Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

China intensifica controle sobre imprensa internacional

Em seus 18 anos de trabalho como correspondente na China, Paul Mooney sempre passou pelo mesmo ritual toda vez que mudava de jornal e precisava de um novo visto. Ele preparava cinco pastas com seu trabalho – com cuidado, para evitar assuntos delicados – e as enviava para o consulado.

Em fevereiro, quando aceitou uma vaga na Reuters, Mooney repetiu o processo. Desta vez, no entanto, a entrevista foi mais difícil. O consulado preparou questões específicas sobre seu trabalho e suas opiniões acerca do Tibete e do ativista Chen Guangcheng. Após semanas de espera, o visto foi negado e a carreira de Mooney na China, interrompida.

Mooney é apenas um dos exemplos de uma recente campanha do governo chinês contra jornalistas estrangeiros. No ano passado, a jornalista Melissa Chan, da Al Jazeera, também teve seu visto negado repentinamente.

Após publicarem reportagens sobre a fortuna de políticos chineses, a Bloomberg News e o New York Times tiveram seus sites bloqueados no país. Desde então, todos os jornalistas das empresas que tentaram vistos tiveram os pedidos negados.

Recentemente, o New York Times reportou que a Bloomberg News abortou uma reportagem investigativa sobre Wang Jianlin, o cidadão mais rico da China, com medo de que a empresa fosse proibida de operar no país. Os editores negam o acontecimento, mas, segundo o Times, repórteres contam que eles chegaram a comparar a situação chinesa à repressão na Alemanha nazista.

A razão para tudo isto é simples: na China, as riquezas criadas pelas relações entre política e negócios são potenciais fontes de instabilidade em um país em que muitos lutam para sobreviver. Mesmo que apenas uma pequena porcentagem da população leia matérias em inglês, as reportagens do ano passado ainda ecoam.

Nova equação

O fato de que a China está dificultando a vida de correspondentes internacionais é mais danoso às relações exteriores do país do que as relações entre dinheiro e política, um assunto comum em qualquer outro país. Então por que a China faz isso?

Porque ela pode. Durante a última década, muitas empresas de mídia aumentaram sua cobertura no país, com novas sedes e seções especializadas. Esse investimento reflete a crescente importância da China no cenário internacional, mas, como resultado, deu mais vantagens ao governo sobre a mídia.

Hoje, somente as maiores e mais ricas publicações têm a habilidade de escrever matérias investigativas que revelem com clareza o interior do governo chinês. Mesmo assim, é preocupante ver o caso de autocensura da Bloomberg News, especialmente quando, dizem especialistas, o incidente dificilmente é isolado.

Diferente dos jornalistas chineses, os estrangeiros tradicionalmente acreditavam ter o privilégio de escrever sobre o que quisessem. Os recentes acontecimentos mudaram essa equação. Dadas as possibilidades, não seria surpreendente se a nova geração de repórteres na China começar a apelar para a autocensura com o objetivo de preservar seu próprio trabalho.