Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

EUA querem monitorar cobertura do conflito

Líderes militares americanos em Bagdá publicaram recentemente um edital de licitação para contratar uma empresa de relações públicas, noticia Walter Pincus [Washington Post, 31/8/06]. O objetivo é monitorar extensivamente a mídia dos EUA e do Oriente Médio, em um esforço para promover uma cobertura de notícias mais positiva sobre o Iraque. O contrato, no valor de US$ 20 milhões e com duração de dois anos, prevê a criação de um banco de dados de artigos selecionados, como parte de um programa para fornecer ‘produtos de relações públicas’ que melhorariam a cobertura do desempenho militar no Iraque.

O pedido de licitação vem em um momento em que funcionários da administração Bush criticam publicamente a cobertura da guerra no país. De acordo com a proposta, a empresa que vencer a licitação deverá ‘desenvolver estratégias e táticas de comunicação, identificar oportunidades e realizar eventos para comunicar efetivamente os objetivos do governo iraquiano e da coalizão, e construir apoio entre as audiências estratégicas para alcançar estes objetivos’.

Cobertura mais positiva

A proposta pede o monitoramento de canais de televisão – incluindo o do Pentágono –, de dois serviços de agências de notícias e dos jornais americanos Washington Post, New York Times e Los Angeles Times. Os monitores deverão selecionar as matérias que tenham relação com temas específicos, como segurança, atividades de reconstrução, atividades das forças de coalizão e eventos nos quais as forças de segurança do Iraque estão ‘na liderança’. As matérias devem então ser analisadas para que sejam determinados se houve a ‘disseminação de temas-chave’ e o se o ‘tom’ do artigo é positivo, neutro ou negativo.

Os veículos de comunicação serão classificados pela maneira como apresentam as operações das forças anti-Iraque ou da coalizão. Esta parte da proposta reflete a preocupação já declarada do secretário de Defesa dos EUA, Donald H. Rumsfeld, de que a mídia não cobre aspectos positivos do Iraque. Em um recente discurso para a Legião Americana, Rumsfeld fez duras críticas à cobertura da imprensa sobre a guerra, alegando que insurgentes e terroristas estariam tentando usar a mídia para desmotivar a população americana.

Serviço completo

A proposta sugere uma equipe de 12 a 18 pessoas para fornecer apoio ao comando militar da coalizão e à liderança do governo iraquiano. O futuro contratado deverá propor de quatro a oito eventos de relações públicas ao mês, como discursos ou coletivas que incluem ‘preparo de possíveis questões e sugestões de respostas, temas e mensagens’.

Uma empresa de relações públicas, que pediu para não ser identificada por estar envolvida na licitação, afirmou que autoridades militares ‘estão dominadas pela mídia [no Iraque] e estão tentando entender como disseminar suas informações’. De acordo com a empresa, há reclamações, por exemplo, de que determinados relatórios do Iraque citam mais o clérigo xiita Moqtada al-Sadr do que autoridades militares americanas.

Atualmente, a empresa de assessoria Rendon Group, que representou organizações como o Congresso Nacional Iraquiano, tem um contrato muito menor com o comando militar no Iraque, que inclui a criação de uma versão em árabe do sítio do comando. O prazo para o envio de propostas para a licitação encerra-se no dia 6/9, e o contrato de 24 meses está previsto para ser iniciado em 28/10.

Mudança de estratégia

Em maio deste ano, uma investigação do Departamento de Defesa americano concluiu que pagar a jornalistas iraquianos para produzir matérias positivas dos EUA poderia prejudicar a credibilidade do país. Na ocasião, os militares teriam recebido a recomendação de parar com a campanha de propaganda no Iraque iniciada em 2004, financiada pelo Pentágono.