Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 10 de junho de 2008
TELEVISÃO
Boicote ao Pânico
‘Eles mexeram com a pessoa errada. Ao que tudo indica, os artistas da Globo estão levando a sério a idéia de fazer um boicote ao programa da RedeTV!, por conta de uma brincadeira do Pânico com o ator Wagner Moura semanas atrás.
Uma nova dupla de humoristas do programa jogou uma gosma no cabelo de Wagner, que havia parado para lhes conceder uma entrevista. Revoltado, o ator escreveu uma carta ao jornal O Globo, em que questionava o posicionamento de alguns programas – não citou nomes – e também dos artistas que davam atenção a eles.
Acostumados a azucrinar celebridades antipáticas, os humoristas mexeram dessa vez com um ator querido pelo meio, que se solidarizou.
Emílio Surita, do Pânico, diz desconhecer o tal movimento, mas quem assistiu ao programa do último domingo constatou uma animosidade fora do normal dos globais com a trupe. Vesgo e Silvio, na porta da festa de A Favorita, foram praticamente ignorados e levaram muitas patadas.
Questionada sobre qual era sua ética em não dar entrevista na festa, a atriz Bel Kutner soltou: ‘Quem são vocês para falar de ética?’’
Beth Néspoli
Mesa-redonda de críticos para discutir a ficção na TV
‘Ainda que a ficção criada para a TV brasileira conte com minisséries, teleteatros, ‘casos especiais’ e seriados, entre outras bem-sucedidas experiências, algumas ousadas, para muitos brasileiros o termo teledramaturgia ainda está associado exclusivamente às telenovelas. Daí o interesse do seminário Direções, por um Novo Caminho na Teledramaturgia, que hoje e amanhã vai reunir no Sesc Consolação diferentes especialistas, de teóricos a artistas, para debater a ficção na TV.
Por que a teledramaturgia brasileira assumiu o formato dominante atualmente? Em que medida a novela é a uma obra aberta que dialoga com a sociedade? Como as narrativas dos folhetins eletrônicos afetaram as imagens que a nação tem de si mesma? Teleteatro é só teatro filmado ou uma nova linguagem? Essas são algumas perguntas ou provocações que devem ser respondidas pelos participantes desse seminário, realizado pelo Sesc-TV.
O título do seminário faz referência ao programa Direções – série de teleteatro que vem sendo apresentada aos domingos na TV Cultura. Artistas como Eduardo Tolentino, do Grupo Tapa, Rodolfo García Vázquez, da Cia. Os Satyros, Débora Dubois, André Garolli e Samir Yazbek estão entre os que vão avaliar os avanços e equívocos dessa nova experiência de teledramaturgia – o programa Direções – criada em parceria entre o Sesc-TV e a TV Cultura.
Num País que não prima pela preservação da memória, muitas vezes a ‘descoberta’ de hoje é a mesma novidade, já esquecida, de 20 anos atrás. Daí a importante participação de pioneiros que vão lembrar momentos marcantes da teledramaturgia, como Álvaro de Moya , diretor de televisão de reconhecida contribuição para a renovação na linguagem da TV Excelsior na década de 60 e da atriz Vida Alves, que escreveu programas televisivos e atuou na primeira telenovela brasileira, Sua Vida me Pertence (1951).
O seminário conta ainda com participações importantes pela experiência com o trânsito de linguagens, como o escritor Lauro César Muniz, igualmente um pioneiro da teledramaturgia – escreveu sua primeira novela em 1966. Ele é autor de telenovelas, minisséries, roteiros cinematográficos e peças.’
Patrícia Villalba
‘De repente, fiz 52 anos de carreira’
‘O personagem Seu Ladir funcionou como uma arma secreta no Toma Lá, Dá Cá, da Globo. Passou o primeiro ano do seriado sendo freqüentemente citado, como o excêntrico marido da síndica Álvara (Stela Miranda). Agora, no segundo ano, Ladir pegou todos de surpresa, aparecendo maravilhosamente personificado por Ítalo Rossi, talvez o mais improvável nome para vivê-lo.
‘Tudo o que passa pela minha cabeça e eu gosto, eu digo que é ‘mara’. Maravilhoso!’, lançou Ladir logo de cara. E Ítalo – aquele dos personagens sérios, do Teatro dos Sete, dos mais de 500 papéis no teatro e dos quatro prêmios Molière – virou ‘o mara’, gíria que diverte as crianças e foi hit na Parada Gay.
Um dos atores mais respeitados do País, 77 anos de idade e 52 de carreira, Ítalo conta como é flertar com o sucesso a granel que só a televisão pode dar. Em repouso por causa de uma tendinite, ele recebeu a reportagem do Estado no seu apartamento, no bairro do Flamengo. Uma daquelas entrevistas que é difícil interromper, que vai das noites cariocas de 40 anos atrás – ‘Eu era o rei da cocada preta’ – ao fenômeno Obama. Não precisa dizer que ele é ‘mara’, precisa?
Você acha que o que há de mais fascinante na carreira de ator hoje é o mesmo do que há 50 anos?
Hoje o ator se prepara em academia, faz esgrima, fica lá com halteres. Antes, você tinha o texto. Era ali que ia caçar o interno do personagem. Senão, como é que eu ia fazer um japonês, careca que eu já era naquela época (em 1956, quando fez ‘A Casa de Chá do Luar de Agosto’)?
Já era careca? Vi as fotos e achei que aquele cabelo fosse seu…
Não, imagina, aquela cabeleira! A descoberta do ator é intuição, vocação. De repente, você tem o seu ‘ah’ e acontece. E tem de ter a certeza de que sucesso, fracasso e dificuldade de conseguir patrocínio têm de fazer parte da carreira – sem reclamar. É assim que se faz uma profissão. E, de repente, tenho 52 anos de profissão. De repente.
Sempre que se fala em você, a cia.Teatro dos Sete, que ajudou a fundar em 1959, é citada. Acha que hoje é possível se montar companhia?
Não, não é mais possível. O máximo que você pode ter em cena hoje em dia são quatro atores. Não é querer falar sobre o que foi – o que foi, foi. Mas o teatro teve mesmo uma época em que tudo funcionava, havia um público que não deixava de ir. Hoje, não. Para comparar, se eu perco um filme no cinema, espero o DVD. Agora, se você perde o teatro, não tem volta, é fatal.
Se ainda houvesse as peças filmadas, como o Grande Teatro Tupi…
Não quero ser contra você. Mas teatro é no teatro, cinema é no cinema e televisão é na televisão – o timing do ator é outro. No teatro, é o corpo todo. Na televisão, é meio corpo.
O teatro é essencial para o ator?
É essencial. Sem palco você não é ator. O palco é um todo, uma presença, uma voz, um jeito, uma luz. Acho que exagerei um pouco, mas é por aí.
Então, o que estar na TV representa na sua carreira?
Sou muito grato por ter, no passado, feito na televisão todas as peças que fiz. Estar em novela faz parte. Não posso dizer ‘ah, não vou fazer’. O hiato é você estar na televisão e querer segurar o sucesso para levar ao palco do teatro. Não vai ser a mesma coisa. Às vezes, você faz uma novela e tem um sucesso absurdo. Eu fiz uma em que eu era um mordomo (Alfred, de ‘Senhora do Destino’, em 2004). Agora, esse personagem, o Seu Ladir. Entupiram o blog do programa de mensagens perguntando quando ele vai voltar. Calma, eu vou voltar! É prazeroso, porque é uma coisa que eu nunca fiz na TV: criar um tipo. Ele não é travesti, só trabalhou numa boate dublando as maiores vozes, como Judi Garland. Tem gente que vê e pensa ‘mas é mesmo o Ítalo Rossi?’
Sim, sua escalação para o papel não foi nada óbvia.
Em outubro, o Miguel Falabella (autor e ator do programa) me dizia: ‘Estou escrevendo um personagem para você. Se você não fizer, não vai ter personagem.’ Tive um grande apoio, porque o programa já estava no ar, e só se falava neste Seu Ladir. Agora, tem ‘sorvete mara’, ‘sanduíche mara’, ‘ponto de encontro mara’ – deu uma enlouquecida nesse sentido.
Antes do Seu Ladir, você já havia vivido homossexuais no teatro, nos anos 70. Acha que mudou a maneira como a dramaturgia retrata o homossexual?
Não sei. Mas enquanto você tem o casamento gay e essa parada que reúne 4 milhões de pessoas, acho que não é questão de ser a favor ou contra, é de olhar o que está acontecendo. Em que ano seria possível uma parada como essa? Ou o sistema público pagar por cirurgias de mudança de sexo? Houve a bomba atômica, as geleiras estão derretendo, o Obama será presidente. A mudança está acontecendo. E a gente tem de estar a par. Se a sua filha brinca dizendo ‘isso é mara’, é porque ela se interessou, sem se preocupar se o Ladir é ou não é.
Por falar nisso, acompanhou a polêmica sobre o beijo gay que não aconteceu na novela Duas Caras?
Você acha que, por acaso, a hipocrisia, o orgulho, o mau-caratismo e o preconceito vão diminuir se mostrarem o beijo gay na televisão? Não. Então, se não houve o beijo, mas está insinuado esse beijo, pronto. As pessoas já ganharam elementos para saber que houve o beijo entre aqueles personagens. Por que estão esperando o beijo? Não é assim, minha gente! Tem de ser inteligente, e perceber que ali havia amor.
RADIOGRAFIA DE UMA TRAJETÓRIA MUITO APLAUDIDA
TEATRO: A Casa de Chá do Luar de Agosto (1956, dir. Maurice Vaneau); O Mambembe (1959, dir.Gianni Ratto); Os Amantes e A Coleção, de Harold Pinter (1966, dir. Flávio Rangel); Brasileiro, Profissão Esperança (1970, dir. Bibi Ferreira); Dorotéia Vai à Guerra (1972, dir. Paulo José); O Santo Inquérito, de Dias Gomes (1976, dir. Flávio Rangel); Quatro Vezes Beckett (1985, dir. Gerald Thomas); Encontro com Fernando Pessoa (1986, dir. Walmor Chagas); Encontro de Descartes e Pascal (1987, dir. Jean-Pierre Miquel); Comunicação a uma Academia, de Franz Kafka (1994, dir. Moacyr Góes); O Doente Imaginário (1996, dir. Moacyr Góes); Alta Sociedade (2000, dir. Mauro Rasi)
TELEVISÃO: Grande Teatro Tupi (mais de 300 peças, 1951); Vitória (1964); Jerônimo, O Herói do Sertão (1972); Bravo! (1975); A Escrava Isaura (1976); Que Rei Sou Eu? (1989); Engraçadinha (1995); Senhora do Destino (2004); Belíssima (2005)
CINEMA: Uma Vida Para Dois (1953); Society em Baby-Doll (1964); Doida Demais (1989); Chão de Estrelas (1993); A Grande Noitada (1997); Sexo Com Amor? (2008)
PRÊMIOS: 1956 (ABTC, ator revelação); 1959 (ABTC, melhor ator); 1975, 85, 86 e 87 (Molière, melhor ator); 1989 (Festival de Gramado, melhor ator coadjuvante)’
JAPÃO
Autor de chacina fez alerta em site
‘Tomohiro Kato, que atropelou vários pedestres no domingo e depois os esfaqueou, matando sete deles, havia postado uma série de mensagens num website, advertindo que pretendia matar pessoas em Akihabara, um bairro comercial de Tóquio. ‘Quero jogar o veículo e, se isso não funcionar, então, usarei a faca. Adeus a todos’, disse Kato, de 25 anos, numa mensagem enviada ao site por meio de seu celular.
Vinte minutos antes do massacre, Kato, empregado temporário de uma fábrica de automóveis, enviou o último alerta: ‘Está na hora.’ Ao ser preso, Kato disse à polícia que estava ‘farto do mundo’. A polícia afirmou que o ataque a facadas, que durou três minutos, foi o mais mortífero já registrado em Tóquio. Ontem, a cena do crime estava coberta de flores e revistas, deixadas em memória dos mortos.’
Angela Perez
Stress tem alimentado ‘fúria’ entre japoneses
‘O massacre de sete pessoas no domingo em Tóquio, por um jovem que advertiu sobre suas intenções na internet e disse ‘estar farto do mundo’, ocorre após uma série de incidentes semelhantes que chocaram o Japão nos últimos meses.
Em março, uma pessoa foi esfaqueada diante de uma estação ferroviária no norte de Tóquio e um adolescente empurrou um passageiro para baixo de um trem no oeste do Japão, sob a simples justificativa de que queria matar alguém.
Segundo o psicólogo e professor de psicologia da PUC-SP Antonio Carlos Amador Pereira, ao enviar mensagens a um site, o autor da chacina de domingo, Tomohiro Kato, de 25 ans, provavelmente sentia seu descontrole e estava pedindo a alguém que o contivesse.
‘Casos de violência como esses têm múltiplas motivações e devemos analisar o contexto sociocultural e as tendências agressivas do indivíduo’, afirmou Pereira ao Estado. ‘Mas uma das hipóteses sobre o que teria levado o jovem a cometer o crime pode ter sido um estado de stress constante, que ele não suportou’, acrescentou.
Para muitos especialistas, a sensação de fracasso numa sociedade tão exigente e o declínio familiar têm provocado o surgimento dos chamados ‘jovens-problema’, que vão a extremos para romper seu isolamento. As pressões econômicas também são apontadas como alguns dos motivos que podem levar alguém numa sociedade com baixíssimos índices de criminalidade como a japonesa a ter ‘um dia de fúria’.
Essas também são consideradas as causas do elevado número de suicídios no Japão – um dos mais altos entre os países ricos. Mais de 30 mil japoneses se matam anualmente. Somente neste ano, cerca de 300 pessoas se suicidaram inalando um mortífero gás produzido pela mistura de pesticidas e produtos de limpeza.
No ano passado, o governo adotou várias medidas, como um serviço de aconselhamento por telefone e programas nas empresas para diminuir o stress, com o objetivo de reduzir atos de violência e o índice de suicídios – que subiu 20% em nove anos. O governo também publicou um documento com diretrizes para transformar o modo como o suicídio é visto e tratado no Japão. Segundo o estudo, os japoneses precisam saber mais sobre as causas do suicídio e estar mais bem preparados para perceber os sinais de uma tentativa. No ano passado, a polícia salvou 72 potenciais suicidas que haviam postado mensagens na internet.
O fenômeno conhecido como ‘suicídios da web’ – no qual vários japoneses (geralmente jovens) se conhecem na internet e combinam um suicídio coletivo – tem recebido grande atenção da mídia, mas especialistas alertam que esse é apenas uma pequena fração do problema.
Fatores culturais sempre tiveram grande influência nos suicídios. A sociedade japonesa raramente permite que as pessoas se recuperem do sentimento de vergonha, fracasso ou falência. Uma das razões para o alto índice de suicídios pode ser o fato de que culturalmente ele não é considerado um tabu como no Ocidente e pode até mesmo ser visto como um meio honrado de assumir a responsabilidade por um fracasso. O suicídio é visto como um ato nobre desde a época dos samurais.
Mas, pela primeira vez, o Japão está vendo o suicídio como um ato de desespero. ‘Problemas econômicos, doenças e pessimismo têm seu papel. No entanto, há um abismo cada vez maior separando os indivíduos que têm esperança e perspectivas de futuro e os que simplesmente são negligenciados’, disse Kayoko Ueno, professora de sociologia da Universidade Tokushima.’
TV POR ASSINATURA
Net vai buscar alternativa a ponto extra
‘A Net, maior operadora de TV por assinatura do País, e banda larga, informou ontem que, enquanto não pode cobrar de seus assinantes tarifa por ponto adicional de TV, ‘continuará buscando alternativas de modo a respeitar seus clientes e não impactar sua receita’ . Na sexta-feira, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) decidiu suspender por 60 dias a taxa de manutenção do ponto adicional. Nesse período, fará consulta pública sobre o assunto.
A Anatel tentou chegar a um consenso semana passada com representantes das operadoras de TV por assinatura, do Ministério Público, do Ministério da Justiça e dos órgãos de defesa do consumidor. Como não foi possível um acordo, a Agência decidiu suspender a eficácia dos artigos 30, 31 e 32 do regulamento de TV por assinatura, que tratam da possibilidade de cobrança pela instalação, ativação e manutenção do ponto extra. Permanece em vigor o artigo 29, estabelecendo que o ponto extra é um direito do assinante ‘sem ônus’.
Para Carlos Constantini, analista de telecomunicações do Unibanco, se o mercado de TV por assinatura for incapaz de reverter a suspensão da cobrança pelo ponto extra, a Net poderá ter um impacto de 4,5% em seu faturamento.
Ele observa, contudo, que as operadoras de TV fechada vão reagir para neutralizar, ou pelo menos amortecer, a decisão da Anatel. ‘A primeira reação foi questionar na Justiça’, disse. Para manter a cobrança do ponto adicional, a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) ajuizou na semana passada ação cautelar na Justiça Federal de Brasília contra a Anatel.
Na pior das hipóteses, acredita o analista do Unibanco, as empresas de TV paga devem promover algum reajuste de tarifas. ‘A Net está há 18 meses sem corrigir suas tarifas e isso (cobrança do ponto extra) pode ser um bom pretexto para fazê-lo’, disse o especialista.’
TECNOLOGIA
Apple anuncia novo iPhone, com acesso mais veloz à web
‘O presidente da Apple, Steve Jobs, anunciou ontem uma nova versão do iPhone, com conexão mais rápida e preço menor. O novo iPhone tem tecnologia de terceira geração (3G), o que o torna, segundo Jobs, 2,8 vezes mais veloz que o original. Ele começará a ser vendido em 11 de julho por US$ 200, na versão com 8 gigabytes de memória, e US$ 300, com 16 gigabytes.
Atualmente, o modelo mais barato custa US$ 400. Segundo analistas, o corte de preço marca uma mudança de estratégia e indica que a Apple quer conquistar um público maior para o aparelho. ‘O preço muda o jogo para todos os fabricantes de telefones inteligentes’, disse Tim Bajarin, diretor da Creative Strategies. Existem duas opções de cores para o novo iPhone, preto ou branco.
‘É impressionantemente esperto’, disse Jobs, no primeiro dia do evento Worldwide Developers Conference, da Apple, em que a empresa apresentou vários programas novos para o celular, a maioria gratuita. O aparelho é mais fino que o original, tem um sistema de localização via satélite (GPS, na sigla em inglês) embutido, uma tela de 3,5 polegadas e bateria que dura mais.
Apesar do anúncio, as ações da Apple caíram 2,2% ontem na bolsa eletrônica Nasdaq, cotadas a US$ 181,61. A Apple entrou no mercado de telefones inteligentes em junho do ano passado, e o iPhone se tornou o segundo aparelho da categoria, atrás somente do Blackberry, da RIM. Até o fim de março, a Apple havia vendido cerca de 5,5 milhões de aparelhos. Atualmente, as vendas estão em cerca de 600 mil unidades por mês, de acordo com a empresa.
No mês passado, houve falta de aparelhos, por causa da decisão da empresa de baixar estoques para o lançamento do novo modelo. Apesar de a AT&T (que possui um contrato de exclusividade com a Apple nos EUA) ainda ter aparelhos em estoque, segundo um porta-voz da operadora, o iPhone sumiu da maioria das lojas da Apple e não está mais sendo vendido na loja da empresa da internet.
Jobs definiu o objetivo de vender 10 milhões de iPhones em 2008. A empresa tem anunciado uma série de acordos para distribuir o aparelho em várias partes do mundo. Recentemente, anunciou que irá vender o iPhone no Japão, Espanha, Suécia, Noruega e Dinamarca. Os únicos grandes mercados sem acordos de distribuição do iPhone são a Rússia e a China. No Brasil, ele será vendido pela Claro (ver ao lado).
‘O anúncio posiciona bem a Apple frente a outros competidores de telefones inteligentes, como a Nokia e a RIM’, disse Shannon Cross, da Cross Research. ‘O iPhone não é mais um aparelho caro. Agora, o preço foi adaptado para o mercado de massa.’
As novidades apresentadas ontem também colocaram o iPhone numa posição melhor para o mercado profissional. Um novo serviço, chamado MobileMe, irá enviar automaticamente mensagens de correio eletrônico e outras informações para os iPhones, assim como faz o servidor de e-mail Exchange, da Microsoft. O serviço, que será cobrado, também oferecerá aplicações de internet para oferecer ao aparelho recursos mais parecidos com os do computador de mesa.
‘Isso claramente coloca a Apple numa posição competitiva no lado dos serviços contra o Google, a Microsoft e, mais importante, a Nokia’, disse Ben Wood, diretor de pesquisas da CSS Insight.
THE NEW YORK TIMES E REUTERS’
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Folha de S. Paulo
Terça-feira, 10 de junho de 2008
MARINA NA FOLHA
Contadores de histórias. E só
‘SÃO PAULO – Lamento ter que saudar a incorporação de Marina Silva à equipe de colunistas desta Folha com uma discordância ainda que apenas parcial. Diz a ex-ministra: ‘O Estado cresceu, mas não amadureceu’.
O problema é bem mais grave. O Estado cresceu, mas tornou-se impotente. Duvida? Eis o que diz Monique Canto-Sperber, intelectual francesa em ‘Le libéralisme et la gauche’: ‘A evolução da realidade econômica, com a financeirização da economia, a autonomização dos mercados financeiros, a transformação do capitalismo industrial em capitalismo patrimonial, a agudização da concorrência mundial e a hegemonia da economia da informação e do conhecimento condenam à impotência os poderes públicos’.
Continua duvidando? Voltemos então à bela entrevista que Sérgio Dávila fez com o sociólogo Immanuel Wallerstein, no trecho em que ele diz: ‘Não acho que as ações do presidente dos EUA nesse momento histórico importem muito para a economia mundial. Essa já tem uma dinâmica própria, que passa ao largo da Casa Branca’. Se passa ao largo da Casa Branca, passa muito mais ao largo de qualquer outra casa de governo do planeta.
Restou aos políticos o papel de ‘contadores de histórias’, diz o também francês Christian Salmon, para quem contar histórias é ‘a nova arma de distração em massa’ dos políticos, segundo afirmou em entrevista para a ‘Foreign Policy’, edição espanhola.
Trecho que me parece essencial: ‘Quando um político se convence de que não tem poder de influir na história, só lhe resta dedicar-se a relatá-la. (…) Se a política se torna cada vez mais um espetáculo, um cenário ou uma narração, é porque os políticos não têm nada de transcendente a contar’.
Olhe ao redor, ouça os sons da política brasileira e decida se Salmon está certo ou errado.’
PROPAGANDA
Governo Lula reduz gastos com publicidade pela primeira vez
‘Pela primeira vez desde o início da gestão petista, o governo federal reduziu investimentos em publicidade de um ano para outro. Em 2007, foram gastos 18,5% a menos do que em 2006 com a propaganda estatal. Em 2008, os valores devem voltar a subir, estima a Secom (Secretaria de Comunicação Social).
O valor consumido pelos órgãos da administração direta e indireta vinham crescendo desde 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Planalto. Naquele ano, foram investidos R$ 700,5 milhões com este fim. Em 2005, o valor chegou a R$ 1,014 bilhão. Em 2006, atingiu-se o recorde até hoje, de R$ 1,115 bilhão gastos. Em 2007, o valor caiu para R$ 908,1 milhões.
Segundo a Secom, a redução registrada em 2007 resulta da exigência feita pelo Congresso, por meio de emenda da oposição ao Orçamento Geral da União, de redução de 10% dos valores em publicidade aplicados em 2007, em relação a 2006. Também contribuiu para a diminuição o fato de algumas estatais e pastas terem ficado sem agência de publicidade em 2007, como Correios e Ministério dos Transportes.
No caso dos Correios, a licitação para a escolha da agência de publicidade foi suspensa pela Justiça. Só a estatal tem verba anual estimada em R$ 90 milhões para propaganda.
Os números divulgados pela Secom não trazem a totalidade dos gastos do governo com propaganda. As tabelas não incluem os gastos com editais e balanços nem custos de produção dos comerciais, que são pagos à parte às agências. Além disso, o levantamento não leva em conta os patrocínios.
No Orçamento de 2008, a previsão de gastos com publicidade foi reduzida em 20%, em razão do fim da CPMF. Mesmo assim, o secretário-executivo da Secom, Ottoni Fernandes Júnior, estima que em 2008 os gastos devem se aproximar do patamar recorde de 2006.
Ele atribui a alta que deve ser registrada em 2008 a um crescimento da participação da publicidade das estatais que competem no mercado. Em 2007, essas empresas responderam por 72,2% do total das verbas de mídia, com um investimento de R$ 656,2 milhões.’
TODA MÍDIA
‘Escravos!’, ‘guerra!’
‘Com base em relatório do Departamento de Estado, as edições de Europa e Ásia do ‘Wall Street Journal’ deram ontem editorial questionando o Brasil pela ‘escravidão’ ou ‘trabalho forçado’ na produção de etanol, ‘uma tendência crescente’, e minério de ferro.
Ontem também, um editorial do ‘New York Times’ questionou que a ‘política interna das nações mais desenvolvidas’ evitou resultados mais concretos no encontro da ONU sobre a fome. Centrou fogo nos subsídios ao etanol de milho, mas registrou que ‘os EUA não estavam sós’ e ‘o Brasil também rejeitou pressões para conter a produção de biocombustíveis’.
Por outro lado, aqui e ali, como num artigo do ‘Guardian’ no final da semana, é possível ler títulos tipo ‘Não culpem biocombustíveis do Brasil’ e sim os ‘verdadeiros vilões’ -os subsídios de EUA e Europa. E ontem, no ‘Café com o Presidente’, Lula repetiu que o país vai vencer a ‘guerra’ dos biocombustíveis.
TUPI E OS NACIONALISTAS
Da entrevista de Guido Mantega ao ‘Financial Times’, o jornal tirou ontem um segundo enunciado, de que os ‘Campos de petróleo do Brasil devem transformar sua economia’. O governo fala em até 50 bilhões de barris nos novos campos, o que, somado às reservas atuais, faria do Brasil ‘o oitavo país em petróleo, ultrapassando a Rússia’.
A partir daí, porém, a reportagem foca a ‘preocupação da indústria’ quanto ao controle sobre os novos campos, ecoando pressões contra a ‘ala nacionalista do governo’.
O SHOW GLOBAL…
O economista Tyler Cowen listou em artigo, domingo no ‘New York Times’, os benefícios da globalização, como os 400 milhões de chineses que deixaram a miséria ou ‘a classe média do Brasil’, que ‘está florescendo’. E pediu resistência ao neoprotecionismo.
Deixou no fim a previsão otimista de que, em décadas, o mundo vai olhar para trás e ver que, na entrada do século, ‘a era moderna do livre comércio estava só começando’.
TEM QUE CONTINUAR
Já o editorialista Frédéric Lemaître, ontem no ‘Le Monde’, abordou Porto Alegre e o aniversário dos atos ‘antiglobalização’ de Seattle. E lembrou como ‘Lula escolheu seu campo, a exemplo dos colegas chineses, indianos e sul-africanos: o Brasil seria protagonista da globalização liberal’.
Mas agora, alerta ele, a ‘tentação protecionista’ está de volta, não aqui, mas por França, Itália. Nesta, com ataques à ‘ditadura do mercado total’.
OBAMA, LULA NÃO
Gary Younge, colunista do ‘Guardian’, escreveu ontem sobre como Barack ‘Obama poderia iniciar um terremoto’ nos EUA. Para tanto, abriu longamente seu texto com a trajetória de Lula -e como, em 2002, ao vencer, ‘a mão invisível do mercado o agarrou a caminho da posse e tirou o que restava nele de socialismo’. Citou Frei Betto, então com Lula, ‘nós estamos no governo, mas não no poder’, que prosseguia com o capital. Younge quer que a ‘esperança’ lançada por Obama tenha uma história diferente.
E CABE RECURSO
Na temporada de escândalos e contra-escândalos, renasceu mais um, ontem, em algumas manchetes on-line. Marcos Valério, o operador do ‘mensalão’, no dizer do procurador-geral da República, foi condenado em Minas Gerais por ‘falsidade ideológica’.
Só que a ‘pena de um ano de prisão’, registrou a Folha Online, ‘foi substituída por multa’ de apenas dois salários mínimos e ‘prestação de serviço comunitário’. E tem mais, registrou o Globo Online: ‘Cabe recurso’.’
JAPÃO
Assassino de 7 anunciou ataque pela internet
‘O homem preso anteontem por matar sete pessoas a facadas em Tóquio havia deixado dezenas de avisos na internet horas antes do ataque, informou a imprensa japonesa.
A polícia deteve Tomohiro Kato, 25, por atropelar uma multidão com uma camionete em Akihabara e depois esfaquear pessoas, matando 7 e ferindo 11. Pouco antes, ele havia alertado em um site: ‘Vou matar pessoas (…). Vou atropelá-las com meu carro e (…) vou usar uma faca. Adeus a todos!’.’
TECNOLOGIA
Apple apresenta novo iPhone com tecnologia 3G
‘Steven Jobs, o presidente-executivo da Apple, anunciou a mais recente versão do iPhone, com uma série de modernos programas, uma nova e mais poderosa conexão com a internet e um corte acentuado no preço do aparelho.
O aparelho será vendido por US$ 199 (com memória de 8 GB) e US$ 299 (memória de 16 GB) -os modelos antigos eram comercializados a US$ 399 e US$ 499, respectivamente. O novo iPhone chegará às lojas de 22 países em 11 de julho e seu preço de venda será uniforme em todo o mundo.
No Brasil, a Apple já negociou um acordo com a Claro para a venda do aparelho, mas, de acordo com o site da empresa americana, ele chegará ‘em breve’ ao país. O México, sede da América Móvil (a controladora da Claro) e que entrou no mesmo pacote, já receberá o produto em julho, assim como Portugal e Nova Zelândia, entre outros.
Como já era esperado, o novo modelo operará nas redes de telefonia móvel de terceira geração, ou 3G, que permitem conexões de internet muito mais rápidas que as disponíveis no iPhone original, lançado em 2007. Jobs, na entrevista de lançamento do produto, definiu essas velocidades como ‘espantosamente rápidas’.
O aparelho, mais fino que o original, também disporá de capacidade integrada de GPS, de baterias de maior duração e de uma tela de 3,5 polegadas.
Jobs também desafiou diretamente a Microsoft com um serviço móvel de web cujo intuito é permitir que o usuário integre telefone, programa de agenda e calendário em diferentes aparelhos. O serviço, que custará US$ 99 ao ano e virá com capacidade de armazenagem de dados de 20 gigabytes, é semelhante a um serviço oferecido pela Microsoft, mas mostra as preocupações de design e a integração sem problemas que caracterizam a Apple.
Os mercados norte-americanos, no entanto, não demonstraram muito entusiasmo com o anúncio. As ações da Apple chegaram a cair US$ 10 durante o dia. No final do pregão, porém, recuperaram parte das perdas, valendo US$ 3,96 menos que na sessão de sexta-feira (desvalorização de 2,13%).
Jobs já disse que a sua meta para este ano é vender 10 milhões de iPhones. Segundo os últimos disponíveis, de março, a empresa já tinha embarcado 5,5 milhões de unidades. A Apple vem acionando acordos com diversas operadoras de telefonia móvel em todo o mundo. No total, já foram anunciados acordos com operadoras de 70 países.
Os únicos grandes países nos quais a Apple ainda não estabeleceu um acordo de distribuição são Rússia e China.
Tradução de PAULO MIGLIACCI’
IMIGRAÇÃO
Livro reúne, pela 1ª vez, dados do censo sobre japoneses
‘O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) lança no dia 17 deste mês o livro ‘Resistência & Integração – 100 anos de imigração japonesa no Brasil’, publicação que reúne pela primeira vez dados dos censos, desde 1920, sobre a chegada e a distribuição dos japoneses pelo território brasileiro.
O livro, resultado de uma pesquisa nos arquivos do Centro de Documentação do IBGE, trará ainda dez artigos de 15 especialistas. Eles traçam um perfil dos japoneses que emigraram antes e após a Segunda Guerra Mundial, diferenciam as principais colônias -SP, PR e RJ- e analisam fenômenos recentes, como migrações dos descendentes entre Brasil e Japão.
‘Era um trabalho que nós [pesquisadores] estávamos devendo ao público’, diz a especialista em história da imigração japonesa Célia Sakurai, uma das organizadoras.
Com base nos dados, alguns artigos abordam mitos sobre os descendentes japoneses, como o da eficiência no trabalho, fruto da ‘vocação agrícola’ do Japão, que tinha que produzir o máximo em seu pequeno território.
Outro mito tratado é o do talento nipônico para os estudos, cuja origem remonta às escolas budistas no Japão, diz o artigo do professor da USP Masato Ninomiya.
s versões em português e em inglês serão lançadas no dia 17 às 19h30, no Anhembi, em SP. A versão em japonês sairá no dia 22, em Maringá (PR), durante visita do príncipe japonês Nahurito. O livro, ainda sem preço definido, será vendido nas livrarias do IBGE.’
TELEVISÃO
Lucas Neves
Série é ambientada na polícia paulista
‘São Paulo tem a partir de hoje sua versão de ‘Nova York contra o Crime’, série policial que renovou o gênero na TV americana em meados da década de 90 ao aliar um olhar detido sobre os dissabores profissionais e pessoais de policiais à batida investigação criminal.
É ‘9 MM: São Paulo’, primeira produção 100% nacional da Fox, que acompanha a rotina de quatro investigadores e um delegado numa divisão de homicídios paulistana. Na equipe, há desde um agente amargo que flerta com a ilegalidade até um neófito deslumbrado com a adrenalina da profissão.
A Folha assistiu a 25 minutos do primeiro episódio. Na história, o grupo apura as circunstâncias da morte de uma ex-participante de reality show de ‘quase famosos’. O empresário dela se mostra suspeitosamente insensível ao anúncio do óbito.
Em outra frente, corre a investigação sobre o suposto assassinato de uma mulher por seu marido. Aliciamento de menores e redes de prostituição mantidas por ‘bacanas’ trarão reviravoltas ao caso.
No trecho visto pela Folha, chama a atenção o bom acabamento técnico e a apresentação competente dos protagonistas, sem prejuízo ao curso do enredo policial.
Há problemas pontuais de escalação no elenco secundário e certos excessos no esforço de conferir gravidade a uma ou outra cena. Mas vale ficar de olho no desenvolvimento das tramas pessoais do veterano Horácio (Norival Rizzo) e de Luisa (Clarissa Kiste), a ‘caxias’ da equipe.
A primeira temporada de ‘9 MM’ terá quatro episódios (gravados em alta definição), que serão mostrados também nos mercados da Fox na América Latina. Outros nove capítulos estão em pré-produção. A exibição da segunda leva está prevista para o início de 2009.
No processo de desenvolvimento de roteiros para a série, cerca de 40 policiais foram entrevistados, segundo o co-criador e produtor Roberto d’Avila. O delegado da divisão de prevenção e educação do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) Marçal Honda, 43, foi um deles.
Ele conta ter falado sobre ‘o lado técnico da coisa, mas também o humano, os conflitos internos’. ‘Temos de passar a imagem de anjos da guarda, protetores. Porém, por trás da armadura, há um ser humano suscetível a sofrimentos.’
Na entrevista que concedeu à equipe de ‘9 MM’ e na consultoria dada na elaboração dos quatro primeiros roteiros, ele diz que se preocupou com que ‘o público não entendesse como padrão aquilo que foge à legalidade, como um policial usuário de drogas ou que faz justiça com as próprias mãos’.
Vez por outra, quem faz justiça a seu modo na série é Horácio, que não vê problema em ‘pegar um sujeito pelo colarinho’, segundo D’Avila. Seria a encarnação televisiva do capitão Nascimento de ‘Tropa de Elite’?
‘Não, porque não faz isso de modo contumaz. É muito mais um lobo solitário, um cara que tem seu próprio método’, diz o criador. ‘Há uma diferença clara entre ‘Tropa’ e a série: o filme trata da potência, e nós, da impotência, por falta de instrumentos de trabalho ou algum outro fator.’
Impotentes, os protagonistas não estarão imunes a pecadilhos. ‘Não há um maniqueísmo, um certo e errado tão bem definidos. Essa flexibilidade do valor moral é inerente à nossa sociedade e não deixa de estar lá, por mais que o secretário de segurança e o governador busquem uma oficialidade rígida’, conclui D’Avila.
9 MM: SÃO PAULO
Quando: estréia hoje, às 22h
Onde: na Fox’
INTERNET
Sem controle
‘Sabe a liberdade que você experimenta na internet -de navegar onde quiser, baixar músicas e filmes, pegar uma foto aqui, um texto ali e colocar em seu blog- e que parece inerente à rede, como se fosse uma qualidade natural do sistema?
Bem, ela não é assim, como uma dádiva inalienável -pelo contrário, está sendo tomada aos poucos de você, que deve, portanto, lutar para mantê-la.
Isto é o que pensa Cory Doctorow, 31, jornalista canadense que é uma das personalidades mais conhecidas e respeitadas da rede, graças ao blog do qual é editor, o Boing Boing -o mais popular do mundo, segundo o ranking do site especializado Technorati.com, e vencedor tanto do Oscar dos blogs (o Bloggies) quanto do da rede (o Webby Awards).
No Boing Boing, as dezenas de posts diários focam em assuntos tecnológicos, na defesa dos direitos dos usuários e em cultura popular. O blog também é famoso por estimular boicotes contra grandes corporações -e, contabilizando mais de 3 milhões de pessoas apenas entre seus assinantes, sempre causa grande barulho. Numa briga contra o Bank of America, por exemplo, o blog diz ter gerado uma perda de US$ 2 milhões em contas encerradas.
Liberdade conquistada
‘A internet não é livre porque tem uma resistência inata à censura, mas porque as pessoas lutaram muito para mantê-la assim’, disse Doctorow em entrevista à Folha, por telefone.
‘Hoje, acho que há uma grande aliança de inúmeros grupos que têm cada um sua razão para querer uma internet menos livre, desde donos de direitos autorais até governos opressores e gente preocupada com spam e com os vírus.’
Essa preocupação de Doctorow com a liberdade na rede se reflete em seus posts no Boing Boing e, agora, ele a transformou em um livro de ficção, ‘Little Brother’, que acaba de ser lançado no exterior e já está na lista de mais vendidos do jornal ‘New York Times’.
‘Sempre usei o Boing Boing como um lugar para guardar minhas anotações sobre o que estou pensando. Eu observo o mundo e vejo coisas que mereceriam livros, escrevo sobre elas no blog e, eventualmente, elas acabam em livros.’
O pequeno irmão
‘Little Brother’ (em oposição ao Big Brother orwelliano) fala de um grupo de jovens de São Francisco que usa a tecnologia para reconquistar sua liberdade que, num cenário fictício, mas longe de ser improvável, foi cerceada pelas ações que o Departamento de Segurança dos EUA adotou para combater o terrorismo, após um ataque.
‘Tendo perdido várias das liberdades fundamentais que definem um ser humano livre, eles reagem, constróem uma internet paralela a partir de [consoles de videogames] X-Box hackeados, que não podem ser rastreados’, diz Doctorow.
‘Havia diversas coisas que eu queria abordar no livro. A mais importante é que, na minha adolescência, via os computadores como uma ferramenta de liberação e, hoje, os garotos vêem, com razão, que os computadores são usados para rastreá-los, para espioná-los e controlá-los.’
Filho de professores trotkistas, Doctorow é militante de primeira hora no movimento pela revisão dos conceitos de direito autoral e por isso se aproximou de diversos brasileiros, como o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e o advogado Ronaldo Lemos, diretor do projeto Creative Commons (que prevê licenças de direitos autorais flexíveis) no Brasil.
Ele vê uma tendência de ‘autoritarismo crescente’ e rechaça o discurso dos que desejam maior controle sobre a rede e argumentam que querem controlar apenas alguns tipos de tráfego (como os downloads ilegais) e de sites.
‘Isso é como a gravidez, ninguém fica só ‘um pouco’ grávida. Uma pequeno sistema de controle já tornaria a internet completamente diferente da rede livre, porque seria aplicado a inúmeras coisas.’’
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