[do release da editora]
“A trama é de alta voltagem. No centro dela está a trajetória do seu
protagonista, chamado Delano. Personagem sedutor, controvertido, ambicioso, ele
passou das contestações juvenis da década de 60 para a luta armada dos 70,
caindo na clandestinidade, da qual emergiu, na condição de yuppie, para o
trepidante mundo dos negócios.” (Antônio Torres)
Faz que não vê marca a estréia literária de Altamir Tojal. O romance
chega às livrarias com o selo da Garamond. É um thriller político que tem
como pano de fundo o universo sedutor do poder e a busca, a qualquer preço, da
satisfação das necessidades e ambições. O livro percorre temas que fazem parte
da trajetória do próprio autor, ex-militante da resistência à ditadura,
jornalista e atualmente consultor de comunicação corporativa.
Construído de cenas interdependentes, ambientadas na atmosfera de bares,
salas de reuniões, casas luxuosas, esconderijos e nas subidas e descidas dos
morros cariocas, o romance transporta o leitor aos meandros do submundo, que,
segundo o autor, “todos conhecemos, mas, muitas vezes, tentamos não ver e
esquecer”.
Conta a história de um executivo, Delano, que simula o próprio seqüestro para
fugir de ameaça de morte. Ele recebe a missão de abrir caminho para um
investimento milionário na decadente Zona Portuária do Rio de Janeiro, mas acaba
preso numa teia de interesses na região, envolvendo empresários, políticos,
sindicatos e organizações criminosas.
Na fuga, Delano abandona a vida opulenta no Rio de Janeiro e se esconde em
Ponta da Esmeralda, uma vila isolada no litoral do Nordeste. A história se
desenrola no ambiente de niilismo e frustração política no início dos Anos 90.
Enredado no vale-tudo do mercado, o protagonista – antigo militante da esquerda
armada – vive a nova aventura em meio às mudanças no país assolado pelo
ceticismo.
No auto-exílio, ou sabático clandestino, como prefere chamar, Delano escreve
um livro que mistura memória e imaginação. São relatos dos episódios que
motivaram a fuga e, também o que supõe estar ocorrendo com os principais
personagens da história: um empresário, criminosos, pessoas da política, sua
família e a ex-amante, Cecília, que teima em achá-lo por conta própria.
O autor fala do livro
Desde que freqüentou, em 1999, a Oficina de Literatura da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, ministrada por Antônio Torres, Altamir Tojal escreveu o livro de contos
Oásis azul, ainda não publicado, e o romance Faz que não vê.
Carioca, 58 anos, é jornalista, com especialização em Filosofia Contemporânea.
Foi repórter do Jornal do Brasil, O Globo e IstoÉ.
Tojal situa Faz que não vê na tradição do “romance de formação”, uma
forma originada na literatura alemã, em que o personagem é confrontado entre
seus ideais e a realidade. O livro é construído como um thriller
político, tendo como protagonista um ex-guerrilheiro que se converte em
yuppie.
***
Como você define o livro?
Altamir Tojal – Eu o situaria na tradição do “romance de formação”
(Bildungsroman), entendido no sentido amplo, de narrativa da aventura
interior do protagonista que parte de uma atitude de confronto com o mundo, é
marcado pelos acontecimentos e enfrenta o contraste entre a vida que idealizou e
a realidade. Há quem considere esta forma exaurida, mas eu entendo que não. O
livro conta a história de um ex-guerrilheiro que se converte em yuppie. É
também um thriller, ambientado no submundo em que se misturam política,
negócios e crime.
Qual a razão do título Faz que não vê?
A.T. – A história procura levar o leitor aos meandros do submundo da
corrupção e do crime. É um universo que todos conhecemos, que alcança a todos
nós, mas, muitas vezes, tentamos não ver e esquecer.
O livro também mostra um ambiente sindical corrupto e violento. Na sua
opinião, ainda é assim ou você se baseou no passado?
A.T. – A corrupção e a violência no movimento sindical não é um mal
contemporâneo nem um vício brasileiro. A história do sindicalismo
norte-americano, por exemplo, se confundiu com a da máfia por muito
tempo. Isso não significa que todo o movimento sindical seja
corrupto. Sem o sindicalismo combativo e comprometido com a defesa dos
direitos e conquistas dos trabalhadores o capitalismo seria mais perverso e
atrasado.
Em que medida sua experiência pessoal contou para o enredo?
A.T. – Acho que a experiência de vida do autor conta bastante nas
histórias que escreve. Admito, é claro, que os episódios políticos que vivi e o
meu trabalho na interface do mundo corporativo com a mídia ajudaram na
construção da história e do protagonista. Mesmo sendo uma obra de
ficção, diversas situações foram desenvolvidas a partir de cenas das quais
participei e testemunhei.
O personagem principal trai os ideais da juventude? Você ainda mantém os
seus?
A.T. – Não acho que o protagonista tenha traído os ideais da juventude
embora admita e respeite que pessoas, ao lerem o livro, cheguem a essa
conclusão. Para mim, hoje, está claro que tínhamos as melhores intenções
mas nem tudo que pretendíamos corresponderia, se fosse feito, aos nossos
próprios desejos e sonhos. Hoje, acho perfeitamente possível ter os mesmos
ideais e procuro preservar os meus, apesar de toda a onda niilista resignada, da
conversa fiada de que ninguém presta e que tudo está errado. A diferença é que
hoje tenho ideais mais firmes, temperados nos erros e também nos
acertos.
O livro iguala personagens e revela desprezo pelas utopias. Trata-se de um
olhar cínico e sem esperança?
A.T. – De fato, não há invulnerabilidade nos personagens, sejam
perdedores sociais ou supostos ganhadores. Todos se assemelham na busca de
objetivos, quase sempre a qualquer custo. Também não há saída da realidade para
qualquer utopia ou transcendência. Mas isso não significa necessariamente
cinismo e desesperança. Mostra simplesmente que não há possibilidade de fuga de
nós mesmos nem do aqui e agora.