Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Hora de atualizar o sistema

O leitor frequente de O Globo tem lido, nas páginas da editoria Rio, sobre o surto de assaltos que a cidade vive. São comuns no grande retão que liga Botafogo à Gávea e inclui as imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas. Estudantes saindo de escolas e universidades são vítimas preferenciais, mas qualquer um, distraído com um smartphone contra o ouvido, corre risco. O aumento no número de assaltos é, por um lado, uma história em todo carioca. As UPPs ocuparam os morros, parte do crime, em menor escala, desceu ao asfalto. Mas a história é também global. No último dia 18, os procuradores gerais de San Francisco, na Califórnia, e Nova York publicaram um aviso conjunto a respeito do que classificam de uma “epidemia global de roubo de smartphones”. E a primeira vacina está nas ruas para quem tem um modelo recente de iPhone: é o iOS 7.

A versão anterior do sistema operacional para celulares e tablets Apple apresentou ao público o recurso “Encontre meu iPhone”. Se o aparelho perdido estiver conectado à internet, basta clicar no ícone do aplicativo que, via GPS, a localização aparece indicada num mapa. Também é permitido bloquear suas funções remotamente e até mesmo apagar. Excelente recurso para quem perde, inútil no caso de roubos. Seja no Jardim Botânico, seja em San Francisco, ladrões sabem que devem imediatamente desligar o aparelho e, na sequência, retirar o SIM da operadora. Após isso, basta reformatar e pronto.

A versão 7 do iOS traz duas novidades. A primeira é que torna o código de quatro dígitos que bloqueia o iPhone obrigatório. Quem não bloqueia o seu terá de passar a fazê-lo. A segunda é que, para apagar todo o conteúdo do celular, será preciso antes liberar o comando mediante login e senha no sistema iCloud. É a mesma da loja iTunes. O ladrão pode roubar o iPhone mas ele será inútil. Impossível de apagar, impossível de usar. Um aparelho bonito mas inutilizado.

Métodos de bloqueio remoto

No último fim de semana, o Departamento de Polícia de Nova York começou a distribuir panfletos pela cidade. Recomenda a todos que tenham iPhones, iPads ou iPod Touches que façam o mais rápido possível a atualização gratuita. Lá, o problema é levado a sério. Em 2013, pela primeira vez em 20 anos, o número de crimes registrados cresceu em relação ao ano anterior. O culpado: roubos de smartphones, os da Apple encabeçando a lista. A Apple diz que a atualização pode ser feita nos modelos de iPhone 4, 4S e 5. É provavelmente um risco fazê-lo no 4 antes de ver muita gente testando. Periga o aparelho ficar muito lento. No 4S e 5 o risco é zero. Mas este não deve ser o único critério: pela primeira vez desde o lançamento do primeiro smartphone, a Apple mudou muito a cara do sistema. E tem gente reclamando.

Há um truísmo do mundo digital: ninguém gosta de mudanças. Quando site ou sistema operacional mudam de cara, os usuários mais frequentes reclamam. Sempre. Alguns comandos trocam de lugar e o impacto estético não é pequeno. Estamos habituados a encontrar o que buscamos num relance de olhos. Quando a cara muda, dificulta, causa estranheza. Desconforto. Com a exceção daquela turma minoritária que anseia por novidades, quem atualizar vai torcer o nariz. Atualizar, portanto, inclui ter de encarar uma ou duas semanas de mau humor. Depois, como sempre nesses episódios, passa.

Nos EUA como no Rio, os celulares mais procurados e com valor de venda mais alto no mercado negro são os da Apple. Além disso, são de fácil reconhecimento. Basta procurar quem esteja com fones brancos pendurados. Isso não quer dizer que a turma do Android não corra riscos. No Brasil, a linha Galaxy da Samsung é a mais vendida por todas as operadoras e, entre a garotada, um dos símbolos de status mais badalados. Ocupam aquele lugar que, uma geração atrás, servia aos tênis de marca.

Globalização tem disso, pois. Métodos de bloqueio remoto de celulares são os mais eficientes para interromper a epidemia global de assaltos. O exemplo da Apple veio, faltam agora Google, Samsung, Motorola, HTC, Nokia e outras tantas seguirem. E falta os usuários abraçarem a mudança.

******

Pedro Doria é colunista de O Globo