Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Perspectiva vs. equilíbrio

Em sua coluna de domingo (10/9), o ombudsman do New York Times, Byron Calame, tratou do conflito no Oriente Médio. Segundo ele, poucos assuntos geram tantas reclamações por parte dos leitores como a cobertura do tema. Algumas fotos usadas em matérias sobre o recente conflito entre o Hezbollah e Israel despertaram uma enxurrada de críticas. A maior parte delas era de leitores que argumentaram que as fotos favoreciam o Hezbollah, grupo de guerrilha libanês. Outros leitores, entretanto, acharam que algumas imagens, especialmente as do início do conflito, favoreciam Israel.

Com leitores considerando que o jornal havia sido tendencioso para ambos os lados em sua cobertura fotográfica, Calame decidiu analisar se o jornal havia oferecido uma perspectiva imparcial e precisa do conflito e dos seus impactos. O ombudsman revisou todas as fotos publicadas na versão impressa do jornal do dia 13/7, um dia depois do ataque inicial do Hezbollah em Israel, até o dia 14/8, quando o cessar-fogo negociado com as Nações Unidas teve início.

Para Calame, a cobertura fotográfica foi basicamente legítima ao representar o impacto do conflito nos dois países. “O jornal pareceu especialmente sensível, entretanto, à falta de fotos de soldados israelenses no Líbano, onde fotógrafos não podiam acompanhar as tropas”, alegou ele. “No que pareceu ser um esforço para manter a presença militar israelense na cobertura fotográfica, o jornal publicou algumas fotos de Israel que não tinham tanto valor jornalístico quanto as fotografias do Líbano”.

Estatísticas do conflito

Como a imparcialidade não pode ser determinada apenas pelo número de fotos em uma situação deste tipo, Calame recorreu a outro valor estatístico: o número de mortes. Quase 1.200 libaneses morreram no conflito, a maior parte deles civis. Isto representa um número sete vezes maior do que as 150 vítimas israelenses, em sua maioria soldados, segundo as estimativas do NYTimes. O índice de mortes pareceu, portanto, uma medida razoável para avaliar a cobertura. Editores do NYTimes responsáveis por fotografias e artigos tinham estes números constantemente atualizados. “Estávamos totalmente alerta. Absolutamente”, confirmou Michele McNally, editora assistente de fotografia.

O foco no número de mortos levou Calame a revisar o total de fotos mostrando cadáveres e caixões publicadas pelo jornal. Segundo o ombudsman, o número de imagens deste tipo retratando libaneses era oito vezes maior do que as de israelenses, o que representava bem as diferenças reais no índice de mortes durante o conflito. “Estávamos extremamente conscientes do número de mortes. Seria injusto se não estivéssemos”, conta a editora internacional Susan Chira.

As estimativas de prejuízos físicos não estavam disponíveis, porém Calame acredita que a destruição física foi ainda mais desproporcional do que o índice de mortes, e as fotos publicadas pelo NYTimes refletem isto. A quantidade de imagens mostrando a destruição no Líbano era oito vezes maior, comparadas as retratando a destruição de Israel.

Dificuldade de acesso

Uma outra questão levantada por Calame é que o acesso dos fotógrafos do jornal era diferenciado em ambos os lados. Enquanto o Hezbollah oferecia “tours” de destruição humana e física, Israel recusava o acesso a fotógrafos que quisessem acompanhar seus soldados no Líbano. Calame lembra que o destaque dado às fotos é uma das poucas maneiras que os editores têm de disponibilizar perspectiva e nuance. É o que também pensa o editor-executivo Bill Keller. “Fotos são mais maliciosas que palavras, porque seu conteúdo é, em grande medida, emocional e porque não é possível editá-lo”, diz.

Apesar dos esforços que os editores tiveram para que as fotografias refletissem a proporção do número de mortos e da destruição, eles trabalharam para que a cobertura não tendesse para algum lado do conflito. “Fizemos um esforço enorme para sermos o mais equilibrado possível. Se colocássemos uma criança libanesa na capa, no dia seguinte evitaríamos fazer o mesmo”, afirma Michele. Calame alega que é obrigação do jornal oferecer uma perspectiva justa e correta do conflito e dos seus impactos – tanto em fotos quanto em palavras.