A imagem da família reunida, à noite, em volta do televisor não promete ser quebrada pelas novas tecnologias, ainda que a maioria dos membros esteja agora, provavelmente, falando pelo Twitter, navegando pela internet ou acompanhando outra coisa qualquer online ao mesmo tempo.
Segundo o levantamento anual que faz o órgão regulador da mídia britânica, o Ofcom, mais da metade da população adulta usa smartphones e cerca de 25% possui um tablet, números que representam o dobro do ano passado. O Ofcom constatou que metade da populaçãousa esses dispositivos móveis de alta tecnologia enquanto também assiste à televisão, mudando a imagem de uma nova geração de “multitarefas”. No entanto, o tradicional aparelho de TV continua sendo a tela preferida da nação, com 91% da população britânica adulta acompanhando-a semanalmente, número que era 88% em 2002.
Como a maioria dos pais certamente sabe, os “multitarefas” são provavelmente os membros mais jovens da casa, que adaptaram mais rapidamente suas ações de mídia a uma série de aparelhos e sites. Isso extrapolou para a vida familiar. Numa avaliação diária, é mais provável que os jovens de 16 a 24 anos enviem uma mensagem aos amigos ou à família do que telefonem ou falem diretamente com eles. Também é cada vez mais provável que estejam conversando com amigos via redes sociais ou e-mail, ao invés de digitarem um texto – as comunicações baseadas na internet superaram o tradicional SMS como método mais popular de comunicação semanal para essa faixa etária. Na verdade, o Ofcom revela que o volume de mensagens de texto enviadas vem caindo desde 2011. Verificou-se queda semelhante nos telefones fixos e celulares, assim como no uso dos correios, destacando uma mudança geral para mais comunicação via internet.
Tecnologia digital não se traduziu em lucros
No Reino Unido, em 2012 as pessoas passaram mais de um dia por mês, em média, usando a internet; 80% da população do país atualmente tem uma conexão com a internet. Mesmo assim, a TV continua sendo o centro de atenções de muitas residências. Em 2012, os telespectadores assistiram, em média, a quatro horas por dia, quando em 2004 esse tempo fora de 3 horas e 42 minutos. A TV também é o veículo pelo qual a maioria das pessoas –80% – acompanha as notícias. Uma em cada cinco pessoas diz que a TV é sua única fonte de informação e que a BBC é o principal provedor.
O diretor de pesquisa do Ofcom, James Thickett, disse: “As famílias se reúnem, cada vez mais, na sala de estar para assistir à TV, como faziam na década de 50, mas agora em aparelhos maiores, mais amplos e mais sofisticados. Ao contrário da família da década de 50, entretanto, também ficam fazendo outras coisas. Trocando tuítes sobre um show na TV, navegando pela internet ou assistindo a um conteúdo inteiramente diferente num tablet.” O Ofcom avalia que cada casa no Reino Unido tem, em média, três tipos de aparelhos que funcionam pela internet e são usados pelos chamados “multitarefas de mídia”.
Segundo o Ofcom, pouco mais da metade dos adultos desenvolvem regularmente multitarefas, o que divide esse grupo entre os que interagem ou comunicam algo sobre aquilo a que estão assistindo, e os que simplesmente “amontoam”, fazendo simultaneamente atividades sem qualquer relação. Segundo o Ofcom, grande parte das multitarefas é feita em tablets. A popularidade dos aparelhos é tão grande que o Ofcom descobriu um novo uso – o de “babá eletrônica”. Muitos pais dizem que usam seus tablets para manter seus filhos ocupados – e 91% reconheceram que seus filhos usam um tablet.
Para infelicidade da indústria de telecomunicações, esse aumento em tecnologia digital não se traduziu em lucros e o Ofcom ressalta que as receitas caíram pelo quarto ano consecutivo, à medida que os consumidores, atingidos pela recessão, reduziam seus gastos médios. Outros meios tradicionais de comunicação também entraram em declínio – quase a metade dos adultos manda menos cartas pessoais do que fazia dois anos atrás. Pacotes postais caíram 5,9% em 2012 e uma quinta parte dos consumidores disse que não enviou nada pelo correio no mês passado.
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Daniel Thomas, do Financial Times