Depois de atingir a marca de dois milhões de seguidores no Twitter, o governo programa, para os próximos dias, o lançamento da página oficial da presidente Dilma Rousseff no Facebook. A estratégia faz parte do esforço de converter a comunicação da presidente do patamar analógico para o digital, e de “humanizar” a figura, na tentativa de torná-la mais popular.
Os protestos de junho acenderam a luz amarela no Palácio do Planalto, apontando a necessidade de ajustes na estratégia de comunicação, a fim de sintonizar o governo com as demandas da população. As manifestações que levaram mais de 100 mil às ruas para protestar contra a qualidade dos serviços públicos, foram organizadas, principalmente, no Twitter e no Facebook – realidades virtuais com as quais o governo não tinha canal de diálogo.
A percepção de que havia um “vácuo na comunicação” obrigou respostas rápidas, como a criação do Gabinete Digital da Presidência, com a atribuição de coordenar ações nas redes sociais e inserir a presidente nesse universo.
Consolidado o Twitter, o próximo passo é lançar a página no Facebook. Os auxiliares da presidente apostam na popularidade da rede e em seu poder de multiplicação para aproximar Dilma dos internautas, sobretudo dos jovens, e divulgar ações do governo. O principal diferencial desta ferramenta é a interatividade, já que os visitantes da página poderão postar críticas à presidente e ao governo. Fontes do Palácio descartam censura aos posts mais críticos. Alegam que as restrições vão se limitar às postagens já vetadas pelo código de ética do Facebook, que proíbe palavrões e xingamentos em geral.
A ideia é investir nas ferramentas tradicionais, como “curtir”, “comentar” e “compartilhar”, e estimular a disseminação de áudios de entrevistas, vídeos e dados do governo. A vida privada de Dilma será preservada, ou seja, estão descartadas fotos com o neto Gabriel nos fins de semana. Atualmente, o PT mantém página não oficial de Dilma no Facebook, com pouco mais de 80 mil seguidores.
“Mulher comum”
A conta de Dilma no Twitter ficou dois anos e meio desativada. Agora, em pouco mais de um mês, Dilma já publicou mais de 300 tuítes e contabilizou cerca de três mil novos seguidores por dia. Encostou em líderes latino-americanos mais antigos na rede, como a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que tem 2,4 milhões de seguidores, e o presidente do México, Enrique Peña, com 2,2 milhões. Mas ainda está bem longe do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, seguido por 38,9 milhões.
No Brasil, Dilma também está longe de liderar o ranking do microblog e aparece atrás de celebridades como Ivete Sangalo e Ronaldo Fenômeno. Mas abriu vantagem sobre seus adversários políticos: pioneiro no Twitter, José Serra (PSDB) tem a metade de seus seguidores. Logo atrás, vem Marina Silva, com 774 mil seguidores, e Eduardo Campos (PSB), com 8 mil. Aécio Neves (PSDB) não tem perfil oficial no microblog.
A assessoria da presidente afirma que ela tuíta pessoalmente. Quando muito, envia mensagens para um assessor resumi-las a 140 caracteres. “Mas os posts são dela, é Dilma em sua essência”, diz um auxiliar direto. Chegou até a interagir com seu perfil fake bem-sucedido, a “Dilma Bolada”.
A leitura das postagens sugere duas Dilmas: a gerente que defende seu governo, e a “mulher comum”, que gosta de cinema e literatura. A “gerente” usou o Twitter para determinar ao ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, que assistisse a bióloga brasileira Ana Paula Maciel detida na Rússia em protesto ambiental. Anunciou a demissão do ministro dos Portos, Leônidas Cristino. E mandou recados aos adversários: “A vida me ensinou a enfrentar e superar os velhos do Restelo, que sempre apostam no quanto pior melhor”. O personagem de Camões, volta e meia citado por Dilma, é ícone do mau agouro.
A “mulher comum” citou poemas de Vinícius de Moraes no centenário do poeta, compartilha a leitura de livros, promove o cinema nacional, recomenda clássicos do cinema italiano (Rocco e seus Irmãos, de Lucchino Visconti) e dá conselhos de utilidade pública. “Bom fim de semana, divirtam-se, mas NÃO se esqueçam: quem bebe, não dirige”.
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Andrea Jubé, do Valor Econômico