Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Putin dissolve agência e emissora oficiais de notícias

A agência de notícias estatal RIA Novosti e sua emissora de rádio internacional foram encerradas pelo presidente Vladimir Putin sem aviso prévio, por decreto, e serão integradas a uma nova empresa de comunicação oficial chamada de Rossiya Sevodnya (Rússia Hoje). Apesar de sofrer forte controle do governo, a RIA Novosti era reconhecida por seu profissionalismo e seriedade. O fim da agência reflete algumas divisões profundas na elite política do país. “Rossiya Sevodnya” é a tradução russa do nome original da rede de TV internacional do Kremlin, Russia Today, que hoje passou a ser chamada apenas de RT. A rede é conhecida por exibir rotineiramente os “fracassos” dos EUA e de outros países ocidentais.

O chefe de gabinete de Putin, Sergei Ivanov, afirmou que a decisão fazia parte de um esforço para reduzir custos e tornar a mídia estatal mais eficiente. No entanto, um relatório da RIA Novosti alega que as mudanças “parecem apontar em direção a um maior controle do Estado no já fortemente regulado setor de mídia”. A ação indica uma reorganização significativa na mídia estatal em um período em que a reputação internacional da Rússia enfrenta críticas em questões políticas e de violações dos direitos humanos.

O público não teve participação na decisão e os funcionários foram pegos de surpresa. De acordo com o decreto presidencial, a nova agência focará em fornecer notícias sobre a Rússia para uma audiência internacional. O novo órgão será liderado pelo executivo de TV e apresentador Dmitry Kiselyov, que é conhecido pela defesa do governo de Putin e por críticas a supostas conspirações internacionais que, segundo ele, teriam o objetivo de enfraquecer a nação. “A diferença básica entre o jornalismo da era pós-soviética e o ocidental é que, para nós, é necessária a criação de valores e não sua renovação, a produção de valores e não sua reprodução, como é feito, basicamente, no Ocidente”, disse ele em relação ao jornalismo. Kiselyov também já se envolveu em controvérsias por conta de comentários homofóbicos. “Acho que é muito pouco multar gays por propaganda homossexual. Eles deveriam ser proibidos de doar sangue e esperma. Em caso de acidente automobilístico, seus corações deveriam ser enterrados ou queimados”, afirmou, em certa ocasião. A Rússia aprovou uma lei nacional que proíbe “propaganda homossexual” para menores.

Momento inadequado

O momento não é dos melhores para o fim de uma agência de notícias da importância da RIA Novosti. A agência é uma das patrocinadoras oficiais dos Jogos Olímpicos de Inverno, que ocorrerão em Sochi em fevereiro. As políticas da Rússia geraram críticas duras de organizações de direitos humanos e até alguns pedidos de boicote das Olimpíadas. “A Rússia tem sua própria política independente e defende fortemente seus interesses nacionais. É difícil explicar isso ao mundo, mas precisamos e devemos fazê-lo”, disse Ivanov, um aliado próximo a Putin.

Na opinião do crítico de mídia independente Andrei Miroshnicheko, a RIA Novosti e a outra agência estatal russa, Itar-Tass, competiam por recursos e influência. Segundo ele, a RIA Novosti tornou-se a agência de notícias mais respeitada do país durante a presidência de Dmitri Medvedev, que hoje atua como primeiro-ministro. A nova agência voltará, diz Miroshnicheko, a sua missão de antes do começo da era pós-soviética, como uma ferramenta de propaganda internacional, enquanto a Itar-Tass focará nas notícias domésticas.

A RIA Novosti foi fundada pelo Escritório Soviético de Informação, na Segunda Guerra Mundial, dois dias depois da invasão nazista na União Soviética. Ela tem correspondentes em 45 países e fornece relatos em russo e outros 13 idiomas. Após o colapso da União Soviética, a agência recebeu outro nome, mas continuou a servir como agência oficial do governo. Sua cobertura, entretanto, ganhou mais respeito por ter mais equilíbrio e diversidade de pontos de vista – o que gerava incômodo na elite política russa.