Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Um recurso do povo para controlar violência policial

O canadense Steve Mann desenvolve o conceito de sousveillance, que significa vigilância inversa e é difundido pela mídia do capital como um recurso do povo de controlar a violência policial.

O conceito de Adam Smith – inicialmente moral – de auto-regulação de mercado, que deu na anarquia de mercado do crime financeiro global e hoje compromete o mundo, surge na raiz do paradoxo acima.

Por quê?

É pelo antagonismo entre capital e Estado-nação, hoje uma monstruosa ‘auto-regulação’ que inclui – é irônico! – a anarquia de mercado e o órgão estatal regulador do mesmo pelas imensas ajudas fornecidas às empresas em dificuldades.

Ora, o controle ou regulação do comportamento violento, de quem quer que seja, pelo ‘escuto-panóptico’, infere a sua origem como produto tecnológico dos meios de produção da empresa privada.

Entre nós, Cristovam Buarque o chamaria a ‘cortina de ouro’, como as grades colocadas mais e mais à frente dos edifícios, à película escura no vidro dos automóveis, os muros erguidos entre as classes mais ricas e as mais pobres, onde quer que seja.

Demagogia do capital

A notícia, por si só, é suspeita. Ela transmite que tal exclusão é boa porque pode ser usada para debelar a violência do Estado – sempre o Estado! – contra o cidadão. Mas esquece-se da violência do capital contra o cidadão!

O Estado, enquanto etapa histórica, deplorado pelo anarquista, contudo é admitido como mal necessário durante certo tempo pelo socialista. Quando ele, por industrializado e democrático, deve ser ampliado pela luta política com as reformas que o tornam mais e mais representativo de todas as classes sociais, principalmente a do proletariado.

A emancipação do último pela sociedade sem classes, com a sua dita subsunção, nos aponta a ‘qibla’ do sonho do socialismo global, aliás o único ambicionável, embora se compreenda a impaciência dos que lutam mais pontualmente, exasperados pela alienação dos trabalhadores das nações mais desenvolvidas.

Sem elas não há como atingir a meta e a maior delas, o seu território de transnacionais, está geograficamente alienado do mundo por dois oceanos.

A ‘vigilância inversa’ seria uma forma do Estado representativo do povo controlar abusos da sua mesma polícia? Ou o olho da demagogia do capital, que, do espaço paralelo está sempre a colocar os funcionários do Estado, enquanto seu refém, como o bode expiatório das consequências dos seus abusos invisíveis?

Mesmo aqui, encontramos Estado e ‘Estado’, no permanente antagonismo que confunde o povo pela mídia do capital. Que, por sua vez, nada oferece de melhor para substituí-lo!

Não seria assim?

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Médico aposentado, Rio de Janeiro, RJ