Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vídeos são uma convincente propaganda de guerra na Síria

Fotos mostrando o Exército sírio usando armas químicas contra Ghouta Ocidental tomada pelos rebeldes logo ao leste de Damasco são impactantes e comoventes. Mas elas devem ser vistas com ceticismo porque suas alegações parecem muito com as de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa e antecederam a invasão dos EUA e do Reino Unido ao Iraque, em 2003. Entretanto, a alegação atual difere das anteriores no número de mortos, variando até 1.300, e na quantidade de evidência de mortos e agonizantes no YouTube apoiadas por entrevistas com ativistas locais.

Assim como a oposição iraquiana a Saddam, que ofereceu a maior parte da evidência de armas de destruição em massa, a oposição síria tem todos os incentivos para mostrar o governo usando armas químicas e estimular a intervenção estrangeira. Embora os EUA tenham esfriado seu envolvimento armado no conflito da Síria, o presidente Obama disse um ano atrás que o uso de tais armas pelo presidente Bashar al-Assad seria uma “linha vermelha”. A implicação era que os EUA deveriam responder militarmente, embora nunca tenham dito como isso se daria.

Mas o fato óbvio de que o uso de armas químicas pelo governo sírio seria contra seus próprios interesses não prova que isso não ocorreu. Governos e exércitos fazem coisas estúpidas. Mas é difícil de imaginar qualquer razão maior para fazer isso, já que possuem várias outras formas de matar pessoas em Ghouta Ocidental, como artilharia pesada e armas pequenas, que são de uso convencional. Todos os dias, ressoa em Damasco o som das artilharias disparadas contra as bases rebeldes.

Discursos manjados

O problema é que a evidência até agora do uso de armas químicas pelo Exército sírio é de segunda mão e vem de uma fonte parcial. Essa é uma boa razão para ter um time de 20 especialistas da ONU em Damasco para investigar, em três casos, se o governo ou a oposição tem usado o gás. Eles podem ir para Ghouta Ocidental investigar as alegações da oposição imediatamente? Isso não é muito provável, dada a natureza limitada do mandato deles e da necessidade de cruzar de território do governo para dos rebeldes.

Em junho, os EUA disseram que tinham evidência conclusiva do uso de armas químicas pelo governo sírio e que, por isso, dariam ajuda aos rebeldes. A ação americana foi provavelmente precipitada pela perda da cidade de al-Qusayr, pelos rebeldes e o medo de que o regime pudesse estar dominando o campo de batalha. Especialistas em armas químicas esperavam que os EUA fossem buscar comprovar que suas conclusões estavam corretas e serem transparentes sobre a origem do material testado e as formas pelas quais ele chegou ao país.

Eles também queriam detalhes do teste de laboratório, mas pouco disso foi produzido.

Organizações internacionais de mídia fazem seu melhor para verificar os vídeos do YouTube, mas eles não têm repórteres que sejam testemunhas oculares de ataques de armas químicas. Ceticismo sobre o filme produzido por ativistas da oposição aumentaram nos últimos dois anos, mas frequentemente eles são a única evidência disponível.

A dificuldade é, um vídeo pode ser alterado ou editado para provar um argumento? A batalha da propaganda de guerra no YouTube é uma frente importante na guerra síria. Quão certo se pode estar de que um filme em que um soldado sírio é decapitado por um rebelde associado à al-Qaeda não foi montado pelas forças de segurança da Síria? Grupos da oposição usam filmes uns contra os outros. Filmes alegando que 400 curdos foram massacrados por rebeldes aparentam terem sido manufaturados por um partido curdo usando um filme parecido com as atrocidades na Síria e no Iraque.

Denúncias raivosas e demandas de investigação pelos EUA e Reino Unido são improváveis para mudar algo devido à memória de discursos similares sobre as armas de destruição em massa no Iraque. Nesse estágio da guerra na Síria também é improvável que o fim do impasse final seja feito por uma intervenção estrangeira.

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Patrick Cockburn é colunista do Independent