Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paramount dribla crise do cinema

O tempo oscilava entre neve e chuva, e a lama do gelo derretido chegava até os tornozelos nas ruas tomadas pelos engarrafamentos. Mas Brad Grey, diretor executivo da Paramount Pictures, nem pensava em se preocupar com a possibilidade de o trânsito congestionado impedir a elite de Manhattan de assistir a estreia de gala do filme O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese. “O pessoal vai aparecer”, afirmou no Hotel Carlyle, onde sorvia satisfeito uma sopa. Ele tinha certeza de que o filme – apesar de suas três horas de duração, com amplo consumo de drogas e cenas de sexo bizarro – lotaria os cinemas ao estrear no dia de Natal, junto com outro sucesso da Paramount, Anchorman 2: The Legend Continues, que faturou US$ 40 milhões desde o lançamento, no dia 18.

Se isso ocorrer, o estúdio terá fechado o ano surpreendentemente forte. Também terá driblado um preocupante paradoxo: quanto menos Hollywood se preocupa, maior seu lucro. A Paramount está em último lugar entre os principais estúdios (até mesmo atrás do canadense Lionsgate) na bilheteria anual, com menos de US$ 900 milhões até o momento, na venda de ingressos nos EUA, e uma queda de 50% em relação ao pico recente em 2011. Entretanto, tem registrado lucro persistente em um setor em que as margens têm sido reduzidas ou mesmo inexistentes.

O novo slogan dos estúdios é o lucro das produções, e nem tanto a parcela de mercado, ou de porcentagem de bilheteria. Hoje, o cinema sobrevive economicamente porque a mudança de hábitos, o prolongado declínio das vendas de produtos de entretenimento e a intensa concorrência nos mercados externos mais ricos, como a China, fizeram grandes estragos.

Tudo isso obrigou a Paramount a se adequar. No exercício fiscal encerrado em 30 de setembro, a controladora Viacom registrou lucro operacional no segmento de filmes de US$ 234 milhões ante US$ 325 milhões no ano passado. O faturamento (que inclui a parcela de venda de ingressos no país mais a bilheteria no exterior, vídeos e outras fontes) baixou 27%, para US$ 4,3 bilhões em relação a 2011, quando a Paramount era a líder em bilheteria. “Talvez não seja popular na Costa Oeste, mas queremos que a Paramount produza alguns filmes de sucesso seguro e estável”, disse Michael Nathanson, analista do setor de entretenimento. “Não quero que ela faça muitos filmes.”

Apoio

A estratégia tem apoio da controladora. “Estou emocionado com o lugar que a Paramount ocupa hoje”, afirmou Philippe Dauman, diretor executivo da Viacom. Ele não quis especular sobre os resultados do atual exercício fiscal, mas vê sinais de um ano forte, e previu que a margem de lucros do estúdio continuará crescendo.

Duas pessoas ouvidas sobre o desempenho do estúdio disseram que a Paramount quer alcançar margem de pouco menos de 10%. Ao mesmo tempo, em 2013, a lista de lançamentos se reduziu a 11 filmes, em comparação a 16 alguns anos atrás.

Vários fatores contribuem para o mistério da lucratividade. As listas reduzidas dos lançamentos impedem que os grandes sucessos dos estúdios entrem numa concorrência ferrenha em matéria de bilheteria. Além disso, os estúdios podem engordar os lucros deixando acordos que destinam uma fatia muito grande de receita para os sócios, investindo menos e reduzindo os gastos gerais, enquanto centenas de milhões de dólares das vendas em livrarias continuam entrando.

A estratégia a longo prazo deverá exigir a mobilização da corporação em setores mais fortes, como a televisão. “O investidor não quer que grande parte dos seus investimentos vá para os filmes, ele busca principalmente empreendimentos que oferecem retornos maiores, como as redes a cabo”, disse Nathanson.

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Michael Cieply e Brooks Barnes, do New York Times