As duas revistas semanais de maior circulação tentam desvendar as trilhas do advogado Roberto Teixeira, amigo e compadre do presidente Lula, nas sendas do poder federal.
Veja fez o arroz-com-feijão: a partir do depoimento da ex-diretora da Anac Denise Abreu, requentou as declarações feitas por ela em entrevista ao Estado de S.Paulo, há duas semanas, apresentando fac-símiles de documentos também já publicados, mas não avança na história. A tese de Veja é de que o advogado se valeu da antiga amizade com o agora poderoso Lula para favorecer um cliente, a empresa aérea Gol, na disputa pelo espólio da Varig.
Época fez diferente: procurou o próprio Teixeira, acusado por Denise Abreu de haver feito tráfico de influência em favor da Gol, que comprou a Varig por um preço inferior ao que supostamente seria oferecido pela concorrente TAM.
A leitura das duas revistas deixa bem clara a diferença entre reproduzir declarações e ir direto à fonte, mas nenhuma delas ajuda a entender o negócio nebuloso que envolve o ocaso da outrora mais poderosa empresa aérea brasileira.
Questão moral
Sabe-se que a Varig foi adquirida por um grupo de investidores, entre os quais havia pelo menos um empresário com todos os sinais exteriores da personagem que no jargão dos negócios escusos é chamada de ‘laranja’.
Sabe-se também que Roberto Teixeira cobra honorários por supostamente ter conseguido livrar os compradores de uma dívida da Varig, superior a 2 bilhões de reais.
Mas a própria denunciante, Denise Abreu, se nega a afirmar que tenha havido ingerência irregular, ou no nível da ilegalidade, do governo na disputa. Também não se sabe se a TAM realmente estava interessada em comprar a Varig, ou apenas em atrapalhar os planos da concorrente Gol.
O que se discute, basicamente, é uma questão moral: o amigo do presidente pode ou deve atuar profissionalmente numa disputa comercial que pode ser decidida pelo governo?
Mercado dominado
Enquanto a imprensa discute essa questão, que em última instância pode se resumir ao controverso foro íntimo de um advogado, a situação da Varig se torna insustentável. A disputa judicial que pode bloquear as operações da Varig deverá inibir novos investimentos na empresa e acelerar o sucateamento do seu patrimônio.
Milhares de pessoas ainda sofrem as conseqüências do desemprego e das dívidas trabalhistas da empresa.
E o setor aéreo nacional segue dominado pelo duopólio Gol-TAM, que define a qualidade dos serviços, os preços, a segurança e o conforto dos passageiros.