Um jornal russo foi acusado de fazer “propaganda gay” ao publicar uma notícia sobre um professor demitido por conta de sua orientação sexual. O Serviço Federal de Inspeção das Mídias de Massa, órgão do governo que monitora a atuação da imprensa no país, enviou ao editor-chefe do Molodoi Dalnevostochnik uma mensagem alegando que a matéria “difundia” as relações homossexuais.
O serviço de fiscalização abriu uma investigação, após receber uma queixa, para apurar o conteúdo da matéria sobre o professor de geografia Alexander Yermoshkin, da cidade de Khabarovsk. Yermoshkin, um conhecido ativista dos direitos dos gays em sua comunidade, atuava como professor há 18 anos. No início do ano letivo de 2013, no entanto, recebeu a notícia de que seria demitido por causa de uma carta assinada por 678 moradores de Khabarovsk, em nome de um grupo chamado Movimento Contra Perversões Sexuais. O grupo alegava que ele exercia uma influência negativa sobre as crianças e as fazia pensar que “relações não tradicionais são tão normais quanto as tradicionais”.
Yermoshkin afirmou que nunca havia tido problemas por conta de sua orientação sexual ou por seu ativismo fora do horário de trabalho. Ele acredita que a mudança ocorreu depois que foi implantada uma lei nacional que proíbe a disseminação de “propaganda gay” para menores de idade. “O governo em Moscou enviou um sinal que foi interpretado pela população local”, diz.
Normalidade
O artigo sobre o caso foi publicado na página 4 do jornal, com o título “História da Gay-ografia”. Uma oficial do Serviço de Inspeção destacou uma citação do professor como problemática. “Minha existência é prova efetiva de que a homossexualidade é normal”, disse Yermoshkin em entrevista ao Molodoi Dalnevostochnik. Segundo a oficial, a afirmação “é contrária à lógica”. “Ao apresentá-la a leitores menores de idade, o autor os está enganando sobre a normalidade da homossexualidade. De acordo com a lógica do autor, seria possível chamar de normal a existência de estupradores e assassinos em série”, argumentou Galina Yegoshina.
O editor respondeu que o artigo mostrava o lado negativo de ser gay e citou cláusulas constitucionais que proíbem a discriminação. Obedecendo à lei, a edição do jornal com a matéria sobre o professor trazia, na primeira página, um alerta obrigatório de “16+”. Quem viola a lei pode ser obrigado a pagar uma multa equivalente a sete mil reais.