Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Por uma comunicação tecnológica no Brasil

Todos veem o que pareces, poucos percebem o que és. (Niccolo Maquiavel)

Hoje, a cultura digital permite que qualquer usuário-interator, conectado à rede mundial de computadores, possa postar sua “visão de mundo” diante de tamanha exclusão social, longe do dito “controle/domínio” ideológico da opinião. Claro que, opiniões divergentes circulam na internet e causam reações distintas na sociedade. E diferentes posicionamentos proliferam variáveis ideológicas nas redes sociais.

O interesse em lidar com questões que tangem a cultura digital acende maior vigor investigativo no campo contemporâneo da comunicação, ao considerar alguns aspectos econômicos, identitários, socioculturais e políticos. Nesse sentido, pesquisas sobre as tecnologias emergentes (Cabral Filho, 2007; Hanns, 2009; Lemos, 2013; Primo, 2013; Rüdiger, 2013; Spyer, 2012) iluminam “novos/outros” caminhos a serem percorridos. Muito embora, enfatiza-se aqui uma perspectiva humanista, para além das possibilidades que evocam as tecnologias no constructum das experiências virtuais.

Este texto aborda algumas impressões a respeito da comunicação tecnológica no Brasil, ao propor um debate crítico, a partir dos estudos contemporâneos (Canclini, 2008; Chaui, 2006; Costa, 2004; Maturana, 1997; Vargas-Llosa, 2013; Villaça, 2011). A proposta é estimular a reflexão sobre o acesso à informação no país.

Oatualizar e o inovar

Também, discutir acerca do inseparável binômio mercado-mídia. Portanto, trata de uma escrita ensaística, cujo exercício parcial (em labor) de reflexão e registro aponta características da contemporaneidade, sobretudo no tocante à política e à comunicação pautadas pelas artimanhas da cultura digital.

Então, nasce uma pergunta: como alterar o quadro atual da política comunicacional no Brasil?

Questões que envolvem estética, técnica e ética dos veículos de comunicação estimulam o pensar e consequentemente a escrita, em especial quando se prevê atualizações que regem atenção para possíveis transformações sociais. Atentas à cultura digital, tais transformações são, também, incorporadas pelo esforço de intermediações que sistematizam mercado-mídia no país e no mundo.

Com isso, propõe-se um tipo de informação atualizada, mais eficaz e coerente com a sociedade, cujas estratégias da comunicação podem ser anotadas como emaranhado de desdobramentos. Em outras palavras, o atualizar e o inovar somam as características deste entorno.

Representações das tecnologias

Todavia, isso garante um ar dinâmico sobre as recorrências da sociedade atual. O que amplia experimentações criativas na interação do ato comunicacional e suas modulações representacionais. Ou seja, há variáveis discursivas – simulacros, simulações e simultaneidades – na tessitura da informação mercadológico-midiática.

Por isso, interessa destacar, ao longo dessa escrita, transversalidades criativas e críticas do campo contemporâneo da comunicação que possam implementar à produção do conhecimento humano. É preciso ter iniciativa para pensar e agir na velocidade do digital.

Logo, o pensar sobre as coisas – artefatos, objetos, produtos ou serviços – direciona o sujeito para uma pluralidade de situações cotidianas, cada vez mais, (re)conduzidas pela flexibilidade e pelo deslocamento. Ativam-se as ideias e o fazer também!

De fato, a expectativa seria elaborar predicações acerca da comunicação, que envolve a sociedade quando se elege a atualização dos modos de experimentar o consumo florescido na internet – entre bancos de dados on line, redes sociais, blogs etc. Tal consumo tecnológico acontece como resposta ao chamamento provocado pela cultura digital. Dessa forma, textos, imagens e sons proliferam, sugestionam e transformam os elementos axiológicos do discurso contemporâneo: são matizes efervescentes, em ebulição da atualização e da inovação.

E as representações incomensuráveis dessas tecnologias, em suas múltiplas (re)configurações, criam um grau significativo de indecidibilidades. O contemporâneo se (re)faz paulatinamente como propriedade provisória, parcial, inacabada, efêmera. Ou seja, deslizante, plural, multidimensional.

Território de reflexões e desafios

Diante de tamanha instabilidade, sem dúvida, isso (re)configura-se as ações pulsantes, latentes, que estremecem e acusam efeitos de sentidos. Alto grau de instabilidade recombina conceitos, dados, informações e inquietudes. Essas instabilidades ilustram diversas expressões que associam uma condição adaptativa da informação atual, capaz de prever o deslocamento e a flexibilidade como atividades inerentes à linguagem e suas caracterizações: não-linear, fragmentada, descontínua, simultânea, heterogênea, sincrética, acelerada, aberta, hermética, paródica, incompleta e/ou impactante.

Esse posicionamento serve como contraponto de agenciamento/negociação da exclusão de termos e expressões. Isso só é possível com um tom contemporâneo, a validar aberturas necessárias para trocas e/ou intercâmbios de informações, (re)feitas em compartilhamento de soluções criativas.

Dessa emergência, a manifestação de qualquer discurso aproxima pensamento e experiência como extensão aplicável entre teoria e prática. O enfoque acerca do contemporâneo, desse modo, visa a alertar o que ocorre, agora, no evento/acontecimento. Perante a urgente necessidade, o que está na agenda do debate atual. Mais que indicar uma questão temporal, a ideia de contemporâneo denomina um território de reflexões e desafios, em que noções, pressupostos, fundamentos e conceitos são (re)visitados, (re)lidos e (re)atualizados.

Critérios de transparência

Na refeitura dessas articulações reflexivas, o campo contemporâneo da comunicação contamina-se das tecnologias emergentes e o consumo, ao (re)dimensionar suas estratégias (hiper)midiáticas. E a informação, nesse contexto, transporta-se com maior rapidez e contribui para o mercadológico-midiático.

Porém, o monopólio da informação acentua a desigualdade social, porque destitui as possibilidades de divergência ao sistema hegemônico. Observa-se que quanto maior o impacto do consumo, perante o uso desenfreado das tecnologias emergentes (tablets digitais, telefones celulares, redes sociais etc) maior fica o rombo das condições humanas, que cada vez mais se distancia de um ideal social. Com isso, grandes emissoras de rádio e televisão concentram a programação dos veículos e massifica a informação em entretenimento. Portanto, esse monopólio sinaliza ações mais comerciais e menos culturais, o que empobrece a qualidade da informação e do viver.

Aqui, o que está em voga são as mediações e as tensões sobre os usos dos meios de comunicação atualmente. Isso cria uma oportunidade de debate, uma vez que falta criatividade para lidar com condutas que se organizam mais favorável à discussão.

Como resultado, a discussão aqui aponta para os problemas dos critérios de transparência das políticas da comunicação, no país, em busca de atualização e/ou inovação, sobretudo com a cultura digital. Isso legitima perspectivas discursivas que abordam, de alguma maneira, a comunicação, o consumo, a cultura, a tecnologia e a política.

Uma forma de diversão

Para além de uma mera assistência social, as políticas públicas deveriam ter em sua agenda à resolução de problemas – com destaque aqui para as estratégias que elencam a comunicação, como produção, distribuição e difusão. Verificam-se regulações tanto do poder público quanto do poder privado para enfrentar desafios e exigências, como: liberdade de expressão; informação de qualidade; acesso a conteúdos; concentração de propriedades dos meios privados; criação de agencia reguladora da comunicação no país etc.

Gostaria de finalizar com Mário Vargas-Llosa (2013, p. 182):

Nunca vivemos, como agora, uma época tão rica em conhecimentos científicos e invenções tecnológicas, nem mais equipada para derrotar as doenças, a ignorância e a pobreza; […] A razão de ser da cultura era dar resposta a esse tipo de pergunta. Hoje, ela está exonerada de semelhante responsabilidade, já que a transformação aos poucos em algo muito mais superficial e volúvel: uma forma de diversão para o grande público ou um jogo retórico, esotérico e obscurantista para grupelhos vaidosos de acadêmicos e intelectuais que dão as costas ao conjunto da sociedade.

Referências

CABRAL FILHO, J. S. “An indeterminate project for architecture in Brazil”. Kybernetes, v. 36, p. 1266-1276, 2007.

CANCLINI, Néstor Garcia. Leitores, espectadores e internautas. São Paulo: Iluminuras, 2008.

CHAUI, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006.

COSTA, Jurandir Freire. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

GARCIA, Wilton. Feito aos poucos_anotações de blog. São Paulo: Factash/Hagrado Edições, 2013.

HANNS, Daniela kutschatet al. Mídias multiplicação e convergências. São Paulo: EdSenac, 2009.

LEMOS, André. Tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 6ª ed. Porto Alegre: Sulinas, 2013.

MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade. Belo Horizonte: EdUFMG, 1997.

PRIMO, Alex (org.). Interações em rede. Porto Alegre: Sulina, 2013.

RÜDIGER, Francisco. As teorias da cibercultura. Porto Alegre: Sulinas, 2013.

SPYER, Juliano (org.). Para entender a internet:noções, práticas e desafios da comunicação em rede. 2009. Disponível em: <http://ebookbrowse.com/spyer-juliano-org-para-entender-a-internet-pdf-d322865036>, Acesso em 1.set.2012.

VARGAS-LLOSA, Mario. La civilización del espetáculo: uma radiografia de nosso tempo e da nossa cultura. Buenos Aires: Afaguara, 2013.

VILLAÇA, Nizia. A periferia pop na idade mídia. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011.

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Wilton Garcia é artista visual, doutor em Comunicação pela ECA/USP e pós-doutor em Multimeios pelo IA/Unicamp, professor da Fatec-Itaquá/SP e do mestrado em Comunicação e Cultura da Uniso; autor de Feito aos poucos_anotações de blog (2013), entre outros