O estado frágil de Ariel Sharon após derrame cerebral sofrido no início deste mês parece ter amolecido o coração da imprensa internacional. Pelo menos é o que afirma Tom Gross em artigo para o Jerusalem Post [10/1/06]. Comparações com Hitler e termos como ‘açougueiro’ e ‘criminoso de guerra’ foram substituídos por uma exposição mais humanizada do primeiro-ministro israelense em veículos de comunicação normalmente hostis a sua figura.
Gross questiona quando alguém poderia imaginar que o New York Times, ‘que durante décadas manchou a reputação de Sharon’, publicaria um editorial razoavelmente elogioso assinado pelo historiador israelense Benny Morris; e que a al-Jazira colocaria em seu sítio uma fotografia do premiê sentado em pose respeitosa observando as velas do chanuca serem acesas.
Por outro lado, houve algumas manchetes pouco simpáticas. ‘King Kong dos massacres’, afirmava o britânico Observer em 8/1, aproveitando a recém-lançada refilmagem do clássico de 1933. ‘Ariel Sharon, agente da guerra perpétua’, dizia o libanês Daily Star em 7/1. A frase ‘O legado de Sharon não inclui a paz’ iniciava artigo assinado pelo correspondente Paul Reynolds no sítio da BBC, enquanto coluna de Richard Stott no Sunday Mirror era intitulada ‘Middle Beast’ – trocadilho de Middle East (Oriente Médio) com Beast (Besta, ou pessoa cruel, abominável).
Dos insultos ao respeito
Trocadilhos à parte, Gross considera a cobertura pós-derrame sobre Sharon ‘relativamente amável’, se comparada com a de alguns poucos anos – ou poucas semanas – atrás. ‘Ele não era apenas insultado pela mídia internacional, mas frequentemente retratado por maldosos termos anti-semitas’, afirma. Ele cita exemplos de publicações espanholas, como o jornal El Pais e a revista Cambio 16, que estamparam em suas páginas caricaturas de Sharon travestido de Hitler. Cartuns na imprensa grega o compararam a um soldado nazista, em 2004.
O Corriere Della Sera, um dos principais jornais italianos, publicou em 2002 um cartum que mostrava Sharon matando Jesus. Seguindo um estereótipo anti-semita, a revista The Economist o comparou ao personagem Fagin, criado por Charles Dickens, e anteriormente havia publicado uma capa negra com a frase ‘Israel de Sharon, a preocupação do mundo’. ‘Agora, em contraste, a postura [da imprensa] com relação a Sharon está mais contida, e até respeitosa’, conclui Gross.