No regime de Saddam Hussein, jornalistas iraquianos eram ameaçados, detidos, torturados e mortos – vítimas de um sistema que controlava firmemente o que era publicado sobre o então líder do país. A destruição do ministério da Informação – um dos principais instrumentos de censura na era Saddam – durante a invasão americana, em março de 2003, encerrou simbolicamente décadas de falta de liberdade de expressão. No entanto, o otimismo inicial dos jornalistas que, pensava-se, poderiam finalmente ser capazes de informar livremente durou pouco. Na atual democracia iraquiana, a imprensa enfrenta perigos já conhecidos e novas ameaças.
No regime de Saddam, havia quatro jornais legais no Iraque. Hoje, são mais de 160 títulos, o que revela o desejo por uma mídia independente e livre. Mas os jornalistas locais vivem constantemente sob pressão de grupos políticos, étnicos e religiosos. Eles sofrem também nas mãos de milícias ligadas a facções políticas e insurgentes árabes sunitas – que têm como principais alvos de ataque jornalistas iraquianos que trabalham para empresas de mídia estrangeiras ou financiadas pelos EUA. ‘O problema é ser independente no meio destas pressões. Não podemos ir contra nenhum partido do governo ou qualquer partido influente, porque podemos ser atacados ou proibidos de trabalhar’, afirma um editor iraquiano.
Ameaças e prisões
‘Nossos jornalistas vêm sendo intimidados e prejudicados de muitas maneiras. Eles temem ser mortos, detidos ou demitidos se criticarem um partido ou até mesmo o governo’, afirma Moayad al-Lami, secretário-geral da Associação de Jornalistas do Iraque. Foi o que aconteceu com Muntaha al-Qaisy, editora-chefe e proprietária do jornal al-Diyar, em Bagdá. Depois de ter escrito sobre supostas detenções por forças do ministério do Interior – informações negadas oficialmente –, ela passou a sofrer ameaças. ‘Dois homens mascarados vieram ao meu escritório e me alertaram que parasse de escrever sobre o assunto, ameaçando meu filho e minha filha’, relembra Muntaha, que decidiu ignorar o pedido e recebeu novas ameaças em sua casa – decidindo então fechar o jornal.
Além das intimidações, os profissionais de imprensa sofrem com as acusações e condenações. Dois jornalistas da cidade de Kut foram condenados a penas de mais de dez anos de prisão por difamação. O escritor Kamal Sayid Qadir, que possui também cidadania austríaca, foi condenado a 30 anos de prisão em dezembro, acusado de difamar o presidente curdo Masoud Barzani. Depois de protestos do governo austríaco e de grupos de defesa dos direitos humanos, autoridades curdas informaram que Qadir seria julgado novamente. Diante desta situação, o secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas, Aidan White, alerta: ‘Não é possível haver democracia sem uma mídia livre’. Informações de Omar al-Ibadi [Reuters, 10/2/06].