Em outubro de 2012, durante a 68ª assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Arthur Sulzberger Jr., publisher do New York Times, defendeu que o futuro do jornalismo é ser cada vez mais global e digital. No contexto em que as notícias circulam em grande velocidade por todo o mundo, a atividade jornalística deveria se voltar para sua vocação internacional e atingir públicos em várias partes do mundo.
Na mesma linha de pensamento, de que o jornalismo tende a se expandir internacionalmente, Fábio Zanini, editor de “Mundo” da Folha de S.Paulo, acredita que a cobertura de assuntos internacionais no Brasil está em ascensão, mesmo no “cenário negro” para a atividade jornalística atual. Não que, segundo ele, a editoria internacional vá se tornar a preferida de todos os leitores, mas, sim, que está crescendo e ganhando importância. “O leitor médio sempre vai preferir outras editorias – política, cidade, esportes, cultura, economia – porque elas estão no seu dia-a-dia. O jornalismo internacional está mais distante fisicamente do que as pessoas precisam, percebem e consomem.”
Um dos motivos para essa ascensão do jornalismo internacional seria o crescimento da importância do Brasil no cenário mundial. “Mudou o papel do Brasil, mudou a importância relativa do país, portanto mudou o papel e a presença do jornalismo internacional. O noticiário de política externa hoje tem uma importância maior do que há dez anos, por exemplo.”
Outra razão que concorreria a essa é o crescimento da renda média da população brasileira, que permite que mais pessoas aprendam outras línguas e tenham condições de viajar para o exterior, o que naturalmente eleva o interesse pelo noticiário do resto do mundo e cria novos leitores.
Precarização e sucateamento
Para Zanini, os principais desafios para as equipes de jornalismo internacional estão em superar a cobertura das commodities do noticiário internacional. Como poucos veículos possuem estrutura para realizar coberturas próprias fora do país, as informações que chegam das agências aparecem da mesma forma nos mais variados meios. O uso massivo dessas informações torna homogênea a cobertura e cria as commodities do noticiário internacional, notícias que todo mundo tem e que todos os veículos oferecem.
Ainda que destaque a importância do material das agências, que cobrem os lugares que não são alcançados pelos correspondentes dos jornais, Zanini acredita que o diferencial está justamente na capacidade de escapar desse tipo de notícia. “Quanto menor a estrutura que você tem, mais difícil fica de fazer algo diferente. Mas quem quer se diferenciar no jornalismo internacional tem que investir em gente, investir em recursos humanos.”
Essa visão do editor da Folha concorda novamente com posição defendida pelo publisher do New York Times. Sulzberger Jr anunciou, na mesma assembleia da SIP, que não vai reduzir o número de correspondentes internacionais para diminuir os custos, contrariando a tendência observada em todo o mundo. Mais do que isso, afirmou que o número de enviados internacionais de seu jornal é maior do que nunca.
Seria um alento se a perspectiva de investimento em pessoal não viesse em tempos de redução de custos e cortes de pessoal. No resumo de Fábio Zanini, a área internacional está em ascensão e com perspectiva de crescimento no Brasil, mas não está imune à precarização e ao sucateamento que afeta a imprensa como um todo.
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Mateus Netzel é jornalista