O jornalismo cultural brasileiro está em crise. O saudosismo é inevitável: ‘Nada é mais como era antigamente’, nem o jornalismo seja lá de qual gênero for. E se o New York Times está com os dias contados, certamente toda e qualquer redação de jornal está num clima nada favorável. Se ter essa consciência é um bom começo para reverter a situação, muitos adeptos do jornalismo de cultura iniciaram a tarefa de casa. Realizar o ‘I Congresso de Jornalismo Cultural’ foi um bom começo, mesmo sendo apresentado com este nome pretensioso e um tanto autoritário.
O evento, promovido pela revista Cult na primeira semana de maio em São Paulo, reuniu gestores culturais, jornalistas, professores e artistas para expor opiniões, angústias e expectativas em relação a este segmento jornalístico. Foi uma estratégia inteligente para se ter – ou chegar perto de – debates polêmicos e com diversidades de opiniões. Já que assim foi dado espaço para os ‘vários lados’ do mesmo fato, como ensinam os velhos preceitos jornalísticos.
Mas toda vez que se fala em cultura é preciso se perguntar que cultura é essa. Os conceitos e formas de abordagens de São Paulo são culturalmente diferentes dos de Rio Branco, por exemplo. Nesse sentido, o I Congresso de Jornalismo Cultural deixou a desejar talvez pela amplitude que o título sugere. Palestras e mesas-redondas foram, na grande maioria, voltadas apenas à crítica cultural que, de fato, é um gênero polêmico, mas não o único dentro de um universo de possibilidades chamado Jornalismo Cultural.
Nem dinheiro é necessário
Pois bem, falemos de crítica cultural – ou, melhor: crítica de produtos culturais. Cinema, música, literatura, teatro e artes plásticas, cada um teve a sua mesa redonda específica. É difícil, mas temos que reconhecer: se já não temos boas críticas culturais, é porque também já não temos bons produtos culturais e nem consumidores mais seletivos. Parece radical, mas não é.
‘A crítica de literatura está enfrentando o mesmo problema da própria crise literária’, afirmou Manoel da Costa Pinto, editor do Entrelinhas e apresentador do Letra Livre, ambos programas da TV Cultura, e também colunista do jornal Folha de S.Paulo. Segundo ele, ‘com a proliferação dos meios e espaços, os escritores não têm mais filtros para a publicação de livros’. O crítico de literatura da revista Veja, Jerônimo Teixeira, tem opinião semelhante. ‘Se há uma idade de ouro, talvez estejamos vivendo o período mais burro da história. (…) Não temos mais parâmetros estéticos para dizer o que é bom ou ruim’, diz ele.
Ora, voltemos ao tempo de antigamente, aquele dos bons jornalistas e críticos culturais: os escritores passavam anos para lançar um livro, mas hoje, com a quantidade de editoras, com a internet, qualquer um coloca um livro para circular por aí. O mesmo pode se aplicar à música, pois qualquer grupo musical tem a oportunidade de divulgar suas produções com facilidades nunca vistas antes. Em plena Rio Branco de 1980, o já falecido jornalista cultural Chico Pop, dizia que para gravar um disco não era mais preciso ser bom, bastava ter dinheiro. Mas hoje, caro Chico, nem dinheiro é mais necessário.
Estratégia e responsabilidade
De qualquer forma, cada produção cultural tem a sua dinâmica que também precisa ser levada em consideração. A obra cultural em si é apenas uma das inúmeras pautas para caderno de cultura. ‘Mais importante que discutir um filme, é discutir ferramentas e mecanismos de financiamento, distribuição e circulação’, disse Sérgio Rizzo, professor da Mackenzie e crítico de cinema do jornal Folha de S.Paulo.
Mas eu prefiro ir mais além, pois muito mais que pensar a qualidade de conteúdo de uma crítica cultural, é preciso pensar qual a finalidade dessa crítica: incentivar o consumo de produtos e bens culturais (promover o incentivo à leitura, por exemplo)? Qualificar os consumidores tornando-os mais exigentes? Ou ainda, fortalecer a produção cultural, sendo um alicerce para os artistas que são diariamente estimulados a desistir? O desafio é pensar isso tudo levando em consideração a dinâmica do mercado e da própria produção jornalística.
Se o ‘jornalismo cultural é um projeto de vida’, como afirmou Cida Golin, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, é porque é preciso uma toda-vida para se preparar, é mesmo uma questão de mais cultura, de experiência, conhecimento e, acima de tudo, estratégia e responsabilidade para falar de algo que engloba qualquer coisa ou nada ao mesmo tempo, dependendo da sua própria cultura.
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Acadêmica do oitavo período de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Acre, Rio Branco, AC