Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Em busca da paz perdida

O Brasil de 2013 apresentou um crescimento do índice médio de criminalidade superior em mais de 20 % ao do ano anterior, mas os esforços identificados no setor público para inverter essa tendência denotam, nesses primeiros dias do ano a presença de uma energia, identificada no foguetório da “virada”, positiva na busca da reconquista da paz perdida.

Ali e acolá, inclusive em São Paulo, desde a década anterior, diferentes núcleos educacionais desenvolvem projetos, ainda isolados, de cultura de paz. Por serem independentes, com orientação privada, eles não decolaram nem proliferaram no país mais por desinteresse do setor público, dos governos federal e estaduais, embora tenham dado sinais de vitalidade com a participação popular como o desenvolvido por instituição liderada por Prem Rawat, um monge ligado ao núcleo da paz internacional originário da Índia, mas baseado no Tibete, com o apoio da Fiesp-Federação das Indústrias de São Paulo.

A cultura de paz é o estímulo à amizade, a valorização de valores como solidariedade, honestidade, o culto ao trabalho e ao esforço coletivo. A grande mídia nacional parece andar na contramão da cultura de paz quando incentiva o individualismo. A cultura de paz passou a frequentar a mídia internacional ainda nos anos de 1960 depois que os Beatles, o maior grupo musical de rock de todos os tempos, passaram uma temporada na Índia, onde conheceram detalhes sobre a importância de uma nova cultura comportamental, que viria ao encontro dos anseios da juventude envolvida pelos embalos beatleanos mundiais. Hari Krishna passou a simbolizar o novo movimento cultural. E foi assim que um formato de cultura de paz começou a proliferar entre os jovens de todo o planeta. Paz e amor foram as palavras dominantes na juventude dos anos 60 e meados de 1970.

A violência no Brasil

Essa onda de pacifismo só foi possível graças ao movimento de contracultura simbolizado pelos hippies, que nasceu entre jovens da classe média dos países mais ricos do mundo, onde se pregava a liberdade sexual e se opunha ao de vida da classe média no planeta. Na música, além dos Beatles, Jimi Hendrix e Pink Floyd, Bob Dylan e Raul Seixas figuravam entre as estrelas desse movimento.

Nesse período a criminalidade varria os Estados Unidos. Foi quando, estupefatas com os crimes mais hediondos, em vários estados, as autoridades políticas introduziram a prisão perpétua e a pena de morte com a invenção da cadeira elétrica. As mortes na cadeira elétrica eram exibidas em cadeia nacional de TV para aumentar a onda de comoção sócio-política nos EUA e no exterior. Depois de 25 anos de aplicação da pena máxima para crimes de grande repercussão e frustrados porque o rigor na aplicação da lei não diminuiu a criminalidade, os norte-americanos dos estados aderentes passaram a adotar a política de cultura de paz. E obtiveram, com ela, cinco anos depois, uma grande redução na quantidade de crimes. Em estados proliferam escolas e universidades de paz, numa disseminação cultural sem paralelo no mundo. Ou seja: ficou mais do quer provada uma assertiva de Ghandi, segundo a qual violência só traz mais violência; só quem pode vencer a violência é a paz.

Entre os estados que apresentaram as mais altas taxas de homicídios em 2012 estão Alagoas com 55,3, Espírito Santo com 39,4, Pará com 34,6, Bahia com 34,4 e Paraíba com 32,8. Pará, Alagoas, Bahia e a Paraíba estão entre os cinco estados também que mais sofreram com o aumento da violência na década. No Pará, o número de assassinatos aumentou 307,2%, Alagoas 215%, Bahia 195% e Paraíba 184,2%. Neste grupo está ainda o Maranhão com a disparada da matança em 282,2% entre o ano 2000 e 2010. O Rio de Janeiro aparece em 8º lugar no ranking dos estados mais violentos, com uma taxa de 26,4. Um estudo oficial mostra, no entanto, que o número de mortes, por armas de fogo, está em declínio. De 2000 a 2010, os assassinatos a tiros no Rio caíram 43,8%. Em São Paulo a queda foi ainda maior, 67,5%, e o estado viu a taxa de homicídio baixar 9,3%. O estado, que no início da década passada estava entre os seis mais violentos, aparece desta vez na 24ª posição, atrás apenas de Santa Catarina, Roraima e Piauí.

Entre as capitais mais violentas estão Maceió, a primeira da lista com 94,5 homicídios por 100 mil habitantes. Logo depois vêm João Pessoa, com taxa de 71,6, Vitória com 60,7, Salvador com 59,6 e Recife com 47,8. São taxas bem acima da média nacional, 20,4, e dos níveis considerados toleráveis pela ONU, que giram em torno de 10 homicídios por 100 mil. Com uma taxa de 23,5, o Rio aparece em 19º lugar na lista. A cidade de São Paulo apresentou taxa de 10,4 e está na 25ª colocação.

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Reinaldo Cabral éjornalista e escritor