Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Forças Armadas repudiam cartum do Post

Mais uma polêmica no mundo dos desenhos. Desta vez, o problema envolve o Washington Post e as Forças Armadas americanas. Em protesto a um cartum publicado pelo jornalão no domingo (29/1), o Estado Maior das Forças Armadas divulgou uma carta de repúdio, classificando a imagem como ‘além do mau gosto’.


Desenhado pelo ganhador do Pulitzer Tom Toles, o cartum mostra um soldado completamente enfaixado e sem as pernas e os braços, em cima de uma cama de hospital. Ao lado dele, o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, vestido de médico, afirma: ‘Estou colocando sua condição como ‘calejado pela batalha’’.


O cartum é baseado em um comentário feito por Rumsfeld na semana passada. Refutando um alerta feito por um estudo patrocinado pelo Pentágono de que a guerra do Iraque estaria arriscando ‘quebrar’ o Exército, o secretário afirmou que os militares americanos estariam fortalecidos, ou calejados, pela batalha e constituiriam uma ‘enorme força capaz’.


Toles afirmou entender a resposta dos militares, apesar de não se arrepender de ter feito o cartum. Pensando sobre os comentários de Rumsfeld, diz ele, ‘o que veio a minha cabeça foi o catastrófico nível de ferimentos sofridos pelos membros das Forças Armadas… Eu achei que meu desenho retratava de maneira justa a realidade da situação’, afirma, completando que em nenhum momento teve a intenção de depreciar, ofender ou atacar os soldados feridos no Iraque.


Desserviço à nação


A carta para o Post, assinada pelo general Peter Pace, presidente do Estado Maior das Forças Armadas, pelo vice-presidente e pelos chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica, dizia que o jornal e o cartunista haviam prestado ‘um desserviço a seus leitores e a sua reputação’ ao usar ‘um insensível retrato daqueles que se ofereceram para defender esta nação e, como resultado, sofreram feridas traumáticas e permanentes’.


‘Ainda que alguns de seus leitores não concordem com a guerra, nós acreditamos que vocês devem aos homens e mulheres e famílias que, de modo abnegado, servem a nosso país, a decência de não fazer pouco de seus tremendos sacrifícios físicos’, continuava o texto.


O editor da página editorial do Post, Fred Hiatt, afirmou que não censura Toles e que ‘um cartunista trabalha melhor sem alguém respirando atrás de seu ombro’. Sobre o polêmico desenho, ele diz entender os ‘fortes sentimentos’ causados pela publicação, mas ressalta que o vê como ‘um cartum sobre o estado do Exército e não algo com a intenção de humilhar os soldados feridos’. Já Dave Autry, subdiretor de Comunicações do Disabled American Veterans, organização de apoio a veteranos de guerra mutilados, disse que não ficou ofendido com o cartum. ‘Foi gráfico, sem dúvida. Mas trouxe para casa a questão de que há pacientes em estado crítico que certamente precisam ser observados’, afirmou. Informações de Howard Kurtz [Washington Post, 2/2/06].