[do release da editora]
O Programa de Pós-Graduação em Jornalismo e a Editora Insular estão lançando O juro da notícia: jornalismo econômico pautado pelo capital financeiro, de Paula Puliti. O livro revela as transformações ocorridas nas notícias econômicas a partir da segunda metade dos anos 1980, o que levou à substituição das tradicionais fontes de informação – empresários, produtores rurais, acadêmicos e sindicalistas – por um novo agente que surgia na cena nacional, o economista do mercado financeiro.
Versão da tese de doutorado da autora, o livro traz presentação da professora Gislene Silva, que fez parte da banca avaliadora, e prefácio do jornalista e professor Bernardo Kucinski, que orientou o trabalho. “O trabalho de Paula Puliti mostra claramente o papel estratégico atribuído pelo capital financeiro ao jornalismo”, comenta Kucinski. “Revela a paciência e a obstinação com as quais as instituições financeiras foram erguendo, de cabeça pensada, os meios de ocupação do espaço jornalístico, de indução das pautas e direcionamento das coberturas e do processo de criação de significados na cobertura econômica.”
A autora
Paula Puliti é jornalista, mestre em História Internacional pela London School of Economics e doutora em Ciências da Comunicação pela USP. Jornalista desde 1987, atuou em diversos veículos e nos últimos 17 anos vem trabalhando na Agência Estado, no jornalismo econômico.
Resumo
O conteúdo do noticiário econômico praticado nos jornais brasileiros iniciou um processo de transformação a partir da segunda metade dos anos 1980 que consistiu em substituir suas tradicionais fontes de informação – os grandes empresários e produtores rurais, e em menor escala acadêmicos e sindicalistas – por um novo agente que surgia na cena nacional, o economista do mercado financeiro. Formado pelos padrões norte-americanos do neoliberalismo, segundo os quais as forças que levam ao desenvolvimento só se realizam quando, liberadas das amarras do Estado, se encontram e tomam suas decisões num ambiente de mercado livre, esse profissional ocupou espaço cativo na imprensa, levando ao processo de financeirização do noticiário econômico, ou seja, ao predomínio de temas de interesse do mercado financeiro e de suas fontes em detrimento de quaisquer outros agentes sociais. Primeiro, o economista do mercado financeiro ingressou no noticiário para oferecer conselhos sobre como os leitores deveriam proteger seu dinheiro da corrosão inflacionária. Envolto na aura de cientificidade a ele conferida pela vertente do cálculo contida nas Ciências Econômicas, esse profissional nada mais fazia do que, subliminarmente, oferecer ao leitor os instrumentos financeiros da instituição em que trabalhava. Depois, a partir do Plano Real, em 1994, com adoção pelo governo brasileiro dos princípios neoliberais, verificou-se uma série de estratégias comunicacionais desses profissionais para conquistar os jornalistas, pressionando por meio do noticiário o governo e o Legislativo a assumir a agenda do neoliberalismo financeiro, com defesa da redução do tamanho do Estado, o fim da intervenção estatal nos processos econômicos, as privatizações, as reformas e a abertura comercial e de serviços financeiros.
Não é raro encontrar leitores de jornais que perceberam a financeirização do noticiário econômico nas duas últimas décadas. O que a autora deste livro faz é demonstrar as bases concretas dessas percepções. A partir de um trabalho multimetodológico, foram analisados 14 anos de conteúdo econômico em dois dos maiores jornais gerais do Brasil (1989-2002), Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, além de realizadas mais de 40 entrevistas (por telefone e pessoais) com economistas do mercado financeiro, jornalistas de redação e de assessorias de imprensa, acadêmicos e banqueiros. Verificou-se que temas e fontes defensoras dos princípios financistas, incluindo o governo, predominaram no noticiário do período. As entrevistas também revelaram as estratégias comunicacionais adotadas pelo sistema financeiro para atrair os profissionais de imprensa, dominar o noticiário e impor suas ideias como as únicas cientificamente corretas e irrefutáveis. O noticiário tornou-se um espelho do pensamento único e endossou as reformas econômicas de interesse do capital financeiro tratando-as como de amplo interesse nacional, alijando da mídia quaisquer outras ideias divergentes das neoliberais, sobretudo as oriundas dos movimentos sociais e sindicais.