Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Enchentes ao norte e ao sul

Alguns leitores-observadores chamam a atenção para um fato interessante: a imprensa produziu coberturas diferentes sobre a longa e extensa inundação que atinge cidades do Norte e Nordeste do Brasil neste maio de 2009 e as chuvas que provocaram cheias e deslizamentos de terra em Santa Catarina, no Sul, no final de 2008.


Para alguns desses observadores, que se manifestam pela internet e em cartas aos jornais, não apenas as autoridades mas também a sociedade e a imprensa parecem algo letárgicas em relação ao que ocorre na parte ‘de cima’ do nosso mapa.


A tragédia no Sul desabou quase repentinamente, após sessenta dias de chuvas fortes e contínuas que começaram a provocar desmoronamentos quase simultâneos, produzindo uma avalancha de notícias trágicas em poucos dias. Além disso, houve um maior número de mortes em Santa Catarina, cerca de 140, contando os desaparecidos.


Entre os estados de Sergipe e Pará, já são quase uma centena os municípios atingidos, causando um número de desabrigados superior aos dos 16 mil desalojados de suas casas na tragédia que atingiu o Sul do Brasil no ano passado. Pode-se comparar a comoção transmitida pelas imagens de destruição no Vale do Itajaí, em 2008, e a desolação que retrata a cidade maranhense de Trizidela do Vale, com quase 100% de suas casas submersas.


Pesos e medidas


Alguns leitores se referem aos sentimentos que provocam as tragédias que afetam descendentes de imigrantes alemães numa região próspera e os cafusos e pardos que habitam a sempre carente porção norte do país.


Não se pode afirmar que a imprensa do Sudeste mais rico esteja tratando os nortistas e nordestinos com preconceito ou indiferença, mas de fato há uma grande distinção nos relatos sobre os dois acontecimentos.


No caso de Santa Catarina, o noticiário pronto e constante produziu ondas de solidariedade, oferta de helicópteros e caminhões de mantimentos. Na catástrofe ao norte, as doações começaram para valer mais de duas semanas depois das primeiras notícias.


Está aí um caso que merece muita reflexão.


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Ainda a questão ambiental


Este observador cometeu uma omissão no comentário de terça-feira (‘O debate que falta‘, 19/5): não foi apenas a Folha de S.Paulo que publicou a notícia da redução do valor das compensações ambientais a serem pagas por empresas na construção de grandes obras. Também a especializada Gazeta Mercantil se referiu à medida do governo, que representa um sinal sobre o peso que se reserva à defesa do patrimônio ambiental no Plano de Aceleração do Crescimento.


De qualquer maneira, percebe-se um retrocesso na cobertura jornalística das questões referentes à sustentabilidade.


De alguns meses para cá, com a intensificação das notícias sobre a crise financeira que eclodiu no cenário internacional em setembro de 2008, a imprensa reduziu suas referências à questão ambiental e tem passado ao largo do tema promoção social.


Na quarta-feira (20/5) há uma reportagem no caderno de Economia do Estado de S.Paulo sobre um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada revelando que o número de pobres no Brasil caiu nos seis primeiros meses da crise global. Como se sabe, a redução da pobreza e o surgimento de uma nova classe média tem sido apontada como uma das causas da resistência do Brasil aos efeitos da crise.


Tema exótico


Os jornais continuam tratando os negócios e a economia com os paradigmas conservadores: noticiam-se os resultados financeiros das empresas, os planos de investimento e as grandes fusões, mas pouco ou nenhum espaço é dedicado aos seus compromissos com a questão ambiental e a responsabilidade social.


Todos os jornais de quarta-feira (20) destacam o processo de fusão entre as gigantes do setor alimentício Perdigão e Sadia. Nenhum deles questiona a estratégia da nova multinacional brasileira no que se refere aos cuidados com o meio ambiente ou com a criação de oportunidades nas regiões onde adquire suas matérias primas.


A sustentabilidade ainda é um tema exótico na nossa imprensa.