“O papel da América Latina no quadro global precisa ser definido”, afirmou nesta terça-feira Juan Luis Cebrián, presidente do grupo Prisa e fundador de El País, durante a apresentação da nova edição Brasil do diário em São Paulo. “Nessa tarefa de estabelecer um diálogo ibero-americano, a aliança perdurável entre as nações aquém do oceano e a Península Ibérica tem muito a dizer. A Ibero-américa é uma realidade cultural, social e histórica que se expressa em duas línguas fraternas”, acrescentou o primeiro diretor do jornal. As armas com que o El País chega ao Brasil, segundo Cebrián, não são nada mais que a palavra e a independência jornalística.
O jornal, presente em 34 países, lançou em março do ano passado sua edição América e nesta terça-feira apresentou sua versão em português, integralmente online. El País Brasil tratará de atualidade internacional com um especial interesse na América Latina e nos novos enfoques da realidade brasileira. O diretor do jornal, Javier Moreno, sublinhou que o projeto manterá sua vocação global e sua defesa do progresso social, do respeito às minorias e da modernização da sociedade, princípios nos quais o jornal se baseou desde sua fundação em 1976. “O jornal sempre se ocupou com profundidade na sociedade brasileira, tanto de suas inquietudes como de suas batalhas para consolidar os avanços econômicos, sociais e das liberdades democráticas”, disse Moreno.
Esse compromisso com a realidade do Brasil reconheceu-se em junho, quando mais de meio milhão de brasileiros acessou o site de El Paísem espanhol para acompanhar a evolução das manifestaçõesprotagonizadas por jovens que “pediam para participar, por meio de caminhos que ainda têm de se estabelecer, na política e na sociedade”. A ideia foi compartilhada pela escritora Eliane Brum, colunista desta nova edição em português. “El País tem pela frente o grande desafio de decifrar os vários Brasis que convivem aqui. Nosso país está passando por várias situações, com novos protagonistas e há um espaço muito grande para contar o que está acontecendo”.
Pluralidade e mais informação
O ato, celebrado no Museu Brasileiro da Escultura (Mube), em São Paulo, reuniu destacadas figuras da política brasileira, como o ex-presidente e senador José Sarney, o ministro de Educação, Aloizio Mercadante, e a ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas. Participaram e apoiaram o lançamento representantes de empresas brasileiras e espanholas com interesses no Brasil e no restante da América Latina, como Telefônica, Indra, o Banco Santander e Iberdrola. Os principais veículos da imprensa brasileira também estiveram no evento.
O renomado jornalista Clóvis Rossi, membro do conselho editorial da Folha de S.Paulo, é um leitor assíduo de El País durante a transição espanhola à democracia. Também colaborou com este diário até tempos recentes. “Há várias tentativas em curso para encontrar saídas para o jornalismo impresso. E El País, com esta versão digital em português, está fazendo isso”, assegura.
Nélida Piñón, membro da Academia de Letras brasileira, foi a encarregada de apertar o botão que mostrou ao público o primeiro site online de El PaísBrasil.A escritora, filha de espanhóis, afirmou que o movimento migratório que caracteriza a história do Brasil se reatualiza com a chegada desta edição. “Vamos recuperar os laços que sempre existiram, já que a Espanha enviou muitos futuros brasileiros a esta terra.”
O príncipe Felipe de Borbón deveria ter participado do lançamento de El País e de um foro empresarial no Brasil, mas cancelou sua viagem no último momento devido a uma avaria em seu avião. Dom Felipe, porém, enviou um vídeo para fechar os discursose, assim como Cebrián, incluiu nele várias frases em português. Em sua fala, Dom Felipe elogiou o trabalhou da redação, que conta com 11 jornalistas em São Paulo e dois colaboradores no Rio de Janeiro. O projeto de El País, disse o príncipe, além de superar as “barreiras do pessimismo” que se impõem na Espanha com a crise econômica, “alarga a pluralidade e enriquece o panorama informativo do Brasil”.
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Discurso de Javier Moreno em ocasião do lançamento de El País Brasil
Ministros,
Querida Nélida,
Queridos amigos,
Quero agradecer-lhes por acompanhar este ato, que assinala formalmente o lançamento da edição brasileira de El País. Poucas ocasiões na história de um jornal conjugam as características como a que nos reúne hoje aqui em São Paulo. Os leitores disporão em uns minutos dos conteúdos do jornal em português, produzidos por uma redação de jovens jornalistas, cujo entusiasmo e capacidade de trabalho nas últimas semanas iguala sem dúvida alguma às expectativas que o projeto suscitou em amplas camadas da sociedade brasileira.
Não é que El País e Brasil sejam colegas recentes. Desde o nascimento do jornal em 1976 legiões de intelectuais, escritores, artistas ou políticos elegeram suas páginas para transmitir suas ideias, defender seus projetos e ligar suas inquietudes com o resto do mundo ibero-americano, que sempre teve na potência de suas duas línguas, o espanhol e o português, as melhores ferramentas de difusão.
O jornal, por sua vez, ocupou-se profundamente da sociedade brasileira, tanto de suas inquietudes como de suas batalhas por consolidar os avanços econômicos, sociais e as liberdades democráticas.
Os avanços tecnológicos dos últimos anos vieram para concretizar esta aliança. Centenas de milhares de brasileiros informaram-se na edição América de El País sobre os protestos de junho passado, que supuseram um chamado de atenção das novas gerações que pedem participar, mediante caminhos que ainda terão de se estabelecer, na política e na sociedade deste país.
Hoje damos mais um passo para colocar ao alcance dos cidadãos brasileiros, em português, toda a informação relevante que produz o jornal sobre um mundo cada vez mais global, as análises necessárias para compreender essa realidade em mudança e os artigos das personalidades mais relevantes do panorama internacional nas artes, ciências, política, economia e do mundo empresarial.
Mas um jornal como El País é mais do que a soma de todas essas coisas, por mais importante que elas sejam. Oferecemos a nossos leitores em todo mundo, especialmente aqueles nas sociedades às que nos dirigimos neste continente, um projeto de modernização e progresso social, de consolidação dos direitos cidadãos e avanço econômico, de igualdade social e respeito às minorias que é em essência o que compartilhamos com os espanhóis há décadas.
É este o compromisso inquebrantável com seus leitores que o jornal foi renovando ao longo de sua vida naquelas ocasiões em que as circunstâncias pediram e que eu quero hoje, em meu nome e no de toda a redação de El País, o Grupo Prisa que o edita, seus diretores e seus acionistas, assumir com todos os brasileiros.
Vocês podem estar seguros de que, na firmeza desse compromisso, não lhes faltaremos. Muito obrigado.
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Uma aposta global
Em tempos de clausura dos jornais, emissoras de rádio e de televisão, um país em expansão como o Brasil registra o aparecimento de um novo meio de comunicação global e ibero-americano. Um meio digital desde seu nascimento e escrito em português, que exerce a função de um canal de comunicação no âmbito das culturas ibero-americanas. O acontecimento transcende a dimensão de um mero lançamento empresarial, sendo importante pelas circunstâncias já mencionadas; mas é a presidenta Dilma Rousseff quem destacou a relevância que tem essa iniciativa, dada a “qualidade editorial e o posicionamento internacional” do diário.
O Brasil é uma potência regional e global, que aspira o local político e econômico a que corresponde. Seus principais sócios comerciais, como corresponde a sua envergadura, são as duas primeiras potências, China e Estados Unidos. O interesse das empresas globais espanholas e das pequenas e médias empresas converteu o Brasil no primeiro destino do investimento espanhol. Compartilha fronteiras com todos os países da América do Sul, exceto com Equador e Chile. E todos esses países seguem o Brasil com atenção. De certa maneira, se deve a isso o fato de milhões de brasileiros estudarem o espanhol como primeira língua estrangeira. A presença de um jornal com a vocação de El País na nação mais povoada (201 milhões de pessoas) da Ibero-América enriquece a pluralidade informativa da região e alenta o intercâmbio de ideias dessa grande comunidade histórica e cultural que compreende mais de 500 milhões de pessoas.
O diário, que consolida sua vocação de meio global, abraça agora o bilinguismo próprio do espaço ibero-americano. Este jornal se oferece com esse projeto como ponte de intercâmbio cultural, com um tráfego de informação de qualidade, à altura do que demandam os cidadãos de democracias consolidadas como a brasileira. Como destacou o príncipe Felipe de Borbón em sua saudação feita por vídeo, “A Ibero-América ganha uma nova voz partilhada.” Depois de quase duas décadas de modernização, o Brasil é hoje um motor econômico, mas também uma potência política e cultural indispensável. El País quer mostrar seu compromisso e dar a sua contribuição a esse dinamismo, como já faz com sua Edição América em toda a região.
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María Martín e Beatriz Borges, do El País