A produtora egípcia Howaida Taha, de 43 anos, foi presa no Egito por causa de filmagens feitas para um documentário sobre tortura no país. A jornalista, que trabalha para a al-Jazira, foi detida no aeroporto do Cairo quando tentava ir para o Catar, sede da emissora, na semana passada. Cinqüenta fitas de vídeo que estavam em sua mala foram apreendidas. A profissional foi acusada de ‘praticar atividades que colocam em risco o interesse nacional do país’ e de ‘possuir e produzir imagens falsas sobre a situação interna no Egito que podem prejudicar a dignidade do país’.
As tais ‘imagens falsas’ se tratavam de cenas reconstruídas com atores para um documentário sobre tortura policial no Egito. ‘Eu filmei com permissão das autoridades’, protestou a jornalista. Howaida foi libertada sob fiança, mas, de acordo com a lei egípcia, seu caso pode ser reaberto a qualquer momento.
A produtora disse estar ‘bem’ depois de dois dias de prisão e um interrogatório que durou 13 horas. Hussein Abdel-Ghani, chefe da sucursal da al-Jazira no Cairo, afirmou que reconstruir cenas com atores ‘é um conhecido método de produção de documentários’. Ele completou que sua emissora é a ‘única que fala sobre tortura’.
Tabu
Diversos grupos de defesa de direitos humanos condenaram a prisão de Howaida e alegaram que a ação faz parte de uma ‘política para aterrorizar as vozes que estão revelando a tortura’ no Egito.
As autoridades do país têm se mostrado profundamente sensíveis quanto a vídeos vazados mostrando homens e mulheres sendo torturados em delegacias. Organizações de direitos humanos alegam que diversos métodos de tortura, incluindo abuso sexual, fazem parte da rotina das delegacias do país. O governo nega que haja tortura sistemática, mas já investigou alguns policiais sob acusação de abuso.
Em novembro, diversos blogueiros egípcios divulgaram um vídeo que mostrava um homem nu da cintura para baixo sendo sodomizado com um bastão. O caso levou a um protesto público, e os dois policiais que aparecem na gravação foram presos.
A al-Jazira é assistida por milhões de telespectadores árabes e costuma cobrir de maneira agressiva ataques terroristas no Egito, manifestações anti-governamentais e atividades de grupos de oposição. O canal, entretanto, é acusado de parcialidade pelos EUA e já teve seus funcionários barrados em países como Irã, Iraque, Arábia Saudita e Tunísia. Informações de Nadia Abou el-Magd [AP, 14/1/07].