Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Intelectual, professor e ministro

‘Ainda há muito a fazer.’ Estas são as palavras com que o agora ministro da Educação, Fernando Haddad, conclui o seu livro Trabalho e linguagem – para a renovação do socialismo (2004). Embora retiradas do contexto, palavras extremamente significativas.

A renovação da educação, a linguagem da educação, o futuro da educação – sim, ainda há muito, muito a fazer. E por isso a pergunta: o que pode Fernando Haddad fazer pela educação? Ou melhor: o que Fernando Haddad quer fazer pela educação? Ou o que tentará fazer por ela?

Cauteloso ao falar, não possui a verve utópica de Cristovam Buarque ou o tom político de Tarso Genro. Sua postura intelectual, no entanto, o aproxima de Cristovam; sua eficácia administrativa no governo o aproxima de Tarso. E, por sua própria maneira de ser, distancia-se de Paulo Renato – não vejo nele um pingo do arrivismo do ministro de FHC.

A educação não é mercadoria, eis um princípio que é caro a Fernando Haddad, e pelo qual pagará o preço que for. Educação é bem essencial. É impagável. Seu olhar socialista volta-se para os estudantes de baixa renda. Seu olhar acadêmico exige qualidade de ensino. De fato, acredita na educação como instrumento que ajude a solucionar a crise social.

Boa vontade

O ProUni tem o seu rosto mais do que o de Tarso. Trata-se de um programa de inclusão. Parabéns. Mas… o aluno com dificuldades econômicas que enfrenta dificuldades intelectuais para disputar uma vaga na universidade pública… agora, na faculdade a que o ProUni lhe deu acesso, tem dificuldades econômicas (compra de livros, condução, alimentação) para aproveitar ao máximo a oportunidade oferecida. A professora Ana Estela Haddad, esposa do ministro, numa entrevista, disse a respeito dos resultados do ProUni o que revelam os números: ‘O número de matrículas é elevado, mas é grande também a evasão’.

Entendo a proposta e a aposta de Haddad. Ele espera que, no final das contas, as faculdades particulares se sintam chamadas à responsabilidade social, participem com renovado ânimo da construção de um país menos injusto. Contudo, estas faculdades, por mais que generosamente a todos se abram, pouco ajudarão a corrigir a exclusão que atinge tantos brasileiros desde a educação infantil.

O novo (também em idade) ministro da Educação tem imensa boa vontade, mas não conseguirá mitigar as contradições fundamentais do ensino se nos propuser apenas novos ‘prounis’.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; site (www.perisse.com.br)