Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Justiça e justiçamento

Formalmente acusados e decretada a prisão preventiva de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, o caso Isabella segue, com ou sem tropeços, os trâmites legais – o que é mais do que desejável – e a mídia, em maior ou menor grau de sensacionalismo, cumpre o seu papel na cobertura dos acontecimentos, com enfoque especial nos últimos dias antes da prisão do casal.

Falta, talvez, uma reflexão mais aprofundada sobre o desdobramento dessa ordem de prisão, uma vez que os meios de comunicação, principalmente os telejornais, noticiam a via-crúcis do casal de um para outro presídio ou centro provisório de detenção como se fosse um fato natural.

Ninguém é ingênuo a ponto de ignorar as ‘normas’ que vigoram no interior de cadeias e penitenciárias e quanto intoleráveis possam ser, mas tampouco se justifica lançar à própria sorte pai e madrasta, indiciados por crime tão bárbaro. É dever do Estado zelar pela segurança dos acusados sob a sua guarda, ainda que temporária – o que nem sempre acontece quando se trata de menos favorecidos ou de implicados em casos com menor visibilidade na mídia.

Aprimorar os valores democráticos

Não parece saudável para a sociedade, todavia, cultivar qualquer sentimento de justiçamento como forma de punição que vai além da condenação que a própria justiça possa infligir aos réus.

Difícil, no entanto, não notar certo véu de hipocrisia a cobrir assuntos tão delicados – daí, a necessidade de se estar atento para o desenrolar dos fatos – e das ‘negociações’, de presídios a penitenciárias, para a preservação dos direitos dos indiciados enquanto aguardam o julgamento.

A mídia não deveria desprezar a oportunidade, suscitada por esse caso, de tocar em questões tão ásperas, buscando o esclarecimento e o entendimento das relações sociais e a constituição do poder, jogando assim um pouco de luz sobre os mecanismos de funcionamento do judiciário (incluindo o sistema prisional) e do Estado – uma oportunidade de aprimoramento dos valores democráticos e do papel dos meios de comunicação como prestadores de um serviço público de informação, numa sociedade que se quer mais justa.

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Funcionário Público, Jaú, SP