Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Clarín não aceitará desmembramento compulsório’

O Grupo Clarín pretende iniciar uma nova luta nos tribunais para evitar seu desmembramento. Martín Etchevers, gerente de comunicações externas da empresa, afirmou que o Clarín pretende “recorrer de forma paralela, dentro e fora do país”. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado.

O governo afirma que o ‘Clarín’ é um “monopólio”. É verdade?

Martín Etchevers – Em nenhuma área somos monopolistas. Sempre existem opções às que oferecemos. Estamos em um mercado de competição aberta. Quando ouço o governo usando esse termo dá vontade de gargalhar. A Argentina tem 11 mil rádios. Desse total, o Grupo Clarín têm 7. Dos 42 canais de TV aberta privados, o Clarín tem 4. Dos 7 canais de notícias, o grupo possui um. Dos 17 jornais nacionais, o Clarín tem 3. Nos últimos anos, o governo colonizou a maior parte da mídia argentina. Se alguém tem uma posição dominante, é o governo. De forma direta ou indireta, a Casa Rosada tem o controle de 80% dos meios de comunicação.

Qual é o estado da liberdade de imprensa na Argentina?

M.E. – Com a volta da democracia, em 1983, voltou a liberdade de imprensa. Mas, nos últimos anos, retrocedemos muito. Evidentemente, não dá para comparar com a ditadura. No entanto, estamos passando pelo momento mais difícil. Desde a redemocratização, nunca havia ocorrido um “pelourinho publicitário”, como o atual (desde fevereiro, o governo ‘proíbe’ que supermercados anunciem em jornais da capital, onde está concentrada a mídia crítica). Tampouco há precedentes sobre a perseguição realizada pelo Fisco sobre jornalistas e empresas jornalísticas que não estão alinhadas com Cristina Kirchner. Nunca houve uma campanha publicitária para atacar os jornalistas que não escrevem aquilo que o governo quer. Além disso, nunca houve um governo como este, com tantos meios de comunicação a sua disposição. Desde Perón, nos anos 50.

Nos últimos dois anos de governo de Cristina, o controle sobre a imprensa tende a aumentar?

M.E. – Infelizmente, todos os indícios são de que o governo tomará o caminho da radicalização. Há um ano, apesar de tudo o que havia ocorrido, ninguém imaginava este grau de repressão.

Há diferenças entre Cristina e os governos de Equador e Venezuela em termos de pressão sobre a mídia?

M.E. – Sim. A falta de respeito às licenças vigentes. No caso argentino, a lei é mais restritiva. Na Venezuela, esperaram que as licenças expirassem para depois removê-las, como ocorreu com a RCTV. Aqui, acabam abruptamente com licenças que ainda durariam vários anos.

Qual o próximo passo do Clarín?

M.E. – Vamos recorrer de forma paralela, dentro e fora do país. A lei é ruim, anacrônica e regula o setor, violando os últimos precedentes da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

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Ariel Palacios é correspondente do Estado de S.Paulo em Buenos Aires