Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa sofre com repressão judicial

A organização Repórteres Sem Fronteiras alertou em seu sítio, nesta terça-feira (5/9), sobre o aumento de abusos judiciais sofridos por jornalistas iranianos nas últimas semanas. Em uma onda de processos legais, diversos profissionais foram sentenciados à prisão e intimados a interrogatórios.


Em 28/8, tribunal em Teerã condenou Issa Sahakhiz, editor dos jornais Aftab e Akhbar Egtesadi, a quatro anos de prisão e o proibiu de exercer atividade jornalística por cinco anos. Lançado em 2000, o Aftab, publicado mensalmente, foi fechado por acusações de ‘insultar o Líder’ e ‘divulgar informações falsas’ depois que estampou em suas páginas artigos criticando as penitenciárias do país e pedindo por reformas políticas.


Emadoldin Baghi, editor do jornal hoje proibido Jumhuriyat, foi intimado a depor no mesmo dia pela promotoria pública e foi interrogado sem a presença de seu advogado. Baghi e sua mulher, editora do também proibido Jameh-e-no, são rotineiramente interrogados por agentes do Ministério da Inteligência. Em 2000, ele recebeu sentença de prisão por ‘atacar a segurança nacional’ e ‘disseminar notícias falsas’. Libertado em 2003, o editor ainda não conseguiu reaver seu passaporte.


Em 19/8, a editora do diário financeiro Asia, Saghi Baghernia, recebeu sentença de seis meses de prisão pela Suprema Corte de Teerã por ‘propaganda contra o regime’ por ter publicado a foto de um líder da oposição.O marido dela, editor do diário Iraj Jamshidi, foi detido e condenado a um ano de prisão, em 2003, pelo mesmo motivo.


Segundo a RSF, estes casos exemplificam como é difícil exercer a profissão de jornalista no Irã. ‘As autoridades devem parar de perseguir a mídia desta maneira’, afirmou a organização, que também pede pela libertação do jornalista Mehrdad Qassemfar e do cartunista Mana Neyestani, presos há meses.


O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o aiatolá Ali Khamenei estão na lista dos ‘predadores da liberdade de imprensa’ divulgada todos os anos pela RSF.


Presidente ataca acadêmicos liberais


Como se não bastasse a repressão sofrida pela imprensa, Ahmadinejad ataca também os acadêmicos iranianos. Na terça-feira, segundo nota da AP [5/9/06], o presidente discursou em favor da ‘descontaminação’, nas universidades do país, da presença de ‘professores liberais e seculares’, chamando os estudantes a voltar ao ‘radicalismo ao estilo da década de 1980’.


Em um encontro com universitários, Ahmadinejad afirmou que eles deveriam ‘gritar ao presidente’ e questionar a presença de acadêmicos liberais e seculares nas instituições de ensino superior. Ele reclamou também das dificuldades em se concretizar reformas nas universidades iranianas, ‘afetadas pelo secularismo nos últimos 150 anos’. Ahmadinejad prometeu, entretanto, que ‘as mudanças estão começando’.


Como chefe do Conselho da Revolução Cultural, o presidente tem autoridade para realizar tais mudanças. O discurso desta semana, entretanto, parece ter como objetivo maior encorajar os alunos simpatizantes da linha-dura a começar uma pressão por si próprios do que a ameaçar o corte forçado de professores.


No começo do ano, dezenas de acadêmicos liberais foram ‘aposentados’. Em novembro de 2005, apesar de protestos dos estudantes, o governo nomeou, pela primeira vez, um clérigo para comandar a Universidade do Teerã, mais antiga instituição de educação superior do país.


Ahmadinejad parece dar sinais de que pretende reviver no Irã os objetivos fundamentalistas defendidos pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, pai da revolução islâmica de 1979. Pouco após a revolução, na década de 80, centenas de professores liberais e de esquerda foram demitidos das universidades e diversos alunos foram expulsos das instituições.