Numa época em que cultivei o sonho de me tornar engenheiro, antes de imaginar abraçar uma carreira tendo a palavra como ferramenta, fiz o pedido, um tanto ruborizado:
– Professora, posso ir no banheiro?
– Aonde você vai levar o banheiro, Rogério?
– Não entendi, professora.
– Se você quiser ir AO banheiro, eu deixo. Mas se quiser ir NO banheiro, para algum lugar, não poderei permitir, pois outros alunos podem querer usá-lo mais tarde.
Aprendi ali, na quinta série ginasial, uma lição sobre regência verbal que jamais esqueci. A paixão pelo jornalismo, já latente na criança que colecionava a revista Placar, veio, de fato, apenas um ano depois, quando passei a escrever artigos para publicações locais em São Luís do Maranhão, a ‘Atenas Brasileira’.
Infelizmente, a dimensão coloquial prevalece até mesmo entre profissionais que precisam, em tese, conhecer a norma culta da Língua Portuguesa.
Uma pergunta
Na manhã de segunda-feira (18/5), a procura de informações sobre a Conferência Nacional de Comunicação, abri o portal do Ministério das Comunicações e tive o profundo desgosto de ler uma certa manchete, em destaque na página inicial: ‘TV Digital chega em Fortaleza’.
O atentado violento deve ter causado perturbações ao espírito de José de Alencar, por ter o nome da sua terra natal – que também é a minha – associado a tal ultraje linguístico.
O erro crasso espanta ainda mais por vir justamente do ministério comandado pelo senador Hélio Costa, jornalista, integrante da Academia Barbacenense de Letras, ex-funcionário graduado da Rede Globo. Será que o ministro defende a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo?
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Jornalista, integrante da Comissão de Liberdade de Expressão do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.