A vitória do candidato de centro-direita Aníbal Cavaco Silva nas eleições presidenciais de Portugal, realizadas no domingo (22/1), caiu como um enigma para o primeiro-ministro socialista José Sócrates, como noticiou a imprensa do país. Embora primeiros-ministros socialistas e presidentes de direita governem em conjunto em muitos países da Europa, este é um fato político inédito na história da democracia portuguesa.
O Diário de Notícias colocou como manchete a questão ‘E agora, Sócrates?’, afirmando que ‘O Partido Socialista dividiu-se e um novo período de coabitação começa’. Esta é a mesma opinião do Jornal de Notícias: ‘A vitória de Cavaco Silva foi, como esperado, garantida no primeiro turno contra cinco candidatos de esquerda’.
Elogios ao novo presidente
O Correio da Manhã vê a vitória do primeiro presidente de centro-direita do país como um triunfo pessoal de Cavaco Silva. ‘A eleição de Cavaco Silva confirma que há um coro significativo no eleitorado português que votou não pelo partido, mas pelo indivíduo’, opinou o jornal. O Diário de Notícias afirmou que a vitória foi merecida, alegando que ele ‘era o candidato mais afirmativo e que cinco candidatos contrários a ele não conseguiram decidir as eleições em um segundo turno, pois faltou visão da esquerda’.
Por trás dos números
O Público também concorda que os dez anos de Cavaco Silva como primeiro-ministro, de 1985 a 1995, ajudaram-no a vencer as eleições, mas questiona suas futuras atitudes no governo: ‘O vencedor foi o candidato mais enigmático. Sua vitória era previsível, mas não se pode dizer o mesmo sobre seu comportamento. Cavaco Silva venceu pela força de sua reputação, não pelas idéias que não foram esclarecidas por ele’. Para o jornal, a vitória de pouco mais de 50% dos votos não foi ‘esmagadora’. No entanto, o Público notou que a maioria socialista foi ‘desestabilizada’ e aconselha o primeiro-ministro a mostrar ‘mais humildade’. O jornal acredita que a mensagem dos eleitores para o novo presidente e o primeiro-ministro é de que eles devem trabalhar em conjunto.
O Expresso apontou para o número de abstenção nas eleições: ‘Cavaco: 2.7 milhões – Eleitores que não foram votar: 3.3 milhões’. ‘O número de não-votantes foi maior do que o daqueles que votaram no candidato vencedor’, dizia o jornal. Informações da BBC [23/1/06].