Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Diários em guerra por cobertura do atentado em Madri

Briga entre os dois maiores jornais da Espanha. Os influentes diários El País e El Mundo entraram em conflito na semana passada por causa da cobertura das investigações sobre o atentado de março de 2004 que matou 191 pessoas em Madri.

As hostilidades entre os rivais tiveram início depois que o El Mundo publicou uma série de entrevistas com José Emílio Suárez, acusado de fornecer os explosivos usados nas explosões no sistema ferroviário madrilenho. Nas entrevistas, Suárez alega que o atentado teria sido, na realidade, um golpe de Estado para levar o Partido Socialista ao poder.

Teorias da conspiração

Até hoje, não se sabe com exatidão quem foi o responsável pelas bombas. Por esta razão, foram formuladas – e alimentadas – diversas teorias conspiratórias. Uma delas diria respeito ao tal golpe de Estado três dias antes das eleições que levaram o socialista José Luis Rodríguez Zapatero ao governo. “Eu sou a vítima de um golpe que eles tentaram esconder atrás de um bando de muçulmanos”, teria dito Suárez em uma das entrevistas publicadas pelo El Mundo.

O pró-socialista El País, em contrapartida, divulgou parte de uma conversa entre Suárez e seus pais – aparentemente gravada pelas autoridades durante uma visita na prisão – na qual é sugerido que o homem foi pago pelo El Mundo. O diário é acusado pelo El País de praticar jornalismo marrom e incitar teorias da conspiração, incluindo a idéia de que o grupo terrorista basco ETA estaria por trás dos ataques.

El Mundo negou que tenha pagado a seu entrevistado e afirmou que o jornal rival tirou suas palavras de contexto. O conflito entre os dois diários chegou às estações de rádio privadas, que passaram a tomar partido. O conservador jornal ABC, terceiro maior diário com sede em Madri, também começou a atacar o El Mundo.

O confronto na imprensa reflete uma longa campanha do Partido Popular – que perdeu o poder nas eleições de 2004 – para pôr em dúvida a investigação policial sobre o atentado em Madri. A campanha, que causou ruptura dentro do próprio partido, alega que provas parecem ter sido escondidas ou falsificadas. Informações de Giles Tremlett [The Guardian, 15/9/06].