Um país com mais de 80 milhões de jovens, 30% adolescentes, com cidades onde há poucas praças, áreas de lazer e centros culturais educativos.
Os grupos econômicos trouxeram os shopping, na década de 1970, dos países desenvolvidos, basicamente dos EUA, e os transformaram em centros comerciais para a expansão dos seus negócios. Enquanto os jovens iam aos shoppings em compras com seus pais, tudo bem, eram bem recebidos, não incomodavam. Contudo, quando a juventude do interior de São Paulo promoveu os primeiros cinco “rolezinhos” (que nada mais são do que visitas coletivas e apressadas) em shoppings paulistas, o mundo desabou. Autoridades brasileiras reuniram-se quarta-feira (15/01) em São Paulo, para “tomar uma providência para proteger o patrimônio empresarial”.
Houve, nas 72 horas a contar de quarta-feira, um grande esforço para criminalizar o “rolezinho”, sob o argumento de que as correrias dos jovens nos shoppings estavam afugentando clientes, promovendo roubos e criando um clima desfavorável à Copa do Mundo. Nada disso. As autoridades, reunidas com a Polícia Federal e a Associação Brasileira dos Shopping, falaram tudo, explicaram tudo, mas esqueceram de perguntar: por que os prefeitos, governadores e o governo federal não constroem praças, centros culturais e de lazer para a juventude? O que os governos têm contra a adolescência brasileira? E por que as empresas, tão ágeis na construção de shoppings para aumentar suas vendas, não usam suas habilidades para direcionar seus negócios para a estimulação da cultura e do lazer da juventude?
A estupefação da mídia
A antropologia tem uma explicação indiscutível: patrimonialista, a sociedade brasileira é basicamente punitiva. O secretário de Segurança de São Paulo sentiu-se ameaçado de demissão por ter dito a reunião que “o rolezinho não é caso de polícia”. Isso após ouvir de donos de shopping dizer que “se os rolezinhos continuarem vão mandar bala nos predadores”.
Os rolezinhos agendados nas redes sociais expressam a ociosidade dos adolescentes num país carente de canais capazes de valorizá-los. Estamos cada vez mais ensimesmados com nosso individualismo. Pensamos que basta pagar as contas ao final do mês e tudo está resolvido. Colocamos um computador na frente de um adolescente e continuamos cuidando do nosso dia-a-dia. Não sabemos o poder de comunicação que se abre a cada clicada.
Por isso, a estupefação da própria mídia com os rolezinhos talvez tenha sido mais surpreendente do que o fato gerador. Essa atitude midiática, coberta de surpresa, deveria ser uma rotina porque decorre de uma nova forma de olhar a própria sociedade. Quando os jornalistas começam a ver a mobilidade social com olhares sociológicos, todos saem ganhando.