O escritor turco Orhan Pamuk, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2006, foi transformado em editor-chefe de jornal por um dia e usou a oportunidade para chamar a atenção para a opressão sofrida por artistas e intelectuais no país. Pamuk, que tem diploma em jornalismo mas nunca trabalhou na imprensa, recebeu carta branca para comandar uma edição do jornal liberal Radikal, que comemora seus 10 anos de existência convidando celebridades da Turquia para o cargo de editor por um dia.
O escritor, de 54 anos, usou sua matéria de capa para criticar a falta de liberdade de expressão na Turquia e o péssimo tratamento dado a intelectuais dissidentes. No ano passado, Pamuk enfrentou o tribunal acusado de ‘insultar a identidade turca’ por dizer, em uma entrevista a uma revista suíça, que ‘um milhão de armênios e 30 mil curdos foram mortos nesta terra [Turquia]’. A afirmação foi vista como um reconhecimento de que os turcos otomanos cometeram genocídio contra os armênios durante a Primeira Guerra Mundial, posição duramente rejeitada pelo governo. O escritor chegou a ser acusado de ‘traidor’ em círculos nacionalistas.
Condenações
Na matéria principal de sua edição, Pamuk fez referência a um artigo de 1951 sobre o poeta turco Nazim Hikmet, que foi julgado por seus pontos de vista de esquerda. Declarado traidor, o poeta fugiu para a Rússia, e morreu no exílio em 1963. Ao lado de uma foto de Hikmet, cujos trabalhos foram proibidos na Turquia por um bom tempo, o artigo dizia ao público para ‘cuspir no rosto dele o quanto quiserem’. ‘Esta expressão resume a posição imutável de escritores e artistas aos olhos do Estado e da imprensa’, continuava o texto. O escritor mencionou também outros intelectuais que enfrentaram ações judiciais, como o autor Yasar Kemal, processado por fazer comentários sobre uma rebelião curda no país. Informações da AFP [7/1/07].