Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Audiência, TV e jornalismo

Os últimos fatos relativos à queda de audiência do Jornal Nacional, e da clonagem do mesmo pelo Jornal da Record, devem impor reflexões sobre jornalismo e ética.

Se na medida que a novela da Record absorveu a queda de audiência do JN, (o ovo e a galinha: quem veio primeiro?), o JN muda sua metodologia – primeiro bloco de quase 30 minutos, e uma overdose de câmeras ocultas, e matérias que caberiam muito mais no Globo Repórter ou Fantástico, e paralelamente o JR clona na forma e na metodologia o JN, ambos em busca de audiência, a pergunta que se faz obrigatoriamente é : isso é fazer
jornalismo/noticiário? A lógica do jornalismo não abre espaço para a lógica publicitária da audiência? E se for assim as pessoas estão sendo iludidas na medida que a busca de noticias/ informações é respondida com a lógica da audiência/ publicidade?

Curiosa situação em que os detentores primários das boas matérias com câmera oculta são as policias e o MP. Na medida que delegados, coronéis e promotores, brilham nos JN e JR, isto pode induzi-los a focalizar seu trabalho por esta lógica – prejudicando tantas investigações que não produzirão imagens tão boas. É provável que tenha ocorrido uma troca de notícias/jornalismo por puro entretenimento-novela…

Se foi assim, do ponto de vista da ética jornalística e do respeito às pessoas não teria sido melhor reduzir o tempo do jornal e aumentar o do entretenimento sem mudar o caráter jornalístico do noticiário? E quem sabe ter inserções jornalísticas curtas – como comerciais – durante a noite (como faz a TVG com Cidade)?

Com a rejeição à política – aliás, um processo de longo curso – como se deve cobrir um fato político? Como novela? Como entretenimento (relembre Michael Deaver que assessorou Reagan)?

O fato é que se essa nova lógica – produzir a competição pela audiência naqueles espaços de noticias – estaremos num perigoso processo de desinformação ou negativa de informação. Aguarda-se que as faculdades e sindicatos entrem no tema.