arrebenta a reputação e a vida de Sherman McCoy, um rico operador da Bolsa de Valores. Casos brasileiros, como a Escola Base e outros, parecem profecias de Balzac e Wolfe. Os deuses têm mostrado os pés humanos e sujos do Jornalismo. Os estilhaços das mentiras da Guerra do Iraque respingaram em celebridades como Bob Woodward (‘Washington Post’) – co-autor das matérias que provocaram, em 1974, a renúncia de Nixon – e Judith Miller, do ‘The New York Times’, jornal combalido pelo inventor de matérias, Jason Blair, e pela falta de acurácia nas matérias sobre a existência de armas de destruição de Saddam Hussein. E no campo das Relações Públicas? Em um levantamento da norte-americana Karen S. Miller – citado no trabalho A Imagem dos relações-públicas diante da opinião pública, de Juliane Serra do Nascimento, sob orientação do professor Luiz Alberto Farias (ECA-USP) – chegou-se, a partir do estudo de filmes e livros lançados entre 1930 e 1995, a 202 relações-públicas, mostrados, na telona e no papel, como cínicos, manipuladores, invejosos, vazios, puxa-sacos, esnobes e mesquinhos, entre outras percepções nada lisonjeiras.

É claro que a maioria dos relações-públicas, jornalistas e publicitários está sendo injustiçada pela produção ficcional. Mas é bom relembrar a frase de Magritte, ao pintar um cachimbo, em 1929, tendo como tema a traição das imagens: ‘Ceci n’est pas une pipe’.’



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