Senhor editor-chefe do Jornal da Globo
A parcialidade desse veículo no campo da política internacional, dentre outros, é antiga, ostensivamente notória, em nível de fazer desnecessário, aqui, especificar-lhe maiores detalhes e adjetivos. Não sabia eu, porém, que o paroxismo do alinhamento aos interesses financeiros mais abjetos do grande capital, que assinala as opções políticas dessa empresa autodenominada ‘jornalística’ havia chegado ao ponto de transformar o seu segmento dito noticioso e, especificamente, os responsáveis pela edição e apresentação do Jornal da Globo, em meros propagandistas, bizarros ventríloquos dos porta-vozes do Pentágono, da CIA e tudo mais que os representa e simboliza.
Refiro-me, especificamente, à edição da noite de 15 de maio, quando o apátrida e desacreditado apresentador do precitado noticiário referiu como fato certo e irrefutavelmente comprovado a versão divulgada pela suspeitíssima Interpol a respeito de supostas evidências de que os governos da Venezuela e do Equador estariam financiando os insurgentes das Farc colombianas, por sua vez mencionados sistematicamente como narco-guerrilheiras, o que já bem demonstra, per se, a natureza facciosa, impregnada do recurso ao insulto vulgar, típica de folhetim panfletário, que reveste as edições noticiosas da Globo.
Propósito indisfarçado
Definitivamente, parece-me que o senhor e seus patrões jamais aprenderam, em uma escola qualquer de jornalismo, os limites que separam a notícia isenta e objetiva da opinião editorial, a qual, uma vez ressalvados o seu caráter subjetivo, as idiossincrasias e condicionantes que constituem o balizamento de quem a emite, pode, em tese, até ser havida como legítima, embora não necessariamente verdadeira.
Em nenhum momento, entretanto, essa emissora, de tradições que somente se inspiram nos apetites mais primitivos dos que detêm seu controle acionário e na leviandade, na irrecusável vocação conspiratória (Proconsult, Riocentro, atentados militares contra bancas de jornais e OAB, movimento das Diretas-Já etc.) contra a democracia, os interesses nacionais brasileiros e os direitos das grandes maiorias de excluídos dos povos latino-americanos e de todo o mundo, se deu ao trabalho de explicitar o conteúdo da hipotética documentação que, segundo os termos do noticiário vicioso, constituiria a prova do alegado financiamento das Farc pelos governos democráticos e populares da Venezuela e do Equador.
A farsa a que deu eco o noticiário do Jornal da Globo decerto não reúne possibilidade de tornar-se mais credível, hoje, do que as mentiras bushianas sobre as ‘armas de destruição em massa’ em poder de Saddam Hussein, em passado não distante. Mas nem por isso nos permite minimizar o seu propósito indisfarçado de criar o propício clima a uma intervenção militar ostensiva norte-americana no continente.
Anglófono e apátrida
Partindo do princípio de que aos cidadãos brasileiros assiste o incontroverso direito à informação isenta e objetiva, principalmente quando têm eles como fonte empresas que exploram serviços concedidos pelo Estado, quero verberar meu mais indignado protesto contra o desserviço que, com a desfaçatez de sempre, prestam as Organizações Globo e seus famigerados sócios controladores à informação da opinião pública nacional.
Com um agravante, no caso: o senhor William de Tal poderia minimamente conceder a nós, brasileiros e latino-americanos, a pronúncia correta do nome de família do presidente constitucional da República da Venezuela, que é Chávez, o ‘Ch’ carregando o som correspondente à frictiva palatoalveolar surda, tal como o CH de CHÁ; e não Tchavis, como diz o anglófono e apátrida William.
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Economista, Rio de Janeiro, RJ