Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Lula lesou a mídia nacional

É uma ofensa à imprensa brasileira a entrevista de 11 minutos que o presidente Lula deu na sexta-feira à jornalista Melissa Monteiro, que trabalha para uma TV francesa. A TV Globo, que exibiu a entrevista ontem [17/7] no Fantástico, diz ter comprado os respectivos direitos.

Lula se recusou a falar sobre o Brasil aos enviados especiais e correspondentes brasileiros na França.

O máximo que dele um jornalista brasileiro conseguiu arrancar, andando ao seu lado, foi o desastrado comentário de que ‘o Brasil não merece o que está acontecendo’.

O jornalista foi Mario Sergio Conti (ex-Veja). Ele mora em Paris e frila para a BandNews e o Estado de S.Paulo. O comentário foi desastrado porque a oposição apanhou imediatamente o mote para glosar o governo Lula. A frase vai render.

Pela data e pelo conteúdo, a entrevista tem o mesmo cheiro da armação construída pela dupla Delúbio-Valério, em dias sucessivos, na Procuradoria-Geral da República e no Jornal Nacional.

Ainda não conheço a inside story da entrevista. Não conhecendo a história, não tenho elementos para dizer se a jornalista brasileira participou conscientemente de uma operação preparada pelo Planalto para reforçar a blindagem em torno de Lula. Não quero julgar pelas 7 perguntas feitas.

Mas elas estão mais para levantada de bola do que para encostada na parede.

Exemplos:

** ‘Infelizmente o Brasil atravessa uma nova crise política, nós já atravessamos outras crises no passado, ligadas a corrupção. Quando é que o Brasil vai se livrar definitivamente dessa doença, qual é a cura definitiva?’

** ‘O senhor acredita que há males que vêm para o bem?’

** ‘O senhor estima que tem alguma culpa nesta crise do PT e do país?’

Agora vejam só. O que Lula diz em Paris bate rigorosamente com o que Valério disse na sexta e Delúbio no sábado (16/7) à Globo. Domingo o presidente investe a sua credibilidade na versão valeriano-delubiana, já apelidada de Operação Paraguai.

Hipótese. Todo esse raciocínio é furado. Lula só disse a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade à jornalista Melissa. Mas fica a pergunta escancarada: por que dar uma entrevista sobre a crise brasileira a uma jornalista que trabalha para a TV francesa? E isso depois de criar um verdadeiro cordon sanitaire em torno de si durante a sua estada em Paris para que a imprensa brasileira não tivesse ocasião de aborrecê-lo. [Postado às 9:52:58 AM de 18/7/2005]

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Eis o que consegui apurar da entrevista de Lula, em Paris, que o Fantástico levou ao ar ontem.

A entrevista foi concedida por volta das 12 horas da sexta-feira, nos jardins da Residence Marigny, onde o presidente brasileiro estava hospedado. Pouco antes ele havia recebido o primeiro-ministro francês Dominique de Villepin. Pouco depois iria receber o presidente do Partido Socialista, François Hollande.

Entre essas duas audiências, um grupo de jornalistas franceses foi autorizado a entrar no palácio para entrevistar, como haviam pedido, o novo presidente do PT, Tarso Genro. De fato, uma entrevista com ele saiu no Le Figaro.

No meio do grupo, estava a brasileira Melissa Monteiro. Ela não trabalha para nenhuma emissora francesa. Trabalha para o produtor independente Paul Comiti. Tempos atrás ele filmou e vendeu para o Canal + um documentário sobre as gangues do Rio.

Melissa entrou sem cinegrafista. Carregava um tripé. O cinegrafista, portanto, já estava lá dentro.

Autorizado por quem? Ou mobilizado pelo pessoal da Secom? Por quê? E quem controlou a entrevista? As perguntas foram espontâneas, induzidas ou uma mistura das duas coisas? Algumas delas foram gravadas depois das respostas, mas isso não é incomum.

O fato é que os jornalistas brasileiros em Paris estão subindo pelas paredes. Só falam em armação. [Postado às 10:23:31 AM de 18/7/2005]

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Mais fatos sobre a fantástica entrevista de Lula.

Melissa Monteiro não é repórter. É produtora free-lancer. Trabalhou para o produtor Paul Comiti, mas tem a sua própria produtora. Chama-se Melting Pot.

Ela disse hoje numa conversa que fazia muito que queria fazer uma matéria com Lula para vender a alguma TV francesa. Chegou a ir a Brasília para armar a matéria. Não teve êxito. Mas não desistiu. E tanto insistiu e tornou a insistir que ‘de repente, pintou’ a entrevista, afinal comprada pelo Fantástico.

Entra na cabeça de alguém que o presidente Lula, que não é de dar entrevistas coletivas (concedeu uma só em 2 anos e meio de mandato), muito menos exclusivas, do gênero da de sexta-feira, teria aceitado falar para uma produtora que venderia o material para uma emissora francesa que nem ela nem ele sabiam qual poderia ser?

Em tempo: o diplomata brasileiro que cuida de comunicação na embaixada em Paris, Pedro Luiz, não sabia da entrevista. [Postado às 10:48:10 AM de 18/7/2005]