Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Canal antiamericano faz sucesso entre jovens

O canal de TV pró-insurgentes al-Zawraa, que divulga vídeos selecionados de sítios jihadistas, continua a fazer grande sucesso no Iraque – principalmente entre os jovens. O que não faltam são imagens de explosões e ataques a soldados americanos, cenas de abusos a prisioneiros de Abu Ghraib e registros do treinamento de mujahideen [combatentes da guerra santa]. Trechos do documentário Fahrenheit 9/11, do americano Michael Moore, também são exibidos como forma de crítica ao governo americano.

Os grandes alvos dos ataques do canal 24 horas, transmitido por satélite, são as forças dos EUA e seus ‘colaboradores’. Mas sobram críticas também para os safawis, termo pejorativo usado por árabes sunitas para descrever os muçulmanos xiitas. O clérigo radical xiita Moqtada al-Suadir e sua milícia Mahdi são chamados de ‘assassinos criminosos’ e o governo liderado por xiitas, de ‘servente dos iranianos’. ‘Não somos contra os xiitas, somos contra os safawis‘, proclama a emissora.

Funcionários do governo alegam que o canal é porta-voz do Exército Islâmico no Iraque, grupo insurgente dominado por baatistas. A emissora chegou a ser fechada em novembro do ano passado pelo governo iraquiano por ‘incitar a violência’. A al-Jawraa é transmitida de um local não conhecido entre o Oriente Médio e o norte da África, pela rede de TV egípcia Nilesat, cujo proprietário, Mishan al-Jibouri, é membro da assembléia nacional iraquiana. Ele teve sua imunidade parlamentar retirada no começo do ano, após acusações de fraudes – e autoridades americanas e iraquianas afirmam que está escondido na Síria.

Motivos obscuros

Os governos iraquiano e americano pediram ao Egito, sem sucesso, para retirar o canal do ar. Embora a Nilesat argumente que mantém a al-Jawraa por razões comerciais, analistas alegam que a motivação principal são os benefícios políticos para o país. Para alguns analistas, o Egito, de maioria sunita, usa o canal para criticar a agressividade do governo iraquiano liderado por xiitas e os perigos da influência do Irã no país. ‘Com o Irã se fortalecendo no Iraque e no Líbano e falando sobre se tornar uma potência nuclear, os regimes árabes sunitas – Egito, Arábia Saudita e Jordânia – ficam na defensiva’, afirma Lawrence Pintak, professor de jornalismo da Universidade Americana do Cairo. ‘É uma demonstração de apoio aos colegas sunitas’.

O Egito, no entanto, tem um histórico de prender blogueiros e jornalistas, além de usar a violência para dispersar protestos críticos ao governo do presidente Hosni Mubarak. Na semana passada, autoridades prenderam uma jornalista da al-Jazira – solta posteriormente – acusada de reproduzir cenas de tortura em delegacias egípcias.

Se o Egito ceder às pressões internacionais, o proprietário da Nilesat já tem outras opções para continuar transmitindo o canal. Al-Jabouri já assinou contratos com outras distribuidoras de sinais por satélite. ‘Eu quero mostrar a todo o mundo o que os americanos estão fazendo com o meu país, o que a democracia americana fez ao Iraque, como matou crianças, o que aconteceu nas prisões, como os americanos deram o Iraque ao Irã’, teria dito. Informações de Michael Howard [The Guardian, 15/1/07] e Sarah Gauche [The Christian Science Monitor, 17/1/07].