Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Seriado me dá vontade de ser uma pessoa melhor

O último episódio de “Breaking bad” foi brilhante. O penúltimo também. A temporada toda, aliás. Mas não preciso falar sobre “Breaking bad”, o resto da internet já está fazendo isso. Hoje o tema da coluna é “The newsroom”.

Acabo de assistir ao último episódio da segunda temporada pela segunda vez. Fiquei tão empolgado que resolvi rever alguns trechos para escrever a coluna, mas acabei assistindo ao episódio inteiro novamente no embalo.

Para quem não conhece, “The newsroom” é uma série da HBO que se passa nos bastidores de um telejornal americano. É estrelada por Jeff Daniels e escrita por Aaron Sorkin, ganhador do Oscar pelo roteiro de “A rede social”. Ou seja, segue a fórmula de um drama de sucesso da TV americana: um grande ator que recebia pouco destaque no cinema, uma mente criativa badalada e o selo de qualidade HBO.

Apesar disso, está longe de ser unanimidade. Mesmo sendo incrivelmente bem escrita, bem dirigida e de ter bons atores, “The newsroom” sofre por ser “do bem”. Finais felizes são frequentes, o lado bom do ser humano é ressaltado, bons valores quase extintos são valorizados. Isso leva, claro, os mais cínicos a desprezarem a obra. Já vi amigos jornalistas zombando da versão irreal e idealizada da redação e dos funcionários da ACN (emissora fictícia do programa), sempre com comentários irônicos.

Mais esperanças

Mas é justamente isso que torna a série tão boa. No grupo de ótimos seriados da TV americana atual (“Breaking bad”, “Mad men”, “Game of thrones”, “Dexter” etc), encontramos protagonistas com moral deturpada e tramas que buscam explorar as fraquezas, crueldades e ambições do homem. É mais realista? É. As pessoas realmente não são doces, espertas, idealistas e espirituosas como os personagens de Aaron Sorkin. Mas é aí que está sua graça. “The newsroom” te incita a ser assim. A cada final de episódio, a série me dá vontade de ser uma pessoa melhor.

E uma das coisas que me deixou fascinado com o episódio do último domingo [15/9] é que Aaron Sorkin defendeu sua visão até o fim, incluindo uma citação como resposta para os críticos de sua trama “do bem”. Um dos personagens cita o livro “For common things”, de Jedediah Purdy, que fala sobre uma era cínica: pessoas com ironia terminal que se recusam a ter esperança ou a se importar abertamente. Sorkin deixa claro no diálogo que seus personagens estão ali para lutar contra isso. Que quer lutar pelo que é certo, independente das consequências e do tamanho de sua plateia.

Enfim, continuem contribuindo para o hype de “Breaking bad”. É, sem dúvidas, a melhor série da temporada, e já estou velho para parar de gostar de alguma coisa só porque virou modinha. Como fã do otimismo aaronsorkiano, me enche de esperança ver nos trending topics brasileiros “Breaking bad” e “Dexter” sendo mais comentados do que a eliminação de “A fazenda”.

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Matheus Souza é colunista do “Megazine”, de O Globo