O New York Times deu início, este mês, à rodada anual de seminários legais para seus funcionários editoriais. As sessões, comandadas pelos advogados do jornal George Freeman e David McCraw, cobriam tradicionalmente questões relacionadas a privacidade, fontes e apuração em geral. Recentemente, o editor-executivo do diário, Bill Keller, anunciou à equipe que a edição de 2006 dos seminários teria como tema “os perigos legais que nos confrontam”. “O maior medo estes dias não é o processo por difamação ou calúnia, ou provar que você citou algo com precisão”, diz o editor de qualidade Craig Whitney. “O maior medo é ser intimado judicialmente”.
O receio no meio jornalístico americano teve início em agosto de 2005, quando a então repórter do Times Judith Miller foi parar na cadeia por se recusar a revelar sua fonte no caso do vazamento da identidade secreta da agente da CIA Valerie Plame. Na ocasião, Keller pediu ao premiado repórter investigativo David Barstow que escrevesse um memorando sobre como proteger fontes.
Quase mafiosos
Desde então, Barstow tem trabalhado com os dois advogados do Times para preparar sessões de “treinamento” sobre como repórteres podem cumprir suas obrigações profissionais mantendo em mente o risco de processos legais. “Neste ambiente louco, com intimações, há a sensação de que você tem que agir como um traficante de drogas ou um mafioso”, compara o jornalista, completando que os profissionais de imprensa, hoje, devem ser cautelosos. “Não é mais apenas uma ameaça abstrata”.
As recomendações para os jornalistas se concentram em, basicamente, não deixar um rastro de apuração que possa ser seguido por promotores. “É como proteger sua casa contra o mau tempo”, explica Barstow. “Mas nós ainda temos que publicar um jornal. Temos prazos. Não podemos chegar a um ponto [de proteção] absurdo”, ressalta.
Sem pistas
No programa de treinamento, é sugerido que os repórteres joguem fora rascunhos de matérias, evitem trocar informações ao telefone ou por e-mail com fontes, usem celulares que não podem ser rastreados para ligações importantes e evitem aparecer em câmeras de segurança. Foi recomendado também que os formulários de despesas dos jornalistas usados pelo Times sejam modificados, para que os profissionais não tenham que listar os nomes das fontes com que almoçaram ou levaram para jantar.
O jornal não tem nenhuma política específica quanto a anotações, mas, nestes tempos de ameaça judicial, é sugerido que elas sejam destruídas algum tempo depois da publicação da matéria. Quanto a e-mails, Barstow diz que há uma negociação em andamento no Times para mudar o sistema de correio eletrônico interno, onde mensagens seriam automaticamente apagadas depois de 30 dias.
O primeiro destes novos seminários foi realizado na semana passada (12/9), durante o horário de almoço. Segundo artigo de Michael Calderone no New York Observer [18/9/06], McCraw não quis especificar quantos repórteres compareceram, mas disse que figuras importantes como Keller e a editora-executiva Jill Abramson não estavam presentes.