A isenção de um jornalista diante de uma matéria depende da distância que ele mantém de suas fontes? Byron Calame conta em sua coluna de domingo [15/1/06] que sempre defendeu esta idéia, mas descobriu que a aproximação de um jornalista com uma fonte pode não ser de todo uma relação nociva para o jornalismo. O editor-público do New York Times afirma que um dos mais importantes artigos publicados nos últimos meses pelo jornal falava de pornografia infantil e contava a história de um jovem de 19 anos que fez parte deste mundo desde os 13 anos de idade.
A comovente história do jovem, publicada em 19/12, foi resultado de longos meses de conversas e do nascimento de uma relação de carinho e cuidado entre ele e o repórter responsável pelo texto, Kurt Eichenwald. No ano passado, o jornalista convenceu Justin Berry, então com 18 anos, a parar de usar drogas, abandonar a prostituição e contar sua história nas páginas do Times. Auxiliado por Eichenwald, Berry se tornou ainda informante em uma investigação federal que já levou a algumas prisões.
Para acompanhar a matéria, o jornal publicou também um ensaio em primeira pessoa escrito pelo repórter, onde ele explicava como a reportagem havia sido apurada e editada – o que, para Calame, foi uma ‘contribuição vital para o entendimento dos leitores’. Eichenwald explica como ganhou a confiança de Berry, conta como o jornal adiou a decisão de permitir que o nome do jovem fosse publicado até que ele tivesse certeza absoluta de que queria se expor e completa que arrumou para ele um médico, um advogado, um conselheiro e um novo lugar para morar.
Às claras
Muitos cuidados foram tomados durante o processo. ‘Eu tinha completa consciência de que as circunstâncias poderiam fazer com que eu exercesse influência demais sobre ele’, conta Eichenwald. Os editores também se preocuparam. Pouco mais de um mês antes da publicação da matéria, Lawrence Ingrassia, editor que tinha responsabilidade direta sobre o projeto, acompanhou o repórter em uma visita a Berry. ‘Larry enfatizou que eu era um repórter de jornal, que meu trabalho era observar os fatos e apresentá-los com isenção e que eu não era seu advogado ou estava disponível para dar conselhos a ele’, relembra o jornalista. Para a fonte, foi assegurado o direito de voltar atrás, a qualquer momento, na decisão de falar em on.
Calame conta que, ao ver a dedicação do jornal com o jovem, ficou intrigado e decidiu apurar o assunto. ‘Mas minhas preocupações foram aliviadas depois de longas entrevistas e trocas de e-mails com Eichenwald e os editores do Times. Eu descobri que cuidado especial e orientação foram usados durante a apuração e a edição do artigo. O resultado: um artigo preparado eticamente, no mais amplo sentido da palavra’, relata o ombudsman.