A revista CartaCapital (edição 474, de 12/12/2007) prestou relevante serviço público ao publicar a matéria ‘Cerco aos quartéis’, assinada por Maurício Dias. O texto enfatiza que há uma mudança de comportamento na caserna. Em vez de negar a existência do problema os oficiais passaram a lidar com ele, tendo em vista as vulnerabilidades dos militares passíveis de serem envolvidos pelas redes de traficantes.
Os roubos de armamentos das forças armadas têm rendido uma ampla cobertura jornalística. Mas nem sempre a imprensa dá o enfoque adequado ao problema.
A subtração de equipamento militar e o envolvimento de servidores militares com o tráfico não são apenas inovações no cardápio jornalístico-policial. As forças armadas têm por finalidade a defesa do Estado. A degradação da disciplina dentro das mesmas coloca em risco a existência e a integridade do Estado.
Desde que minha casa foi invadida a pontapés em 1968, tenho uma justificada aversão pelo militarismo e pelos militares. Sei que os militares que hoje estão aí não são os mesmos que se divertiram torturando vítimas indefesas. Mesmo assim, não os vejo com bons olhos porque, afinal, eles nada fizeram para que seus colegas torturadores fossem devidamente processados e presos.
Segurança nacional
Como cidadão que ajuda a custear a manutenção das armas da República, muito me preocupa a degradação da disciplina nos quartéis. Foi em razão de uma notória propensão à indisciplina que vinha se manifestando desde o episódio em Aragarças que o golpe de 1964 foi deflagrado – e encontrou apoio entre os anarquistas de farda.
A disciplina nos quartéis é fundamental. A custódia das nossas armas é um dever dos servidores militares. Portanto, eles não podem e não devem permitir que as mesmas cheguem às mãos dos narcotraficantes.
Viver num país injusto como o Brasil já é insuportável. Mas viver numa República do Tráfico seria um pouco pior. É por isto que aplaudo a iniciativa da revista. Perto das outras, que têm se comportado como panfletos partidários ou catálogos de produtos, a CartaCapital ganhou mais importância e relevância ao tocar num assunto tão espinhoso de maneira tão abrangente.
Segundo a matéria, os oficiais militares já admitem que a pobreza dos soldados, muitos dos quais vivem com suas famílias em favelas dominadas pelo tráfico, pode e tem sido explorada com sucesso pelos narcotraficantes. Quem sabe agora os jornalistas de outros veículos jornalísticos percebam que lutar contra a supressão do abismo entre ricos e pobres é, no mínimo, um atentado contra a segurança nacional?
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Advogado, Osasco, SP