O Brasil foi incluído no grupo dos nove mercados mais dinâmicos de 2012 na adoção de tecnologia da informação e comunicação (TIC), mas o consumidor brasileiro continua pagando caro pelas conexões. É o que mostra o relatório “Medindo a Sociedade da Informação”, divulgado ontem pela União Internacional de Telecomunicações (UIT). No ranking geral, o Brasil ficou na 62ª posição entre 160 países na pesquisa que mede o nível de desenvolvimento de telefonia, acesso à internet e outros serviços de telecomunicações. A Coreia, que é dona do acesso à internet mais rápido do planeta, dominou pela terceira vez consecutiva o Índice de Desenvolvimento de Tecnologia da Informação e da Comunicação.
A posição brasileira no ranking não se alterou em relação ao ano anterior, embora o país tenha apresentado evolução em várias áreas. A UIT indicou uma “melhora significativa” da conectividade das famílias brasileiras. A proporção de famílias com computador cresceu de 45% em 2011 para 50% em 2012, o que equivale dizer que metade das residências no país tem computador. A proporção de residências com acesso à internet mostrou crescimento ainda maior, de 38% em 2011 para 45% em 2012. No caso da banda larga móvel, o acesso no país pulou de 22% para 37% no período entre 2011 e 2012. A UIT, uma agência da Organização das Nações Unidas, destacou o programa nacional de banda larga, do governo federal, cujo objetivo é alcançar 40 milhões de residências até 2014 com velocidade de pelo menos 1 megabit por segundo (Mbps).
No documento, a UIT observa que o governo concluiu acordos com operadoras no país, com preço mensal entre US$ 30 e US$ 35 por conexão, oferecendo 1 Mbps. Em termos globais, a banda larga está cada vez mais rápida e 2 Mbps é, agora, o pacote mais básico.
No Brasil, celular pré-pago é um dos mais caros
O relatório da UIT indica que os brasileiros continuam entre os que comprometem um alto percentual de renda para ter acesso aos serviços de telecomunicações, com o preço calculado em dólar, o que reflete também a apreciação da moeda brasileira naquele período. No caso do celular, o custo de ligação no país continua a ser o mais caro em termos absolutos, em todo o mundo. O preço do minuto de ligação entre celulares da mesma operadora custa US$ 0, 71. O custo aumenta para US$ 0,74 se a ligação é para outro celular de uma operadora diferente – um preço mais alto que o cobrado na Suíça, que é de US$ 0,71. O custo brasileiro também é o mais alto, globalmente, na ligação de celular para telefone fixo – US$ 0,74.
Na China, o usuário de celular não paga mais de US$ 0,04 pelo mesmo minuto de chamada de celular, enquanto na Albânia o custo é quase sete vezes menor e na Argentina o consumidor paga duas vezes menos. A situação muda apenas ligeiramente em termos de Paridade de Poder de Compra (PPP), que corresponde à taxa de câmbio entre duas moedas, calculada conforme a quantidade de cada moeda que é necessária para comprar determinado produto e serviço idêntico no país. Nesse caso, o preço por minuto de chamada de celular no Brasil fica em US$ 0,69. Bulgária, Nicarágua e Seychelles cobram mais que o Brasil.
Conforme a UIT, os brasileiros comprometem 6,7% da renda, em média, com serviços de comunicação. O custo médio de assinatura fica em US$ 60 por mês. O mesmo serviço custa US$ 1,8 na Coreia do Sul, US$ 2,3 na China, US$ 12,8 no Peru e US$ 23 no México. O custo de telefonia fixa aumentou para 3,3% da renda em 2012 frente aos 2,7% de 2011, colocando o país na 112ª posição entre 161 países. O serviço de banda larga fixa pode custar 2% da renda, o que deixa o país na 53ª posição global. Nos países em desenvolvimento, o preço caiu 30% em média entre os anos de 2008 e 2011. A banda larga móvel é, agora, mais acessível que a fixa em termos de preço nesses países.
No Brasil, o celular pré-pago é um dos mais caros, ficando em 75ª posição, com preço médio de US$ 35 por pacote mensal de 500 megabytes (MB). O celular pós-pago deixa o país na 87ª posição em termos de preço.
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Celular impulsiona acesso à internet
A banda larga móvel, com acesso à internet via smartphones e tablets, tornou-se o segmento de maior crescimento no mercado global de tecnologia da informação e comunicação (TIC), segundo o relatório da União Internacional de Telecomunicações (UIT). A demanda global por produtos e serviços fez os preços declinarem, ao mesmo tempo em que ocorreu uma expansão sem precedentes das redes 3G.
As redes de internet sem fio continuarão a aumentar fortemente, acompanhadas de uma oferta crescente de aplicativos e serviços móveis. Uma importante tendência é o redirecionamento da infraestrutura das chamadas de voz para o tráfego de dados. Segundo a Cisco, fabricante americana de equipamentos de rede citada pela UIT, o tráfego de dados pela rede móvel cresceu 70% em 2012. Isso ocorreu sobretudo por smartphones ligados a serviços 4G, cuja velocidade é maior. A expectativa é que no fim de 2013, existam 6,8 bilhões de assinantes de telefone celular, quase toda a população do planeta. Ao mesmo tempo, 2,7 bilhões de pessoas estarão conectados à internet. O acesso em banda larga, mais rápido, está próximo de chegar a 2 bilhões de assinantes. O preço dos serviços de banda larga fixa caiu 82% em quatro anos.
As conexões de banda larga móvel sob os padrões 3G e 3G+ crescem a uma taxa de 40% na média anual. O relatório mostra que a velocidade da banda larga móvel continua a aumentar, e o preço dos serviços de acesso está caindo. Em quatro anos, o preço da banda larga fixa caiu 82%. Globalmente, mais 250 milhões de pessoas passaram a ter acesso a internet em 2012. Quase 40% da população mundial vai navegar na web ao fim de 2013. Mas a fratura digital no mundo continua elevada, com 1,1 bilhão de pessoas sem conexão à internet. Cerca de 90% dessas pessoas são de países em desenvolvimento.
Investimentos atingiram o pico em 2008
Entre 2007 e 2011, o faturamento do setor de telecomunicações cresceu 12%, atingindo US$ 1,8 trilhão, ou 2,6% do PIB mundial. Nos países desenvolvidos, o ganho no setor caiu em 2008 e 2009, por causa da crise financeira global. Nos países em desenvolvimento, as operadoras recuperaram-se antes, a partir de 2010, o que só ocorreu um ano depois nos mercados desenvolvidos.
Os gastos de capital (Capex) das operadoras de telecomunicações atingiram o pico em 2008, quando o investimento global totalizou US$ 290 bilhões. Seguiram-se dois anos de contração. Apesar da melhora em 2011, o nível de investimento ainda não voltou ao patamar de 2008. Os investimentos nos mercados emergentes foram mais estáveis.
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Satélite avança no mercado de TV paga
O Brasil é o quarto país em número de assinantes de TV por assinatura via satélite (DTH, ou Direct to Home), com 10 milhões de usuários no fim de 2012, só atrás da Índia (38 milhões), dos Estados Unidos (36 milhões) e da Rússia (pouco acima de 10 milhões). A África do Sul está na frente em termos cobertura – das residências com TV no país, 54% delas usam DTH, informou ontem a UIT. O crescimento econômico e o encorajamento do governo aos investimentos estrangeiros resultaram na melhora das redes a cabo, além de investimentos em fibra óptica e ADSL (tecnologia de rede de telefonia) no Brasil. Mas a UIT observou que boa parte do crescimento do mercado no país veio através da TV paga por satélite.
Apesar dessa evolução, a TV paga ainda só estava presente em 28% das residências no Brasil em 2012. A crescente concorrência no mercado de TV paga está reduzindo o ganho médio por usuário, especialmente com as operadoras lançando pacotes mais baratos para atrair mais fatias da população. O Brasil experimenta o surgimento de ofertas triplas, com grandes grupos de telecomunicações, como Telefônica, America Móvil (Claro, Embratel e Net) e Oi disputando os serviços de TV paga.
O relatório mostra que, globalmente, quase 80% das residências têm TV, bem acima dos lares com computador (41%) e acesso a Internet (37%). No ano passado, o número de famílias com TV digital no mundo superou aquelas com TV analógica.
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“Nativos digitais” dão tom ao setor
No Brasil, cerca de 60% dos jovens já fazem parte da chamada geração digital, muito conectada à internet. É um dos maiores percentuais no mundo, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT). Conhecidos como “nativos digitais”, esses jovens têm entre 15 e 24 anos, navegam na web há pelo menos cinco anos e acumulam uma sólida experiência em tecnologia digital, superando grupos semelhantes em países como Espanha, Itália e Grécia.
É a primeira vez que UIT inclui o tema em seu estudo sobre acesso à tecnologia, considerado um dos mais completos do mundo. O Brasil ficou na 31ª posição nesse levantamento, entre os 180 países pesquisados. Na América Latina, só os jovens do Chile e de Barbados são mais conectados que os brasileiros.
De acordo com o levantamento, os jovens são quase duas vezes mais conectados que a população mundial no conjunto. Na prática, isso quer dizer que esse grupo reúne os usuários mais ativos de tecnologia da informação e comunicação. Nos países desenvolvidos, dos 145 milhões de jovens usuários de internet, 86% são considerados “nativos digitais”. O percentual é bem mais elevado que nos países em desenvolvimento, onde menos da metade dos 503 milhões de usuários jovens encaixam-se nessa categoria. A expectativa é de que em cinco anos a população de nativos digitais mais que dobre nos países em desenvolvimento.
No Brasil, o cálculo da UIT é que 20,1 milhões de jovens são nativos digitais, pelo seu uso frequente e pela compreensão da tecnologia. A cifra só é superada pelos jovens da China, dos Estados Unidos e da Índia. Os jovens mais conectados do mundo são os da Islândia, com taxa de 95,9%, seguido pelos da Nova Zelândia e Coreia.
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Assis Moreira, do Valor Econômico, em Genebra