A venda de televisores deve terminar este ano empatada com 2012, em volume, mas os fabricantes estão otimistas. A indústria prevê que o mercado cresça no mínimo 14% em 2014 – alta puxada pela Copa do Mundo. Se concretizado, o ano vai marcar o maior ritmo de crescimento do setor desde 2011, ainda que em um patamar bem abaixo da expansão de 36,5% registrada em 2010, quando a Espanha levou a taça de melhor futebol do mundo e a TV de tela fina ganhou força no Brasil. As empresas apostam basicamente em três direções para aumentar as vendas em 2014: aparelhos smart TV, com conexão à internet; telas grandes (a partir de 40 polegadas) de LED, principalmente; e na nova tecnologia 4K, com definição quatro vezes superior às telas Full HD (de alta resolução, por um preço acessível).
Em ano de Copa, o mercado inverte a sazonalidade: 60% das vendas são feitas no primeiro semestre – e não no segundo, mais aquecido pelo Natal. Essa inversão obriga as empresas a estudar com mais cuidado a troca de coleção. Em geral, novos modelos chegam ao varejo entre abril e junho. Em 2014, esse prazo será antecipado, mas o ponto é saber quando exatamente. “O risco é trocar de portfólio em um momento de demanda aquecida”, diz Gustavo Assunção, diretor da categoria TV da Samsung. Os fabricantes precisam anunciar as TVs novas e o consumidor, tempo para conhecer o produto.
“Sempre há uma preocupação e em 2014 não poderemos ter problema, pois a demanda vai ser adiantada”, diz Fernanda Summa, gerente de marketing da LG. A LG deve antecipar a troca de linha para abril. Lourival Kiçula, presidente da Eletros, diz que a expectativa é que a venda de TV fique estagnada em 2013 e cresça de maneira “significativa” em 2014, mas abaixo da expansão obtida em 2010, quando os brasileiros compraram 12,2 milhões de aparelhos – um salto anual de 36,5%. Naquela Copa do Mundo, na África do Sul, as vendas de TVs de tela fina ultrapassaram as de tubo.
Óculos especiais
As tecnologias de telas que fizeram sucesso na época da Copa na África – plasma e LCD – ganharam mercado: até então, mais de 90% dos aparelhos vendidos eram de tubo. “Em 2006, o objeto de desejo era a TV de plasma. Em 2010 eram as telas de LED, e ano que vem vai ser a Oled”, diz a gerente de marketing da LG. A tecnologia Oled permite uma tela mais fina e mais leve. As TVs de LED são, atualmente, as mais vendidas no país, segundo a consultoria GfK.
Mesmo assim, a penetração de TV de tela fina nas residências brasileiras ainda é baixa, diz Luciano Bottura, gerente de comunicação e marketing da Sony. Segundo ele, apenas 20% dos lares no país têm TV de tela fina, apesar de 99% das casas terem um aparelho. A Copa é, portanto, uma boa oportunidade para aumentar a penetração da categoria no país, diz ele.
A Sony exibiu em São Paulo uma TV com tecnologia 4K, de 84 polegadas, no ano passado. Para a Copa, aposta nos modelos de 55 polegadas (por R$ 13 mil) e de 65 polegadas (R$ 34 mil) fabricados em Manaus e que chegaram às lojas em agosto. Bottura, da Sony, diz que a 4K pode fazer mais sucesso que a 3D, a grande aposta na Olimpíada de Londres, em 2012, mas que não caiu nas graças dos brasileiros. “A qualidade é muito tangível e a TV 4K não muda o modo de utilização como a 3D tentou.” Para 3D, é preciso usar óculos especiais.
Crescimento de mercado
A Samsung aposta na TV conectada à internet. “O uso de conteúdos e aplicativos terá um apelo”, diz Assunção, que projeta aumento de 15% nas vendas totais do mercado de TV, em volume, no ano que vem. Para o consumidor de menor poder aquisitivo, a Samsung manteve em seu portfólio a tela de plasma, tecnologia mais antiga e mais barata. “Uma tendência são as telas grandes, de 46 polegadas para cima. O segmento deve representar 25% do mercado este ano em faturamento. Ano passado foi 16%, e no ano que vem, deve ser de 30%”, diz Fernanda, da LG. “Esta vai ser a Copa das telas grandes.”
A Philips vende no Brasil televisores de 55 polegadas e vai ampliar o mix com telas de 65 e de 84 polegadas para a Copa, tamanhos já vendidos no exterior. A de 65 polegadas vai ser fabricada no país, em Manaus, e a de 84 será importada. “A linha de produção é capaz de fabricar tamanhos maiores”, diz André Romanon, gerente de marketing de produtos, responsável pelos televisores Philips.
Segundo a Philips e a LG, a procura por aparelhos sofisticados deve começar nas próximas semanas, com as vendas para o Natal. Romanon, da Philips, diz que em 2014 o mercado deve crescer ao menos 14%; Assunção, da Samsung, fala em 15%. Para Fernanda, da LG, o incremento entre outubro de 2013 e junho de 2014 deve ser de 50%, na comparação com um ano antes.
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Letícia Casado e Guilherme Serodio, do Valor Econômico