Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Londres abriga clube de correspondentes de guerra

Vaughan Smith, 43 anos, foi membro de uma unidade de elite do Exército britânico e co-fundou o Frontline Television News, grupo de cinegrafistas britânicos que ganhou fama por enfrentar riscos extraordinários para conseguir imagens de zonas de guerra. Depois da morte de dois dos outros três fundadores da agência, Smith criou o Frontline Club em Londres, em 2003.

O lugar se tornou rapidamente parada obrigatória de correspondentes de guerra, que conversam em inglês, árabe e francês no bar, muitas vezes conectados a seus laptops. Mais do que um simples ponto de encontro para bate-papo, o clube virou também um espaço para a exibição de filmes e debates sobre a guerra e sua relação com questões do jornalismo.

Agenda ‘social’

Enquanto o bar é reservado aos membros – hoje são 850 associados, 70% deles na indústria de mídia, que pagam 250 libras anuais –, há um restaurante aberto ao público. Em um pequeno auditório no andar superior, viabilizado em parte pelos lucros do restaurante, são organizadas sessões cinematográficas, lançamentos de livros e mesas-redondas sobre assuntos atuais e jornalísticos. Em setembro, está programado um debate sobre a cobertura do conflito no Líbano, com especial atenção para as dificuldades que os jornalistas encontram ao tentar diferenciar fatos de informações distorcidas – em um momento em que tanto o Hezbollah quanto Israel se tornam cada vez melhores em propaganda de guerra.

‘Nós vimos nossos amigos sendo mortos enquanto trabalhavam’, diz Smith, que já foi, ele próprio, atingido por tiros duas vezes quando cobria a guerra dos Bálcãs. ‘Achávamos que o trabalho deles não era valorizado e queríamos estimular o debate sobre o papel do jornalismo’.

Esta é a diferença do Frontline Club para outros estabelecimentos famosos por abrigar jornalistas boêmios, como o Groucho Club, na década de 80, o Soho House, nos anos 90, e o Wig & Pen Club, que reunia repórteres e advogados nos dias de glória da Fleet Street, fechado em 2003. O clube de Smith é um bom lugar, pode-se dizer, para espiar uma conversa sobre a situação política do Quirguistão, por exemplo.

Expansão

O ex-cinegrafista de guerra diz que o clube não tem como objetivo lucrar com o ‘glamour’ da reportagem em zonas de conflito. ‘Sim, é sexy e eu vejo o apelo que tem, mas estamos aqui para servir a comunidade e responder a uma necessidade, e não para usar esta comunidade’, afirma ele, que conseguiu montar o Frontline com dinheiro emprestado e com a ajuda do Open Society Institute, organização filantrópica fundada pelo investidor bilionário George Soros.

Mesmo que o clube ainda não se mantenha financeiramente, Smith planeja aumentar o projeto. A idéia é abrir uma filial em Nova York ou Washington com algum parceiro local. Um plano mais concreto, entretanto, é se aproximar da Rússia, onde liberdade de imprensa virou questão complicada no governo do presidente Vladimir Putin, que expandiu seu controle sobre a mídia nacional e passou a repreender as atividades de organizações não-governamentais. O Frontline planeja, nos próximos meses, dar início a uma série de eventos no país em parceira com organizações em defesa da liberdade de imprensa, como o Centro para Jornalismo em Situações Extremas e a Internews Russia.

Smith pensa também em um meio de usar o sítio do clube como um veículo para divulgar trabalhos de jornalistas independentes, talvez a partir de blogs ou links de vídeo. ‘Uma coisa que aprendi é o quão motivadas são as pessoas no jornalismo’, sentencia. Informações de Eric Pfanner [The New York Times, 28/8/06].