Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff retomou seu perfil no Twitter, inativo desde o final da campanha, em 2010, com uma conversa com o perfil humorístico Dilma Bolada, mantido por Jeferson Monteiro.
As duas contas têm grande número de seguidores, 1,977 milhão na oficial, 158 mil na paródia, mas as respectivas audiências interagiram pouco, de acordo com levantamento.
Segundo Raquel Recuero, professora da Universidade Católica de Pelotas (RS) e autora do estudo, “apesar de conversarem entre si, cada uma das contas falou com um grupo diferente”.
Avalia que houve intersecção entre os dois grupos, mas “pequena em relação à audiência total”, que foi concentrada em perguntas e questionamentos voltados diretamente ao perfil oficial.
Democratização
Os dados coincidem com levantamentos semelhantes feitos por Fabio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo, sobre temas políticos como a votação dos embargos do mensalão, no Supremo Tribuna Federal.
Malini não vê problema na separação em grupos, no Twitter. Ele questiona, porém, “um certo idealismo impossível de se realizar” na defesa de interação maior, pois não é uma característica da rede social.
“O Twitter é rede direcional, em que você direciona sua interação, mas não é mão dupla”, diz. “Eu sigo você, mas você não me segue: essa natureza do Twitter já propicia uma separação.”
Ele até defende algum isolamento. “Ter a diferença, as posições distintas, equivale a uma democratização maior. E essas posições têm muito a ver com o grupo em que você se informa.”
Marketing
Sobre os perfis de Dilma e Dilma Bolada, Malini nota que o primeiro tem seguidores de “vários interesses, inclusive adversários”, e vem se firmando até mesmo como meio de obtenção de “informações exclusivas”.
Já o segundo “tem a ironia, o humor”, diz ele. Para Recuero, “a Dilma Bolada supre” um vazio na imagem da presidente, pré-candidata à reeleição. “É o lado em que fala o que quer, samba na cara dos outros.”
Esse ganho de marketing “não seria possível se não fosse o humor”, avalia Malini. Com viés paródico, o perfil, segundo ele, gera “identificação nas pessoas, que se envolvem, riem, falam bobagem para a Dilma Bolada”.
Recuero observa que Dilma “ganhou a eleição e sumiu” do Twitter. “Ficou uma coisa estranha”, porque desde então “ministros, deputados, todo mundo passou a ter, menos ela”.
Afirma que “é um pouco de medo” e requer, de fato, aprendizado. “Você tem milhares de exemplos, inclusive de políticos, que falam e depois se arrependem. E a internet não esquece.”
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Maioria dos estudos do tipo usa o microblog
A maioria dos estudos sobre tendências de rede social, tanto no Brasil como no exterior, toma por base o Twitter. Mas este tem 215 milhões de usuários mensais ativos, contra 901 milhões do Facebook.
Até que ponto o Twitter pode ser considerado representativo das redes como um todo? “Em princípio, ele não seria representativo”, diz Recuero. “Entretanto, nas pesquisas, a gente vê reflexos.”
Nos levantamentos feitos na universidade de Pelotas, os comportamentos no Twitter “acabam se espalhando para o Facebook”, o que também se observa em relação ao Instagram, rede de fotografia.
A avaliação é possível porque já existem “ferramentas que permitem usar o Facebook para algum estudo” da formação de redes, embora não “uma análise total”, pois os dados são anônimos. (N.S.)
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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo