Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A morte da ‘lenda’

A jornalista Albeniza Garcia, de 84 anos, morreu na manhã desta quinta-feira [16/1]. Albeniza foi uma das primeiras mulheres a trabalhar na cobertura de reportagens policiais. A jornalista trabalhou no GLOBO e em “O Dia”. Ao todo, foram 57 anos de dedicação tendo se aposentado com o surgimento dos primeiros sintomas do mal de Alzheimer. Albeniza morreu de insuficiência respiratória e broncoaspiração ao dar entrada no Hospital São Vicente de Paula, na Tijuca O velório está sendo na capela D do Cemitério São Francisco Xavier (Caju). Ela tinha três filhos e quatro netos. O enterro será [foi] às 17h desta quinta-feira [17].

Segundo relato do site da ABI, a trajetória de Albeniza começou aos 18 anos, quando ela procurou o então presidente das Organizações Globo, jornalista Roberto Marinho, para pedir uma vaga na editoria de Polícia do GLOBO. O empresário achou que a jovem franzina, com um metro e meio de altura, tinha mais jeito para fazer coberturas de chás-dançantes ou desfiles de moda. Mas Albeniza foi enfática: “Quero a Repol”.

Profissão de risco

Na carreira entre os prêmios mais importantes que conquistou estão Direitos Humanos da Sociedade Interamericana de Imprensa, em 1995 e pela série de reportagens “A infância perdida”; o Esso, com “Infância a serviço do crime”, em 1997, ambos em “O Dia”.

– O que dizer sobre Albeniza Garcia? Ela era ‘A Lenda’, simplesmente. A repórter de polícia que ajudou a formar cinco gerações de outros repórteres de polícia. A profissional na qual me inspirei no início de carreira, a quem eu observava atenciosamente para aprender, sorvê-la por inteiro. Como mulher, foi a grande mãe, a máxima avó, a guerreira imbatível que nunca se curvou aos problemas da vida. Albeniza foi, é e será sempre um grande exemplo para todos nós – descreveu a jornalista Hilka Telles, hoje em “O DIA”.

Ao longo da vida, Albeniza colecionou histórias na profissão. Um dos casos mais curiosos ocorreu no sequestro do empresário Roberto Medina no início da década de 90. O sequestrador, Maurinho Branco, ligou para “O DIA” porque desejava que a jornalista cobrisse a libertação de Medina. Albeniza pensou que fosse um trote e desligou duas vezes antes de ser convencida numa terceira ligação quem era o interlocutor. Por pouco, quase não acompanhou uma de suas grandes histórias da profissão.

– Estava começando no jornalismo quando conheci Albeniza. Nós a tínhamos como um símbolo de dedicação á profissão. A gente se lembra dela com muito carinho. Mesmo de mau humor, ela era engraçada. Ninguém esquece quando ela contrariada repetia : “Seu m…”. Virou um bordão – contou a repórter Adriana Cruz, de “O DIA”.

Hoje em O GLOBO, a repórter Vera Araújo recorda-se dos cinco anos em que chefiou Albeniza em “O DIA”:

– Era tão conhecida por gerações de policiais civis e militares que entrava nos gabinetes sem mesmo bater na porta. E era sempre bem recebida. Muitas vezes, para irritação de outros colegas com menos tempo de profissão que às vezes aguardavam horas por uma entrevista e não conseguiam ser recebidos. Mesmo com a idade, tinha uma vitalidade de fazer inveja. Era a primeira repórter a chegar à redação até mesmo antes de mim. Nem conseguia pautá-la porque já chegava com várias sugestões que rendiam grandes reportagens – disse Vera.

Para a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Paula Máiran, Albeniza representou uma parte importante da história da cobertura de assuntos de polícia no Rio de Janeiro. Paula, que trabalhou com Albeniza, acrescentou que a entidade pretende reunir documentos, fotos e outros objetos num esforço para preservar viva a memória da colega devido a importância dela no jornalismo:

– Foram cerca de 50 anos de carreira, acompanhada por várias gerações de jornalistas Albeniza era do tipo de repórter que nunca desistia de buscar uma boa história – disse Paula.

O jornalista Jorge Antônio Barros, de O GLOBO, titular do blog “Repórter de Crime” e da equipe da coluna de Ancelmo Gois, acrescentou:

– A morte de Albeniza é uma grande perda para o jornalismo. Foi uma das maiores repórteres de polícia do Rio de Janeiro e talvez do Brasil. Trabalhou numa época em que cobrir esse tema muitas vezes representava risco de morte. Vai nos deixar muitas saudades – disse.