Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Precisamente falso vs. aproximadamente verdadeiro

A coluna do ombudsman do New York Times publicada em 27/8 foi escrita por Jack Rosenthal (o titular da coluna, Byron Calame, está de férias). Rosenthal fez um guia para que os leitores possam entender melhor as pesquisas. Ele observou que, em março, a Associação Médica Americana publicou um índice alarmante de abuso do consumo de álcool e de sexo sem proteção entre universitárias nas viagens feitas durante as férias de primavera.


O relatório havia sido escrito com base em uma pesquisa realizada com uma amostra aleatória de 644 mulheres, com margem de erro de quatro pontos percentuais. Diversos veículos de comunicação divulgaram os números da pesquisa; o NYTimes optou por não publicá-la, porém incluiu algumas informações do relatório em um quadro. Posteriormente, foi revelado que a amostra não tinha sido aleatória – ela incluiu somente mulheres que quiseram responder às perguntas, sendo que apenas ¼ delas havia realmente viajado durante as férias.


O NYTimes publicou uma correção explicando a situação e informando que a amostra não era, portanto, representativa. Exemplos como este prejudicam a confiança pública em pesquisas, avalia Rosenthal. Ele cita um outro exemplo de pesquisas, publicado recentemente pelo Wall Street Journal, que também contribui para o descrédito do gênero. O jornal encomendou uma pesquisa com o intuito de mostrar que ‘milhões de crianças’ compram álcool pela internet. A empresa de pesquisas, no entanto, só entrevistou internautas e pagou aos adolescentes que responderam às perguntas.


Dicas


Diante deste panorama, o NYTimes decidiu publicar um relatório de sete páginas sobre padrões de pesquisa para editores e repórteres. ‘Manter pesquisas malfeitas fora do jornal é tão importante quanto manter as bem-feitas no jornal’, constatou o documento. Para Rosenthal, as normas são essenciais para um jornalismo responsável, mas a responsabilidade não deve ficar somente nas mãos dos jornalistas – os leitores devem saber algo sobre as pesquisas, pelo menos o suficiente para distinguir as boas das más. Na coluna, Rosenthal dá algumas dicas para os leitores: é preciso ficar atento à falsa precisão, na qual há muitas casas decimais; aos erros de amostragem; às questões e às respostas usadas nos questionários e à intensidade, ou seja, como as pessoas se sentem em relação ao tema do questionário.