Com a capacidade de promover a inclusão digital, a consciência política e o exercício da cidadania, os telecentros comunitários têm potencial para transmutar a realidade de milhares de brasileiros colocados à margem da sociedade.
Em situação de risco social, 120 milhões de cidadãos, número correspondente, segundo Censo Escolar, a 89% da população do país, encontra-se alijada de interagir na Rede Mundial de Computadores, teia digital multifacetada e multimídia, povoada pela infinita diversidade de informações.
À frente da telinha mágica do PC, comunidades colocadas à mercê das manipulações políticas podem mudar, ao serem conectadas à internet, sua ‘condição de espectador passivo para a de sujeito operativo e interativo’ (FUSER, Bruno), uma vez que informações coletadas na Rede Mundial de Computadores transformam-se em matéria-prima para o exercício da cidadania.
Os telecentros são ‘un espacio donde las personas acceden a las TIC y las usan como medios para influir em el desarollo de sus comunidades, mejorando su calidad de vida‘ (FUSER, Bruno).
‘Um instrumento político de classes subalternas’
Além de facilitarem o acesso a informações de qualidade sem a censura existente nas linhas editoriais de uma considerável parcela dos veículos de comunicação de massa, os telecentros comunitários garantem à comunidade plena integração com a realidade na qual se encontra inserida.
Ao resgatarem o princípio dos medias comunitários, segundo o qual as ‘mensagens são produzidas para que o povo tome consciência de sua realidade ou para suscitar uma reflexão ou ainda gerar uma discussão’ (PERUZZO, Cicília Maria Krohling), os telecentros motivam a população local a ‘alterar o injusto, alterar o opressor, alterar a inércia histórica que impunha dimensões sufocantes, através de uma vocação libertadora que se nutre por uma multiplicidade de experiências comunicativas’ (PERUZZO, Cicília Maria Krohling).
Ao deparar com a realidade que a cerca para produzir o conteúdo abrigado em sites, blogs, vídeos ou podcasts, disponibilizados via internet, a comunidade cria informações de caráter crítico-emancipador, questionando a causa dos problemas com os quais se defronta em seu dia-a-dia.
Temos, assim, o telecentro comunitário como uma faceta da comunicação alternativa, ou seja, ‘um instrumento político de classes subalternas para externar sua concepção de mundo, seu anseio e compromisso na construção de uma sociedade igualitária e socialmente justa’ (PERUZZO, Cicília Maria Krohling).
Informação e acesso à tecnologia
Embasada em notícias e reportagens recheadas com conteúdo crítico-emancipador, a comunidade torna-se capaz de debater importantes conceitos sobre administração pública, responsável pela gestão do bem-estar coletivo, para reivindicar ágeis soluções para os problemas detectados durante a produção editorial.
Engajados na cobrança de soluções para os problemas comunitários, milhões de brasileiros tornar-se-iam aptos, através das novas tecnologias da comunicação, a se libertarem da exclusão social com a prática da cidadania, pois os telecentros comunitários garantem ‘a informação e o acesso à tecnologia permitindo às pessoas participar nos processos de tomada de decisão que afetam suas vidas’ (PHIPPS, Linda), instituindo ‘uma sociedade baseada em igualdade, oportunidade, independência, autodeterminação, integração social com a melhoria da qualidade de vida’ (PHIPPS, Linda).
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Jornalista, blogueira e assessora de comunicação freelance, Pedro Leopoldo, MG